Capítulo 2

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Seus olhos vermelhos me encaravam com desaprovação.

— Tentou se matar — falou.

— Foi você? Você que me salvou?

— Não pense que dessa forma, não pense que eu lhe salvaria. Estou apenas guardando seu sangue.

— Demônio? — perguntei.

— Demônio, criatura bestial, ou criatura de olhos vermelhos como você mesmo diz.

— Você consegue ler meus pensamentos?

— Estou presente em sua vida há muito tempo, mesmo que aquela senhora tenha lhe feito um colar, aquele colar só impedia que você nos visse, contudo sempre estivemos próximo a você.

— Você vai levar minha alma?

— Você quer ir agora?

— Bem, você impediu minha morte, então deverá aguardar mais tempo agora — passei por ele e segui em diante, porém percebi que ele acompanhava meus passos.

— Nos podemos acelerar ao menos, mas diga-me qual motivo de querer permanecer viva agora.

Não respondi sua pergunta, mas falei irritada com sua perseguição.

— Eu não lhe conheço, e não estou lhe pedindo para me acompanhar ou para me proteger. Então vá.

— Eu gostaria muito de ir, mas infelizmente não posso.

Parei de caminhar e encarei-o. Senti as lagrimas percorrem pelo meu rosto, então gritei.

— Vá! É o que as pessoas fazem! Elas me abandonam, já estou acostumada.

— Não é que eu não queira, mas tem outras criaturas querendo seu sangue.

— Diga para todos, que vão ter que esperar para possuir meu sangue.

— Como se fosse fácil pedir para os outros.

— Então vá você. Consigo me defender.

— Percebi isso, minutos atrás quando quase foi devorada.

— Eu estava sem meu talismã — abri a bolsa e então o encontrei. — Aqui — mostrei o papel com as escritas que prometia me manter a salvo.

Ele se aproximou já com um sorriso no rosto.

— Você acha que esse papel vai te manter a salvo das criaturas que querem seu sangue?

Estendi em sua direção.

— Tente algo contra mim.

Ele segurou fortemente meu braço a qual segurava o papel e o abaixou, seu corpo veio próximo a mim, e agora podia ver seus olhos vermelhos ainda mais próximo de meu rosto.

— Sabe do que isso te protege?

— Talvez não de criaturas como você, mas me protege de espíritos.

— Não é de espíritos que você precisa de proteção! — ele gritou.

— Eu preciso de proteção de você — sussurrei.

— Acredito que realmente precise. Seu corte ainda está aberto e eu estou me controlando para não tomar seu sangue. Então realmente acredito que precise de proteção.

Afastei-me dele, e coloquei uma de minhas mãos em cima do ferimento.

— Espere exatamente aqui — falou, e então desapareceu.

— Esperar aqui? Até parece.

Voltei a caminhar, só queria chegar até minha casa, colocar a cabeça no travesseiro e tentar sonhar com algo bom. Se é que a minha mente ainda fosse capaz de criar algum universo bom em meus sonhos.

Estava quase chegando até minha casa, quando fui surpreendida com a criatura de olhos vermelhos esperando-me em pé no portão.

— O que está fazendo aqui?

— Não lhe encontrei onde havia pedido que me esperasse, então vim para sua casa — ele estendeu uma sacola plástica em minha direção.

— O que é isso? — perguntei.

— Pegue logo antes que as criaturas apareçam por causa do seu cheiro.

Peguei a sacola de suas mãos e então sorri. Ele havia me trago curativos e remédio para colocar no corte em meu braço.

— Está tentando conquistar um lugar no céu? — questionei.

— Estou tentando não me cansar. Acha que é fácil protegê-la?

— Não entendo o porquê meu sangue é tão bom assim para vocês.

— Pelo cheiro de seu sangue, algo misterioso corre por suas veias, talvez em alguma vida passada você possa ter sido importante.

— Possa ter sido?

— Todos sabemos que nessa vida você não é.

— Acredito que seja, todas as criaturas me querem. Alguma importância devo ter, não acha?

— Tem razão, agora entre.

Revirei os olhos e antes de entrar perguntei.

— Ei criatura de olhos vermelhos! — ele me encarou. — Você tem nome?

— Demétri. Me chamo Demétri.

— Boa Noite Demétri.

— Não se mate Julie.

— Não tenha dúvidas, não o farei.

Foi a primeira conversa que tive há muito tempo, de alguém que não era meu familiar.

Ninguém gostaria de fazer amizade com alguém que morava em um lugar bizarro, cheio de talismã por todas as paredes. Ninguém faria amizade com alguém que pode ver criaturas, ninguém faria amizade com alguém como eu.

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