Nossa Lei

6

Dias depois

Lívia narrando:

Tudo estava indo bem por aqui, eu já havia me adaptado a minha nova casa e estava gostando de morar no Vidigal, conheci muitas pessoas no trabalho e todos se simpatizaram comigo. Estava gostando de tudo mesmo.

A única coisa que me incomodava eram os traficantes, na verdade eu tinha medo de tomar um tiro no meio da cara, por isso sempre andava apressada quando passava perto da boca.
Tinha um garoto que sempre estava rodeando a Brenda, um tal de Menor, ele até conversava comigo as vezes, mas sempre ficava receosa por ele ser um soldado.
Estava descendo o morro, tinha acabado meu turno no posto e já estava indo embora e o sol  estava se pondo, quando olhei pro lado da boca tinha um rapaz alto, de pele morena bronzeada me encarando, ele segurava uma arma enorme, quando fui chegando mais perto percebi que era Cauã o irmão da Brenda.
Mas como assim ele também era traficante? Meu Deus eu fui na casa dele e a maluca não me disse nada.

Cheguei em casa troquei de roupa, tomei um banho, comi umas besteiras e peguei meu celular preciso esclarecer isso com minha amiga. 

Wattsap on:

— Ei miga.

— Fala sumida.

— Tem como você vir aqui rapidinho?

—  Tem sim, vinte minutinhos.

— Tá bom. Beijo. 

Off:

Depois de uns minutos Brenda adentra minha sala com sacolas de compras nas mãos.

— Pra que isso tudo maluca?

— Brigadeiro e sorvete. — Ela respondeu passando por mim e indo para a cozinha. 

— Tudo que eu precisava — Disse indo atrás dela e fuçando as sacolas — Mas eu não te chamei aqui pra isso. — Fiquei séria e cruzei os braços.

— Grossa! Me chamou pra que então? Não é pra gente fazer coisas de amigas?

— É que hoje quando eu estava voltando, vi seu irmão lá na boca, com os traficantes. 

— Ué, deve que ele estava só conversando, ele conhece alguns soldados e.... er... — Ela me diz toda atrapalhada, ela estava mentindo, conheço a Brenda. 

—  Ele estava armado, Brenda não mente pra mim. — Ela suspirou e me puxou pra sentar.

— Amiga, o Cauã é do movimento, na verdade é ele quem comanda o tráfico no Vidigal. — Levei as mãos na boca perplexa.

— O que? E porque você não me disse ? Eu fui na tua casa e você não me contou nada Brenda, você sabe que eu não curto essas coisas. 

—  Se eu tivesse falado eu sei que você não ia querer vir pra cá, e mesmo se viesse não ia nem por os pés na minha casa, eu sei que você não está acostumada com isso.

— Você devia ter falado a verdade.

— Desculpa Lívia, mas olha Cauã é uma boa pessoa, ele nunca faria mau pra alguém inocente.

—  Tá bom Brenda me desculpe também, por julgar seu irmão.

— Amiga está  tudo bem.— Nos abraçamos depois fomos comer nosso brigadeiro e o sorvete entre risos e fofocas.

Cauã narrando:

Desde o dia que vi Lívia pela primeira vez não parava de pensar nela, ela havia me chamado atenção, mas depois daquele dia ela não apareceu mais lá em casa, todos os dias eu ficava admirando ela de longe quando ela passava perto da boca pra ir pro postinho, ela nunca me via, ela nem olhava os traficantes que ficavam na porta, ela parecia não se importar em chamar atenção deles. Pena que ela era amiga da minha irmã, acho que eu não teria chance.

—  Está pensando em que Cacá?

— Na Lívia...

— Vish Cauã, já está afim da garota? Sem tempo pra você. — Bruno disse debochando. 

— Sei lá, talvez. — Respondi pensativo.

— Ela é linda mesmo, vai chegar nela?

— Por enquanto não, ela não apareceu mais lá em casa, e eu ainda não troquei meia dúzia de palavras com ela. 

— É, pensando por esse lado, se você chegar sem mais nem menos, ela não vai entender nada, e tu pode até levar um fora. 

— Relaxa Brunão, na hora certa, Cauãnzinho aqui entra em ação — Falei passando a mão nos cabelos. 

— Eu estou ligado meu parceiro.— Bruno disse sorrindo. 

Quando deu no relógio 18:15 eu saí da boca e fui pra casa, no caminho encontrei Duda, ela olhou pra mim e fechou a cara, juro que as vezes não consigo entender as mulheres.

 Quando cheguei em casa a única coisa que queria era poder comer alguma coisa,  estava morrendo de fome, estava de olho no celular resolvendo  uns problemas de carga com WM, estava tão concentrado que acabei trombando em Lívia quando entrei na cozinha, ela me olhou assustada.

— Des... desculpa Cauã, não te vi. — Ela respondeu rápida e um pouco sem jeito. 

— Tranquilo Lívia, eu que estava distraído e não vi você. — Sorri. — Se machucou?   

— Não. — Ela respondeu ainda parada em minha frente, bloqueando o caminho, só então me dei conta que estava com o fuzil atravessado nas costas, droga! Ela estava com medo, por isso a reação... Quando eu ia tentar achar uma desculpa Brenda apareceu, ela vai querer me matar por ter dado esse vacilo.  Olhei para minha irmã e cocei a cabeça meio sem graça.

— Oi maninho, chegou tarde hoje. — Ela falou despreocupada e olhei pra ela sem entender. — Ela já sabe Cauã, ela viu o senhor traficante na boca hoje, armado.— Brenda diz e me dá um beliscão. — Já esclareci tudo com ela. 

— Melhor assim né — Olho para Lívia que se encolheu. — Lívia as coisas não são assim do jeito que você está pensando, eu não sou um assassino, um cara mau, que sai por aí tirando a vida de todo mundo, principalmente de gente inocente, pode ficar tranquila que não sou uma ameaça pra você e nem quero ser, acerto de contas é só dentro do crime. E desculpa aí por te assustar com a arma, geralmente eu evito ficar com ela dentro de casa, mas é que hoje deu ruim — Sorri sem graça e ela também. 

— Tudo bem Cauã, Brenda já me explicou tudo sobre isso. 

— Prontinho tudo resolvido, vem amiga, ainda não te mostrei meu vestido novo. — Brenda disse puxando Lívia pelo braço, e só assim ela saiu da minha frente, ela tinha um jeitinho tão lindo de olhar, mesmo com medo.  Eu ainda ia me aproximar dela...