Era estranho estar em uma casa, que supostamente era minha, mas que eu não possuía lembranças.
Fechei meus olhos, eu não queria adormecer, mas após uma discussão com meu suposto pai, eu sentia como se meu corpo precisasse descansar, recuperar as energias gastas.
Quando abri meus olhos, ainda sonolenta, vi uma grande criatura me observando nos pés da cama, até mesmo nesse corpo eu podia ver criaturas? Apalpei pela cama na tentativa de encontrar algum talismã feito a papel como eu sempre deixava em minha cama na atualidade, porém não encontrei, mas felizmente a criatura desapareceu antes que tentasse algo contra mim.
Um sentimento de medo e angustia tomou conta de meu corpo, não era exatamente o sentimento que eu Julie sentia, até por ser acostumada a ver essas criaturas, mas era um sentimento que vinha do meu corpo de agora.
Antes que eu pudesse continuar com meus devaneios interno, novamente meus olhos se fecharam, quando os abri já era manhã, a claridade do sol já invadia meu quarto.
Juntei-me ao meu pai para a primeira refeição do dia, a mesa já estava farta, porém os servos continuavam trazendo alimentos.
— O senhor sabia que a família Withers pertence a uma linhagem de bruxos e que você está impedindo a filha dele de se casar com o príncipe, colocando em risco a vida de nossa família? — questionei.
Seus punhos se fecharam sobre a mesa, mas não me ofendeu apenas disse.
— Não se preocupe, não farão nada contra nossa família. Já dei ao filho a chance de conquistar algo nessa vida, então não farão nada contra nós.
— O que o senhor deu ao filho? — meus pensamentos foram direto a Demétri, o que ele ganhou para supostamente deixar minha família segura?
— O tornei seu cavalheiro, ele nunca conseguiria chegar nem mesmo perto do reino se continuasse sendo conhecido apenas como pertencente de uma família de bruxos.
— Por que as bruxas conquistaram uma morada?
— O rei tentou fazer as pazes, melhor não guerrear com seu inimigo — ele sorriu e eu fiz o mesmo. — Preciso resolver alguns preparativos de seu casamento, logo estarei de volta. — falou se levantando.
Continuei sentada a mesa e olhando para os servos falei.
— Está deliciosa, porém é muito. Podem comer também.
Levantei-me, mas meus pés travaram quando uma criatura apareceu em minha frente. Fechei meus olhos e a atravessei, não olhei para trás para confirmar se ela ainda estava.
Dante me esperava do lado de fora da casa.
— Já está aqui — falei.
— Nunca mais me dê as costas como ontem, estou aqui para te proteger.
— Pena que não pode me proteger dessas criaturas — falei vendo mais de longe outras me encarando.
Dante se virou para ficar de frente para mim, sua feição demonstrava preocupação.
— Você está vendo coisas? — apenas assenti. — Como elas são? — questionou.
— Grandes, suas garras como os dentes poderiam acabar com um humano facilmente.
— Eu estou aqui não precise ficar com medo.
— Não deveria mesmo, porém essa versão de mim está apavorada.
— Pegue... — Dante estendeu suas mãos e na palma da mesma havia um colar. Meus olhos se arregalaram quando o fitei.
— O colar que minha avó me dera?
— O que? — ele perguntou.
— Como conseguiu isso? — perguntei já segurando e olhando ainda mais de perto para confirmar.
— É apenas um colar comum que comprei, porém coloquei alguns pensamentos nele que te protegerá de ver coisas que minhas irmãs estão fazendo para lhe perturbar.
— Então foi você que o fizera e não minha avó?
— Sim fui eu, mas... Pensei que você não havia conhecido seus avós.
— Obrigada Dante — sorri e rapidamente beijei seu rosto. Dante não se moveu quando o fiz, apenas engoliu em seco e se afastou de mim como se o que eu fizera fosse proibido.
Segurei o colar na direção do sol, com isso podia visualizar minha avó nesse colar, por mais que não foi ela quem o fizeram, era esse colar que me trazia sua lembrança.
Olhei para Dante que agora me lançava um olhar curioso.
— Dante — falei.
— Diga — incentivou.
— Não sinta raiva de sua família, vamos resolver isso diferente. Melhor não guerrear para não os tornar como inimigos.
— Não se preocupe, não sinto raiva de minha família.
— Continue assim — sorri para ele, e Dante desviou seus olhos dos meus e encarou o próprio cabo da espada, mostrando nitidamente que tinha sentimentos por mim, mas que tentava recusar os próprios sentimentos.
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Talismã
FantasiDesde seu nascimento Julie se vê amedrontada por criaturas que ninguém mais via. Prometida antes mesmo de seu nascimento. Uma criança que carregava consigo o sangue a qual todos os demônios se veem tentados a possuir. A mulher que com a ajuda de sua...