Capítulo 10

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P.O.V's Jessica

- Mãe? - Não acredito que estou vendo ela aqui. Não a vejo há anos, desde que saí de Columbia. Ela não aceitou muito bem quando me assumi bi, e desde então não falou comigo, nem por telefone. Ainda estou muito sentida com isso.

- Ainda 'tá viva? Nunca mais me deu noticias, nunca mais me telefonou. Nem para saber se eu 'tava bem. - Ela me disse.

- Digo o mesmo sobre você. - Falei secamente. Não tem porque ela jogar na minha cara que eu não liguei para ela quando foi ela que me excluiu primeiro.

- Você é minha filha! Devia ao menos se importar comigo!

- Você é minha mãe! Devia ao menos me aceitar pelo que eu sou! - Ela me olhou incrédula. Não queria decepcioná-la, mas ao mesmo tempo, não ia deixar isso passar em branco, ela nunca mais olhou na minha cara depois daquilo.

- Não acredito que ainda guarda rancor depois de todos esses anos.

- Guardo. Você nunca mais me olhou do mesmo jeito, ou melhor, nunca mais olhou na minha cara. É como se tivesse me tirado da nossa família, você me fez sentir menos amada. Me fez sentir como se eu fosse um lixo.

Olhei-a de cima a baixo com nojo e desprezo. Fiquei aliviada por soltar aquilo tudo que estava entalado na garganta durante anos. Olhei-a novamente, nós duas estávamos com os olhos marejados e expressões sofridas. Pus meus olhos em Sara e vi que a mesma também estava, vi que ela podia sentir a minha dor como se estivesse dentro de minha pele. Voltei o olhar para Kate, vi em seu olhar que a mesma estava decepcionada com si mesma, e senti que estava triste por mim.

- Não sabia que se sentia assim.

- Mas me sinto. Sempre senti. Eu era a mais próxima de você, mãe. Éramos como unha e carne, achei que pudesse contar com você 'pra tudo, mas me enganei. Eu e Sasha. Ela sempre me apoiou em tudo, esperava o mesmo de você.

- Me desculpa. Filha. E-eu não sabia que isso tinha te afetado tanto... - Ela tentou se aproximar, mas me afastei, esbarrando em Sara. Ela me segurou forte como se tentasse dizer que estava ali pra mim independente de qualquer coisa.

- Mas afetou, sempre. E você nunca se importou.

- Eu me importo. Eu te amo. Sempre amei. Você é minha princesinha, minha primogênita. Nós éramos as mãe e filha mais queridas do bairro, eu te amo tanto, meu amor! Perdoe-me. Eu ia ligar, ia mesmo, mas fiquei chateada porque você não ligava também...

- E o que faz aqui? Você tem a vida perfeita sem a sua filha mais velha imperfeita e impura. O que faz aqui, Kate? - Vi que quando a chamei pelo seu nome, seu coração se partiu, levandoo eu junto ao dela. Eu vou perdoá-la, mas ela me fez sofrer tanto que não vou dar meu perdão de bandeja.

Nessa hora eu já me mergulhava em lágrimas. Pensei que depois de sete anos essa ferida já havia sido cicatrizada.

- Christopher me ligou.

Nessa hora meu mundo caiu. Esse foi o golpe mais baixo que o Chistopher poderia aplicar. Fiquei tonta. Vi o mundo dando voltas e mais voltas.

- O que está acontecendo? - Falei sem sentir as pernas.

- Jess! Ei, eu 'tô aqui! – Podia ouvir a voz da Sara me chamando, mas não conseguia enxergar nada.

- Amor?

- Oi, amor. Não me deixe!

- E-eu... - A última coisa que ouvi foram as voz desesperadas da Sara e da minha mãe.

- Jessica! Acorde, Jessica!

E apaguei.

P.O.V's Sara

Nunca havia visto Kate Capshaw pessoalmente e não esperava conhecê-la tão cedo. Muito menos como sogra.

Vejo que a presença dela afeta demais a Jessica. Acho que Kate não a aceitou a sexualidade dela e a magoou demais. Sinto que esse é um péssimo momento pra Jess, ainda mais com tudo isso do Christopher, ela está bem fragilizada. Percebemos isso quando ela desmaia.

- Kate, vai procurar ajuda! - Ela estava paralisada, simplesmente estagnada em choque, completamente sem reação, então tive que tomar uma atitude.

Levantei e peguei um vinho que deixo guardado dentro de uma das gavetas do camarim, junto a um pano limpo. Derramei-o no pano e o aproximei do nariz da Jessica, para ela poder sentir o cheiro forte de álcool nele.

- Jessica? Meu amor, acorde, por favor. - Eu já chorava descontroladamente.

Posso não ser médica de verdade, mas esses anos aqui interpretando na série me fizeram aprender alguma coisa. Verifiquei seu pulso e vi que tinha batimentos cardíacos. Suspirei de alegria quando vi suas pálpebras se abrindo, dando-me a visão de sua pupila e suas íris azuis claras como o céu do meio-dia. Sorri. Seus olhos me fazem esquecer do mundo.

- Você acordou!

- O-o que aconteceu?

- Você desmaiou, querida.

- E-eu? Por que?

- Você desmaiou quando eu falei do Christopher. - Ela a olhou assustada.

- Mãe? O que faz aqui? - Ela parou e pensou. – Lembrei do porque de ter desmaiado.

Saí à procura das chaves do carro. Pode ser algo sério ou também pode não ser nada, mas preciso levá-la a um hospital para ter certeza. Ajudei Jess a se levantar.

- Jess, vamos ao hospital. Você desmaiou do nada, pode ser algo sério.

- Não precisa, estou bem...

- Não tem essa de "não precisa", você vai ao médico pelos seus próprios pés ou eu vou te carregar à força.

- Você não seria capaz... - Fui até ela e coloquei meus braços em torno de suas pernas, pronta pra levantá-la.

- 'Tá bom, 'tá bom. Eu vou.

- Ótimo. - Sorri convencida e ela revirou os olhos.

- Eu vou com vocês. - Só então lembramos que sua mãe estava no camarim assistindo toda essa cena.

- Ah, sim, claro. Só tenho que falar com a Shonda sobre isso, já volto. - Fui até o set para falar com a chefe.

- Chefe!

- Até que enfim, Sara. Já ia mandar chamarem você.

- Shonda, a Jessica desmaiou e vou levá-la agora ao hospital, ok? Pode ser algo grave.

- Como assim? Ela 'tá bem? Por que não me chamou?

- Calma, Shonda! Ela está bem! Só que é melhor prevenir.

- Sabe que odeio quando acontece algo com meu pessoal e não me falam nada.

- Calma, eu só vim pedir uma folga para nós duas.

- É claro, Sara! Não tinha nem que perguntar! Saúde não se discute. - Assenti e saí praticamente correndo, indo de volta ao camarim buscar as duas.

Entramos no carro e eu dirigi com pressa. Chegamos na emergência e Jessica logo foi levada para fazer alguns exames enquanto ficávamos na sala de espera só aguardando. Até que uma enfermeira veio nos chamar para vê-la. Dra. Gordon nos recepcionou.

- Bom, senhoras... A Jessica está bem, foi apenas uma queda de pressão causada pelo estresse. Mas para prevenir qualquer coisa, faremos um exame de sangue e a deixaremos em um quarto de observação por algumas horas. - Ela disse e saiu.

- Viu amor, eu disse que estava bem.

- Amor? - A mãe dela nos olhou confusa.

Não acredito que deixamos essa escapar.

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