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00:46

- Já esta tarde Harry, vou embora.
- Fica mais, aproveita que Marie dormiu. - me aproximo dela
- Melhor não. - ela se afasta - Me leva até a porta?

Bufo e sigo-a até a porta, ela novamente encosta sua bochecha na minha e sussurra no meu ouvido:

- Adeus... - ela volta a me encarar e da um sorriso fraco
- Só isso?
- Quer mais o que?
- Isso. - a abraço - e não diga Adeus, eu vou te visitar.

Ela sorri, arruma o casaco e atravessa, fecha a porta sem olhar pra trás.
Entro, apago as luzes do andar de baixo subo as escadas, verifico Marie novamente e entro no meu quarto, que fica do outro lado do corredor.

______

MARGOT.

Escuto um estrondo enorme na cozinha.
- SARAH? - grito minha irmã - SARAH?

Ela aparece sonolenta no meu quarto.
- O que foi? Pra que gritar?
- Você tava na cozinha?
- Não!
- Você não ouviu um barulho? - levanto já desesperada - foi muito alto.

Ela vem até minha direção se afastando da porta. A gente ouve barulhos de passo vindo pro segundo andar, então Sarah corre e fecha a porta do quarto e fica com o ouvido encostado na madeira, pra poder ouvir qualquer tipo de coisa que pudesse vir do outro lado.

- Tranca! - sussurro
Clic!
- Liga pra polícia. liga logo.

Estávamos sussurrando ainda, quando a maçaneta da porta gira na tentativa de abrir. Entramos em desespero. Não podia ser nossos pais, eles iriam fazer plantão até tarde aquela noite, e eles sempre ligam quando saem mais cedo. A pessoa do outro lado da porta esmurra a porta.

- LIGA PRA POLÍCIA MARGOT - Sarah grita - LIGA!

- Alô, qual sua emergência?
- ACHO QUE INVADIRAM NOSSA CASA, EU E MINHA IRMÃ ESTAMOS NO QUARTO. POR FAVOR VEM LOGO.
- Qual seu endereço senhora?
- Av. 14 número 4567
- Ok, estou mandando uma viatura agora mesmo. Vão pra janela mais próxima e joguem seus chinelos por lá, e se escondam dentro do armário. Estamos mandando a viatura mais próxima, 3 minutos estão aí.

- ...
- Senhora? Ainda está aí?
- Sim - sussurro - Estamos dentro do armário, ele conseguiu abrir a porta. Ele está aqui.
- Você consegue ver o rosto?
- Não, está coberto.
- A viatura chegou. Eles estão com a cirene desligadas, sem pânico que vocês vão sair salvas dai. Eles estão entrando, ele está aí ainda?
- Si... Sim.

POLÍCIA, PARADO.

Não vejo mais nada, vejo tudo girar e caio no colo de Sarah, vejo o armário abrir e tudo fica escuro.

6:45

Acordo, olho ao redor, vejo que estou em um hospital.
Minha mãe caminha até mim, sorrindo.
- Está tudo bem agora. Prenderam ele.
- Viram quem era?
- Sim. - ela desvia o olhar por alguns segundos - Ele já está preso.
- Quem era?
- Não conhecíamos, mas a polícia disse que ele mandou um recado.
- Qual? - me ajeito na cama
- Que estava lá pra matar vocês. E que não era só ele, então vão tentar novamente. - ela engole seco - A polícia já resolveu.
- Como assim já resolveram?
- Eles vão ficar de vigia durante os próximos dias.
- Ah. - passo a mão no pescoço, reclamando de dor no mesmo. - Cadê a Sarah?
- Está ali, com o Sebastian. - ela aponta pra porta.

Aquela não era a primeira vez que aquilo tinha acontecido. Uma vez estava voltando da faculdade quando escuto passos acelerados atrás de mim, não arrisco virar, só entro no primeiro táxi e vou embora.

Depois da morte de Clarice muitas coisas aconteceram. Recebo ligações constantes, sou perseguida quase sempre no caminho pra faculdade. E sem contar que muitas pessoas se aproximaram de mim.

- Mãe quando eu receber alta, podemos ir visitar o Jhon?
- Claro.

Jhon é o pai de Clarice, eles moram juntos desde quando ela tinha 14 anos, quando sua mãe morreu. Ela o amava mais que tudo, e eles eram melhores amigos. Foi torturante ver o sofrimento dele, foi a pior coisa de se passar além da morte dela.

______

HARRY.
7:46

Acordei com Marie chorando muito, ela nunca chorou assim, não essa hora da manhã. Era um choro agudo e dava pra perceber que não era por fome, pois ela sabe ir até meu quarto sozinha.
A pego no colo secando suas lágrimas, e beijando sua bochecha.

- O que foi? - a coloco de pé na minha frente - conta pra mim.
- Eu tive um pesadelo... com a mamãe. - ela passa a mão no rosto - ela estava na cadeira me olhando e me disse coisas estranhas.
- Você sentiu medo?
- Muito papai, muito. - ela chora mais - A mamãe nunca mais vai voltar né? Ela me disse isso, e disse que ia me levar com ela.

Travei.

- Claro que não, ela nunca vai te levar.

Ela me abraça forte e volta pra cama, durmo ali mesmo com ela.

9:40

Telefone toca.

- Alô?
- Harry?
- Pois não, com quem eu falo?
- Margot, lembra? Estive com você recentemente. Te entreguei a carta da minha amiga.
- Ah sim! - levanto e corro pra fora do quarto - O que você precisa?
- Você deu uma olhada no quarto dela? Pode ser que tenha pistas, sei lá, eu não posso entrar lá. Não sozinha.
- E você quer que eu vá com você? - irônico - Sabe que tenho que fazer isso sozinho né? Não posso ter ninguém que não seja da polícia, e os parentes dela.
- Ela era minha amiga. Tenho a obrigação de ajudar nisso, pelo menos de alguma forma.
- Não precisa, o trabalho fica com a gente agora. Qualquer coisa a gente avisa você.
- Mas... só mais uma coisa. - ela pausa por alguns segundos - Você acha que ela se matou pra proteger alguém? Ou por algum motivo emocional?
- Não posso falar nada por enquanto.
- Ok. Até mais.
- Até.
Desligo.

Me arrumo pra ir trabalhar e sento ao lado de Marie, até Joana chegar.

E percebo o quanto é bom ser pai de uma menina, por que ela só tem a mim, e é minha obrigação cuidar dela. A melhor coisa do mundo é ter a sorte de ser amado incondicionalmente por uma criança.

Joana chega, beijo sua testa e saio em disparada em direção a casa onde Clarice havia se suicidado.

Caso 19 - H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora