Don't Touch Me!

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Algo escorre pelo canto do meu olho esquerdo, eu não sinto muita coisa além disso. Está escuro, ou são meus olhos que estão fechados? Eu não sei... Há uma linha tênue entre a sanidade e a loucura, a dor e a felicidade, a fé e a descrença... A realidade e a ilusão... No entanto, parece tudo tão real que me prendo a isso por alguns instantes, no arcos íris que tem sob o céu azul e o ar fresco batendo em meu rosto. Não há ninguém por perto, me sinto livre, leve, pela primeira vez em tempos, a paz reina dentro de mim. Olho pro céu azul, é tão lindo... A grama verde embaixo do meu corpo é macia e confortável. Sorrio sentindo outra vez algo escorrer por meu olho direito

Bip... Bip... Bip...

Ouço algo apitar e a visão fica um pouco turva. Ouço vozes fracas ao longe, minha visão escurece completamente e sou capaz de sentir meu corpo

-Hm... - resmungo sentindo dores no corpo, é como se eu tivesse sido esmagado. Saudade da minha mãe, Takuya... Oh céus, onde fui me meter?

-Amor? - ouço uma voz masculina perto de mim e sinto uma mão pegar a minha

*-Por favor...!*

Oh não, não, não. Qualquer coisa menos isso. Arranco minha mão da dele e me afasto, porque estou tão lento? Será que eles me doparam? Arranco os tubos do meu braço e novamente, sinto ao escorrer por ele

-Minhyuk não, se acalma, sou eu... - me arrasto pela cama e despenco no chão. Oh porra isso dói! Me encolho no chão, não sei onde estou, com quem estou, só sei que quero voltar para aquela realidade novamente, eu não quero ficar aqui. Onde está minha família? Alguém segura meu tornozelo

-Não... Toca em... Mim! Socorro! - minha voz sair baixa e arrastada, respiro fundo tentando mais força para pedir ajuda - SOCORRO!!! - berro

-Por favor, não me machuquem. Por favor, peguem o que quiser, me deixem em paz

-Apaga essa bichona porra!

-Por favor - eles abaixam minha calça - NÃO, ISSO NÃO!!! SOCORRO, SOCORRO!!!

-Calma Amorzinho, nós vamos te ajudar - eles riem enquanto me debato na cama...

-Por favor para - soluço - não toca em mim, por favor! Não... - chuto o nada para mantê-los longe

-Se você for uma boa menina o titio Leitinho pra você - meu estômago embrulha e eu vômito no chão

-Argh por favor, não... Me toca

-Eu nunca machucaria você... - uma outra voz chorosa e grave diz

-Você está precisando de um trato pra deixar de ser viado. Papai cuida disso pra você... Oh!

-Não me toca... Não... NÃO! NÃO! NÃO! ME SOLTA! NÃO TOCA EM MIM - berro com todas as minhas forças quando mãos me seguram, alguém me ajuda por favor, não deixa eles tocarem em mim! Aí! Alguém me furou! Porque não consigo abrir os olhos?

Por favor...

-Não toquem em mim, não... Não, de novo não... - a sonolência me toma aos poucos, luto para não dormir mas apago em segundos...

                 ××××

Cao Lu, a médica que pegou Minhyuk insere o sedativo no soro e permite que eu fique no quarto com ele. Ainda não tomei coragem de avisar seus amigos ou parentes, eu assumo toda a minha culpa mas estou vulnerável demais sem minha criança, qualquer tipo de palavra negativa dirigidas a mim irá me abalar profundamente, porque sei que estarão certos. Vejo a movimentação lenta de Minhyuk na cama um tempo depois, bem depois, dentro de três à quatro dias minha criança deu sinais de que estava recebendo bem o tratamento e foi isso o que me deu esperança. Me aproximo de sua cama segurando sua mão, ele parece perturbado de repente, o que há meu pequeno rebelde?

-Amor? - visivelmente espantado me assusto quando ele pula da cama arrancando os tubos do braço e consequentemente se machucando, o sangue escorre por seu braço ao tempo em que ele cai da cama. Não vou mentir, fico em choque quando Minhyuk se espreme contra parede como se quisesse passar por ela só para fugir de mim ao menos sem me ver enquanto berra a plenos pulmões. Mesmo espantado me aproximo para tentar fazê-lo abrir os olhos e me ver mas acho que isso só iria piorar. Eu jamais te machucaria meu amor, eu só quero que fique bem. Ele chuta para que ninguém se aproxime e implora distância, acho que de tanto berrar, irrita a garganta tossindo e acaba vomitando rastejando no chão. Fico tão horrorizado que não mexo um músculo sequer para ajudá-lo quando os enfermeiros e a medica dele entra para enjetar algo em seu soro. Minhyuk está em um estado deplorável, o que fizeram com você criança?

-Você está bem? - Lu pergunta, assinto com a cabeça observando seu corpo se contorcer na cama e parar - seu noivo está tendo alucinações, as vezes o calmante faz as pessoas terem esse comportamento. Mas diante de tudo o que ele passou... É um comportamento normal

-Normal é tudo o que Minhyuk não está - saio do quarto, preciso de ar. As cenas de alguns minutos atrás irrompem em minha cabeça rebobinando sem parar. Respiro fundo mandando oxigênio para dentro, porque não teimei com ele insistindo para acompanhá-lo como sempre faço? Porque fazer isso com Minhyuk?
Alguém acaricia minhas costas e me viro identificando Cao Lu sorrindo, não sou capaz de retribuir, e mesmo que fosse, não faria.

-Hyunwoo, Minhyuk ficará bem, confia em mim - desce acariciando meu braço

-Eu confio nas reações dele - olho pro jardim à frente, minha criança adora jardim, ficará feliz quando ver este

-Posso te pagar um café?

-Não.

-Vamos lá Hyunwoo, é só um café, não vai te morder. E Minhyuk ficará bem

-Seria melhor você parar de se jogar para cima de mim, sou comprometido e não tenho interesse em outra pessoa a não ser o Minhyuk - sou curto e talvez um pouco grosso mas já está me dando nos nervos

-Eu entendo que esteja chateado mas... - me afasto tirando a mão dela de mim

-Não tem mais, nem menos, já tenho problemas demais para lidar com mais um. Cumpra sua função sendo profissional, se não puder, me avise que procuro outra pessoa. - volto para dentro me direcionando para o quarto de Minhyuk, abro a porta e encontro minha mãe lendo uma história pra ele. Sorrio com a cena. Onde você está criança? Volta pra mim, eu sei que nesse mundo parece tudo mais colorido, tudo mais lindo, inocente e calmo, mas sim, eu sou egoísta demais para te querer nesse só para mim. Eu errei com você quando mais precisou de mim, mas eu te imploro: não me deixe.

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