Lobisomens 03

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Alexa montou o seu cavalo negro, junto com seu fato, a única coisa colorida era o pomo de sua espada em  prata e seu cabelo loiro entrançado, pelo canto do olho, conseguiu ver Charles e com a sua visão de lobisomem discerniu as suas feições de reprovação e os braços cruzados, os lábios numa linha fina e uma ruga na testa, ela não quisera despedidas, para não alarmar a povoação nem colocar em alerta o resto do reino, assim que passou os portões de ferro, fez o seu cavalo passar para um galope, até o seu castelo não ser mas que um ponto no horizonte, então passou o seu cavalo para um trote rápido, sem ninguém com quem falar para passar o tempo, Jax passou a ser um ótimo confidente.
Os seus pensamentos ainda estavam revoltosos no que dizia respeito à certeza da decisão que havia tomado. Nunca antes havia sido tentado uma equipa de raça mista, não sabia o que esperar, estava a entrar em território desconhecido para si e para todos os seus ancestrais. Sentiu o cavalo reclamar e passou para um passo leve,  não poderia deixar o cavalo entrar em exaustão, não saberia se conseguiria encontrar outro e a jornada à sua frente ainda era longa.

Chegou ao ponto de encontro com Edwin no dia em que era esperada, não viu sinal dele, então desmontou. Ainda estava em seu território, mas sentia a magia do lobisomem mais fraca, aproximou-se da fronteira, cerrou os dentes e passou com uma mão pela fronteira, sempre se sentira curiosa em relação às fronteiras e nunca tinha estado tão a norte para satisfazer a sua curiosidade, medo atravessava-lhe o coração, mas continuou, a curiosidade era mais forte que o seu medo. Assim que passou pela fronteira, uma dor terrível passou-lhe pelos braços, parecia como se os seus ossos se partissem em pequeno fragmentos, mandando, um choque eléctrico a todo o corpo. Imediatamente, retirou a mão, agarrando-se a ela, branca como se o sangue se tivesse esvaído, por meio segundo, antes que o seu sangue de loba começasse a normalizar o seu corpo, as pontas dos dedos estavam pretas e a dor permaneceu, Alexa sentou-se encostada ao tronco de uma árvore, controlando a respiração, tentando manter a consciência.
Assim que sentiu a dor abandonar o seu corpo, ergueu-se, foi aos alforges da sela do cavalo e retirou um pedaço de carne seca e pão, para repor as forças que a cura tinha retirado:
-Estás a ver Jax, é por isso, que não podemos quebrar as regras! Sempre há consequências para as nossas acções!
Alexa esperou que o cavalo respondesse, apesar de saber que isso nunca iria acontecer:
-Sim, Jax, eu sei que fui idiota, em experimentar as barreiras, mas de que outra forma eu saberia o que elas fariam? Certo é que nunca mais irei experimentar, serviu a lição!
Alexa sentou-se novamente, à espera de Edwin, mordiscando o pão que ainda tinha nas mãos, observando a floresta à sua frente, ouvindo com a audição do lobo e cheirando animais de vários tipos, pequenos e grandes, mas todos a afastarem-se, deu-se conta de que estava a favor do vento, o seu cheiro alertava as criaturas de que a predadora em si estava presente,nada que pudesse fazer, herbívoros e a maior parte dos carnívoros temiam os lobisomens, o predador natural, o lobo dentro deles, era pior que o lobo normal, a magia aumentava a sede de sangue a necessidade de caçar e de se alimentar, Alexa conseguia controlar melhor que a maioria, por ser uma natural, mas para isso, tinha que estar sempre a comer alguma coisa, para saciar a fome e a necessidade por sangue, uma maldição que não poderia controlar, fazia de tudo para evitar que o lobo se manifestasse, quer em sua forma total, quer nas suas acções, desde pequena que o sentia, esperando nas sombras da sua mente, para que pudesse dar o bote e tomar o controlo. Só tinha acontecido, duas vezes no passado, quando a raiva ou a tristeza eram grandes demais para que conseguisse ter o controlo sobre a fera, dentro de si. Mas precisava de se preparar, pois junto a um vampiro, a sua fera estaria mais propensa a sair, a tomar o controlo, por instinto. Não poderia deixar nenhuma emoção fugir do controlo. Teria que entregar algo a Edwin, para proteção dele, algo que era um segredo, apenas guardado pela Família Real de MoonNight, não sabia se poderia confiar nele o suficiente, mas para evitar uma guerra, teria que o fazer, se por alguma razão, ela perdesse o controlo, poderia acabar por o matar, ou ele a ela, considerando a reputação dele. Seria uma arma a ser usada contra a sua espécie, mas sentia-se de mãos e pés atados.
Olhou para o céu a noite estava a chegar e Alexa sentia-se cansada, não havia sinal de Edwin, nem sons ou cheiros:
-Hey Jax! Fazes vigilância por mim? Preciso de descansar um pouco. - O cavalo olhou para ela, a única criatura que a suportava, por estar habituado de pequeno ao seu cheiro. - Vou considerar isso, um sim!
Alexa encostou a cabeça e fechou os olhos, não se deixou dormir, não podia permitir-se a isso, tão perto da fronteira.
Lembrou-se da mãe Selina, que lhe cantava, para ela adormecer, que lhe contava histórias de encantar, para espantar o pesadelo do Torneio.
Esse Torneio ainda lhe trazia más lembranças, crianças lutando, para se tornar o próximo lobisomem e possivelmente o companheiro dela, se bem que era raro que alguém da primeira alcateia se tornasse o companheiro da rainha. Alexa sabia que se deixasse o lobo sair, ele adoraria a crueldade, a luta e o sangue, mas ela não. O pai dela costumava dizer que se ela não fosse uma natural, teria sido trocada a nascença, não tinha nenhum traço da agressividade inerente ao lobisomem natural, anos depois da morte do pai, ela ainda se lembrava dessas palavras, do desapontamento dele e para combater essa dor, do desapontamento, Alexa dizia a si própria que ela era melhor que eles, ela conseguia controlar o lobo melhor do que todos os outros que um dia vieram antes dela, mas a verdade, é que ela tinha medo do lobo, tinha medo de gostar do que o lobo fazia e sentia.
Sentiu um aragem e olho para cima a tempo de ver Edwin passar o rio.

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