Texto (I): O que eu sei sobre mim

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Sim, eu sei que sou uma bagunça e a própria personificação do caos.

Sim, eu sei que sou uma completa desordem e que, provavelmente, tenho graves problemas psicológicos.

Sim, eu sei que sou preguiçosa e que não gosto de acordar cedo.

Eu ainda sei que não tenho nenhuma coordenação motora e, muito menos, sei a diferença entre direita e esquerda.

Eu sei que também sou a personificação da hipérbole e que mudo de humor com uma incrível facilidade.

Eu sei que sou grossa, mal humorada e carrancuda de manhã.

Eu confesso que, por mais que eu faça os três quando sozinha, não sei dançar, cantar ou tocar qualquer tipo de instrumento, pelo simples fato de não ter nenhum ritmo.

Confesso que quando a noite chega, eu deixo as lágrimas caírem e, também, que não consigo dormir.

Confesso que tenho sonhos e metas, mas não tenho a mínima vontade ou determinação de cumpri-los.

E, já que chegamos a parte das confissões, eu admito que não gosto de ninguém da minha família.

Admito, também, que me apaixono por pessoas e não por seus genitais.

E saibam que eu admiro quem é sincero, não só com os outros, mas consigo mesmo.

Saiba, também, que gosto de palavras complicadas, de usar pronomes antigos e que gosto de quem saiba usá-los.

Tenho problemas com excesso de vírgulas desnecessárias.

Sou um ser humano extremamente verborrágico e um pouco carente, mesmo que não admita o último.

Não tenho nenhum atributo físico que me faça ser destaque entre os demais: eu sou completamente normal; nem bonita, nem feia.

Tem dias que eu perco o apetite e a minha simpatia, que não é muita.

Sou controladora e sistemática, apesar de desorganizada.

Não tenho preferências musicais e já tentei compor uma música, mas acabou sendo um poema triste sobre uma menina que eu me apaixonei.

Tem um apreço por ouvir as pessoas e as suas histórias.

Eu amo todos os meus irmãos, mas não gosto de nenhum deles.

Adoro animais, apesar de não conseguir cuidar.

Meus pais são evangélicos, mas eu sou agnóstica e sigo um ou dois princípios de cada religião que conheço.

Não sou feliz, nem triste.

Nem bonita, nem feia.

Não sou engraçada, nem um tio do pavê.

Nem alta, nem baixa.

Eu sei tantas coisas sobre mim, mas, ao mesmo tempo, não sei direito quem eu sou.

Eu sei que gosto de desenhar, mas abomino a ideia de colorir.

Eu sei que gosto de escrever, mas abomino a ideia de chegar ao final.

Eu sei tudo sobre mim, mas isso não me serve de nada, porque vivo em uma eterna metamorfose.

Gosto de todas as cores, de todos os estilos musicais, de todos os gêneros e de todas as histórias que as pessoas possam me contar.

Eu sou tantas coisas e um mero nada ao mesmo tempo.

Eu gostaria de fazer algo importante para a sociedade, mas eu prefiro mudar o dia-a-dia de quem convive comigo com atitudes simples.

Eu queria não ter metade desses problemas que carrego na minha bagagem, mas quem seria eu se não fosse eles?

Por fim, gostaria de dizer que conheço cada cantinho de mim, os meus defeitos e as minhas qualidades, conheço o porquê de ser assim e todas as experiências que fizeram a "eu" de hoje escrever essas palavras que não mudarão o dia de ninguém. Conheço as minhas manias e meus problemas. Eu me conheço tanto que confesso que chego a ter um pouco de medo de mim mesma e da minha própria mente. Eu conheço os meus pontos fracos e o que me faz chorar de noite. Eu sei tudo sobre mim, mas continuo sendo uma incógnita que nunca terá solução.

O que eu sei sobre mim?

Tudo e absolutamente nada.

(Texto Autoral)

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