Disposto a aquecer no frio

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─ Está começando a nevar forte. ─ Falou o velho no qual no meio de nossa conversa citou que seu nome era Jess.

Nos prendemos num engarrafamento a umas três horas atrás, e por sorte ou terrível azar, os pingos de chuva começaram a se tornar flocos de neve. Os carros pretos e cinzas deixavam  LA um lugar quase tão cinza quanto NY. Era noite de feriado, e metade das pessoas estavam a fugir da cidade para o Santa Mônica ou Texas, e por isso do engarrafamento cercado de uma provável nevasca. Encostei meu braço no vidro frio olhando o asfalto se tornar branco, os ralos se lotarem de neve, as lojas de conveniências eram fechadas as pressas, e o vento carregava os flocos para o rosto das pessoas que passavam na rua. Era Março, e Angeles nunca esteve tão gelada desde 2005. Era meio improvável que ela estivesse acordada ainda ou de alguma forma esperando uma ligação minha. Nada era provável, nem a nevasca que era óbvia era provável. Mas logo a cidade se afundaria em neve e nós não nos veríamos amanhã por não conseguir sair de carro. Eu sabia o que tinha que fazer, e o que aconteceria se eu não fizesse.

Então eu simplesmente fiz, sem excitar, recuar ou pensar muito como eu sempre faço. Abri minha carteira e o entreguei uma nota de cinquenta, e basicamente saltei da porta pra fora. Ele não perguntou sobre o troco, entendeu o recado. Eu iria atrás da minha garota, eu iria a aquecer nessa noite fria. Eu simplesmente iria ser quem ela estava aguardando, e foda-se os outros eu estava disposto a ficar com ela.

─ Cuidado com a neve! ─ Me alarmou um homem dentro de uma camionete estilo 1985 verde ao me ver passar correndo pela janela do teu carro. Os flocos congelados batiam em meu rosto, e pude sentir meu cabelo se congelar. Minhas mãos tremiam e logo minhas pernas eram algo que eu não conseguia sentir.

Eu corria muito, mas o frio não me permitia suar. Meus lábios estavam se cortando enquanto tremiam para se esquentar. Faltava pouco, e os carros parados na estrada não conseguiam me atrapalhar. Os postes de luz refletiam a sombra dos pequenos gelos que caíam do céu. Eu estava no final da rua de sua casa me aproximando mais e mais.

Ao passar pela casa 102 eu parei de correr quase caindo no piso escorregadio da calçada do vizinho de Edwards. Eu andei até o meio da rua, e me centralizei na linha amarela pintada no asfalto. A luz do seu quarto estava ligada e a janela aberta.

Por um momento eu pensei "Ela está acordada, ela me esperou de alguma forma, e eu estou aqui. Eu vou ter ela para mim mesmo que só uma noite."

Por um momento eu tinha ficado feliz e imaginado que nós dois havíamos sido sim destinados um para o outro.

Ela apareceu na janela, estava enrolada num roupão branco segurando sua caneca do Batman. Ela começou a olhar para o vento trazendo a neve e começou a direcionar o olhar pra baixo.

Meu coração começou a palpitar desesperadamente, ela me veria e eu poderia falar com ela tudo o que estava sentindo.

Mas ela não olhou...

Ela não teve a chance de me ver...

Porque ele...

Ele estava lá com ela, e a abraçou por trás, o que levou ela a se virar para ele.

E por um pequeno momento, o meu mundo caiu de minhas mãos e o universo gritou o qual errado eu estava. Ela não sentia o mesmo que eu, e eu jamais seria o cara certo pra ela.

Então Alex, rezo para que cuide dela. E faça tudo aquilo que eu não pude, porquê eu sim fui o hipócrita de pedir para ela não me amar enquanto eu já a amava.

Time to get MarriedOnde histórias criam vida. Descubra agora