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— Eu não pertenço aqui, Kamal! Tu sabes disso — respondeu e logo desviou o olhar do amigo, sentou no sofá e começou a brincar com o furo que a sua mochila tinha. Não era capaz de olhar para ele e ver aquele olhar triste e zangado que o mesmo fazia para sua direção.
Kamal aproximou-se mais dela incrédulo por ela continuar a tocar no assunto de sair da aldeia. Agachou-se e fez com que ela olha-se pra ele. Era escusado. Só havia duas maneiras de sair: a que não custava nada, mas perigosa pelo bosque e a mais longa pelo comboio onde os comerciantes entravam na aldeia para vender as suas mercadorias, só que custava caro a viagem pra fora. Layla não tinha todo esse dinheiro.
— Claro que pertences! Foi aqui que cresceste. — tentou persuadi-la pois não a queria distante de si. Era a sua melhor amiga. Conheciam-se desde pequenos e mesmo com a personalidade forte e os vários defeitos que ela tinha, Kamal nunca a trocaria por uma outra pessoa.
— Mas não me sinto em casa — baixou o olhar — Eu preciso sair daqui, lamento Kam.
O que Kamal não entendia era que Layla possuía um espírito livre. Não gostava de limitações, pelo contrário, ela gostava era de ultrapassar os limites, e vivendo numa aldeia tão pequena aos seus olhos, fazia com que ela se sentisse sufocada demais. Precisava sair daí e se arriscar em ir para um outro lugar custasse o que custasse.
Ele levantou-se irritado, passou a mão no seu coiro cabeludo que à meses havia lá um coque que muitas das vezes fazia no topo da cabeça, mas o tinha cortado à meses e já se viam os fios lisos de cabelo negro a crescerem. Kamal era alto, bonito e tinha uma boa postura. Negro, mas, no entanto, possuía o tom de pele um pouco mais clara que o tom de pele da Layla.
— E o que vais fazer lá? — perguntou com as mãos na cintura impaciente — Procurar os teus verdadeiros pais? Segundo tu são reis, não são? O que faz de ti uma princesa... Já chegaste a pensar que eles nem sequer existem? Ou que eles não te querem. Afinal, se te abandonaram é porque não te queriam — Kamal cuspiu essas palavras com tamanha crueldade e insensibilidade que nem ele mesmo acreditou no que tinha acabado de dizer.
Na verdade, ele fizera isso porque a mãe adotiva da Layla fez-lhe prometer caso ela quisesse sair da aldeia porque a ideia de ela ser uma princesa era uma mera fantasia e não devia alimenta-la.
— És mesmo um otário! Seja como for, aqui eu não morro — olhou pra ele decidida e com raiva. Conseguia sentir as lágrimas rebeldes a se formarem bem na ponta dos seus olhos mas, nunca que ia deixá-las cair. Era demasiado orgulhosa para o fazer.
— Eu não quis dizer isso, Layla — disse arrependido ao ver o brilho na ponta dos olhos da amiga. Tinha ido longe demais.
Layla levantou do sofá ignorando o amigo e num movimento limpou os olhos molhados. Pegou numa jarra e depositou água dentro dela. Precisava regar as plantas que se encontravam no alpendre da sua casa é assim meter um fim à conversa dos dois.
— Pra mim tanto faz — respondeu, voltou a passar por ele e abriu a porta — Só preciso juntar mais dinheiro e sair dessa maldita aldeia, afinal, já nada me prende aqui!
— Como assim já nada te prende aqui?! E eu? Também faço parte do nada? — perguntou Kamal ainda de pé no mesmo sítio olhando para as costas da amiga desapontado com que ela tinha acabado de dizer.
Layla por sua vez, ainda permanecia na porta sem conseguir avançar. Havia algo no meio dos vasos de flores a mexer-se. Primeiro pensou que fosse o Falcão, mas então, sentiu a cauda peluda dele a passar bem nos seus pés e andar muito preguiçosamente para o jardim a sua frente.
Não podia ser ele, concluiu. Então, o que era aquilo no meio dos seus vasos de flores? Interrogou-se curiosa e meio assustada.
— Não me vais responder? — perguntou Kamal ainda à espera da sua resposta indignado.
— Shhhh! — fez ela ao amigo atrás de si.
— Como assim shhhh? O que está acontecer aí? — perguntou curioso ao ver a comportamento estranho da amiga. Deu alguns passas até lá. — Layla?
— Fala mais baixo, Kamal — sussurrou-lhe impaciente — Passa-me um lençol! — mandou.
— Só quando me disseres o que está a acontecer — disse tentando espiar outra vez pra parte de fora, mas não encontrou nada de suspeito.
— Dá logo o que eu pedi! — mandou batendo com os pés no chão o que resultou num barulho um pouco mais alto do que pretendia fazer. Não tinha tempo para explicações.
Apesar de não ter crescido numa família rica, Layla possuía atitudes de menina mimada. De onde tinha ela tirado isso? Kamal meteu-se a questionar mais uma vez.
Sentindo-se derrotado, fez o que amiga o mandara fazer.
Na entrada da porta, Layla estreitou bem os olhos pra analisar o que era: dava para perceber que era pequeno, tentava a todo o custo se esconder mas, já não ia a tempo para isso. Tinha sido descoberto. O seu chapéu verde dava bem nas vistas. Será que era o que Layla achava que era? Interrogou-se.
— Aqui está. — Kamal entregou-lhe o que pedirá — E agora?
— Agora fica atento — disse e pousou a jarra de água no chão para poder agarrar o lençol.
A única coisa que ela sabia, era que, ele não tinha como escapar. Estava encurralado, mas mesmo assim precisava capturá-lo. Queria ver com os seus próprios olhos o que ou quem se tinha atrevido a esconder-se no meio das suas flores queridas.
Começou a andar até aos vasos com passos leves e cautelosos para não o deixar escapar. Abriu o lençol com muito cuidado e preparou-se para o golpe final jogando-se para cima da coisa. Sentiu ele a tentar fugir. Agarrou com mais força, impedindo qualquer chance de fuga e logo Kamal ajudou-a a transportá-lo pra dentro seja lá o que aquilo fosse.
• n o t a d a a u t o r a •
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À PROCURA DA SORTE
Short StoryLayla cresceu num lugar humilde mas ela nunca se conformou com o seu estado de vida sendo uma rapariga ambiciosa e mimada. Para conseguir o que quer ela muita das vezes age de maneira errada. Até que numa certa tarde surge a oportunidad...