Capítulo 1

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Minhas pernas tremiam enquanto eu encarava a água escura abaixo de mim. O forte vento me convidava para saltar da ponte, e de certa forma estava me convencendo.

Arranquei o colar e joguei-o para o alto, assim que o fiz me lancei para frente, saltando da ponte. Saltei em direção a minha morte.

Meus olhos fechados se abriram quando senti o impacto do meu corpo na água. Meu desejo era que a água penetrasse em meus pulmões o mais rápido possível, então respirei, e minhas mãos involuntariamente alcançaram meu pescoço, como se as mesmas tentassem impedir que a água passasse em minhas vias respiratórias. No meio da escuridão avistei uma criatura se aproximando, seus olhos eram vermelhos, mas antes que pudesse alcançar meu corpo, o mesmo desfaleceu.

***

— Está me ouvindo! — ouvi a voz de um homem que logo sacudiu meu corpo.

Abri meus olhos, e pisquei algumas vezes tentando me acostumar com a claridade, quando avistei o senhor, ele estava com seu rosto bem próxima a mim, estava assustado, os olhos arregalados.

— Eu estou morta?

— Espero que esteja muito longe da morte — afirmou.

Sentei-me com a ajuda do senhor, e encarei a ponte onde havia saltado, e lá podia visualizar um homem sentado com as penas balançando no ar, ele olhava em nossa direção, seus olhos vermelhos como a criatura que visualizei dentro da água.

Apontei em direção a ele, e perguntei ao senhor.

— Foi ele? Foi ele quem não me deixou morrer?

O senhor acompanhou para onde apontava, voltou seus olhos novamente para mim, então disse.

— Dizem que quando alguém chega próximo à morte consegue enxergar o anjo que a salvou.

— Mas ele não tem asas senhor, e seus olhos são vermelhos.

O Homem novamente olhou em direção aonde apontava e então fez o sinal da cruz.

— Vou chamar a ambulância, você precisa de uma consulta médica.

***

Depois desse dia, a criatura de olhos vermelhos não foi à única que consegui visualizar, muitas outras apareceram. Muitas outras vieram me atormentar.

O colar que eu havia jogado para o alto no dia em que tentei me matar, foi minha avó quem fizera, tentando me proteger dessas criaturas. Eu estava tão cansada de saber que era a estranha, que era a prometida de algum demônio, que o sangue que corria por minhas veias seria o alimento de um deles.

Meu pai fugiu muito antes, quando descobriu que minha mãe via criaturas como eu vejo. Tentando se mantiver segura prometeu a única filha ainda em seu ventre para o demônio, que a protegeu até que então não aguentou e se matou. Se matou como eu também tentei, porém ela obteve sucesso.

A única pessoa que podia me proteger, era minha avó, que fez o talismã a qual joguei fora. Tinha sido completada uma semana que enterrei seu corpo, quando tentei me matar.

Quem era a criatura que impediu que eu me matasse? A criatura estranha de olhos vermelhos que estava longe de ser um anjo.

Minha avó havia me dito que eu deveria fingir que não os via, fingir que não via espíritos e muito menos os demônios, mas não era tão fácil como ela sugeriu.

Caminhava apressadamente pela calçada, até que fui obrigada a parar quando uma criatura ficou em minha frente sorrindo bestialmente.

Testei dar um passo para frente, fingindo que não a via, mas meus pés travaram. Meu coração estava disparado, eu demonstrava medo.

Ela me empurrou com tamanha força que bati no poste atrás de mim.

Abri minha bolsa em busca de um talismã em papel, com escritas desconhecidas, mas que me prometia proteção dessas criaturas. Porém antes que eu o localizasse dentro da bolsa, a criatura mostrou seus dentes afiados e levantou suas garras, assim fez um corte em meus braços. Respirou profundamente sentindo o cheiro do sangue da prometida.

— Afasta-se! — alguém ordenou para a criatura, e com o barulho de um estalo de dedos a criatura em minha frente desapareceu, ficando apenas o homem dos olhos vermelhos.

— Quem é você? — pela primeira vez consegui questiona-lo.

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