Lua E Vida

Lobisomens 04

Não havia melhor sensação que a de liberdade, ao galopar com Jax, mesmo que tivesse um vampiro, sobre a sua cabeça, saltando de árvore em árvore. Como temera, ele passara o breve momento em que estiveram a falar insultando-a, ou pelo menos, tentando, nada de muito grave, mas o seu lobo interior não gostou muito, sabia que se as ofensas escalassem, muito provavelmente, não teria forças para controlar o lobo, mas também, não se sentia à vontade, com Edwin, para lhe entregar o volume que carregava consigo, envolto numa bolsa de couro e veludo, tentando, o máximo possível, que aquilo se mantivesse longe de si. A noite deu lugar ao dia e apesar de Alexa não querer dar a parte fraca, perante Edwin, Jax começava a mostrar sinais de cansaço e seria imprudente continuar a puxar por ele, parou o cavalo e esperou que Edwin percebesse que precisava de parar, coisa que fez, apenas algumas árvores à frente, voltando para trás por terra, tinha um sorriso presunçoso no rosto, quando falou:
-Então, Rainha, já esta cansada?
Alexa revirou os olhos, mantendo o controlo no lobo, aquilo começava a irritar, até mesmo, o lado humano dela:
-Não, mas o meu cavalo não aguentará muito mais! Fez uma semana de trote rápido, apenas para chegar ao ponto de encontro a tempo e este passo não o está a ajudar! - Começou ela. - Além do mais, não sei quanto a ti, mas eu tenho fome, frio e preciso de descansar! - Confessou ela.
Foi a vez de Edwin revirar os olhos:
-Você sempre foi assim tão mimada? Ou isso só aconteceu, depois de virar orfã? - Edwin arrependeu-se mal as palavras lhe saíram da boca e o olhar de fúria velada que Alexa lhe deu, só confirmou o erro que tinha sido.
-Para sua segurança, acho melhor, nunca, mas nunca mais, me atacar com a morte dos meus pais! - Respondeu ela, entre dentes, com um rosnado na garganta e virou-lhe costas.
Afastou-se de Edwin, para acalmar o lobo e para esfriar a cabeça, aproveitou, para apanhar uns gravetos, afim de fazer uma pequena fogueira para cozinhar a carne seca que tinha nos alforges, ao voltar, encontrou Edwin de volta de Jax, já lhe tinha retirado a sela e limpava-lhe o pêlo:
-O que estas a fazer? - Inquiriu Alexa, desconfiada.
-O que parece, estou limpando o pelo de seu cavalo, já que você não teve o cuidado para fazer isso! - Ele disse, sem no entanto, ter um tom acusatório.
-Eu ia fazer isso! - Replicou Alexa, fazendo o monte der lenha e acendendo o fogo.
Assim que este já estava com alguma intensidade, Alexa dirigiu-se aos alforges, encostados a uma árvore, perto do cavalo, retirou a carne seca para si e olhou para Edwin, que se concentrava em limpar o pelo do cavalo:
-Também queres?
Edwin olhou para ela, os olhos negros tinham voltado ao castanho, com os quais o conhecera:
-O quê?
-Carne! - Respondeu ela, mostrando o que retirara do alforge.
-Sim... Pode ser! - Concordou ele, encolhendo os ombros.
Alexa colocou a carne num espeto, por cima da fogueira e sentou-se, a controlar o lume, passado um pouco, Edwin também se sentou à sua frente e quando a carne estava pronta, ela dividiu pelos dois, o silêncio parecia ter peso e uma tensão que esmagava os dois e foi Edwin que finalmente o quebrou:
-Então, como é crescer em MoonNight? - Ela olhou para ele, com uma sobrancelha arqueada, como se desconfiasse das intenções dele. - O que foi, estou farto do silêncio e já que estas aqui, mais vale falarmos!
Após um silêncio contemplativo, de alguém que busca nas suas memórias o que contar, Alexa finalmente começou por falar da infância em MoonNight:
-Creio que crescer em MoonNight tenha sido como crescer em qualquer outro lado! Lembro-me de brincar na rua com as crianças e da minha mãe sempre com um sorriso. Essas são as minhas memórias mais antigas, a partir do momento em que o lobo acordou em mim... Bem... digamos que não foi assim tão normal, pelo menos daquilo que vejo das crianças humanas que crescem na vila. Deveres e responsabilidades sempre marcaram a minha vida, depois do lobo acordar, houve muito pouco tempo para brincar ou para sorrir...
-Com que idade é que... Como tu dizes, o lobo acordou?
-Tinha cinco anos, a primeira vez que me transformei. A partir daí, fui proibida de brincar com crianças humanas, andava sempre com dois guardas, homens da alcateia do meu pai... - Alexa parou, subitamente, como se a memória lhe causasse imensa dor, mas Edwin tinha ficado curioso, com o que ela omiti a mais do que com o que ela dizia.
-Isso é normal? - Perguntou ele, tentando dar a volta ao assunto, fazer com que ela contasse mais, não só para a conhecer melhor, mas a verdade é que as tradições dos lobisomens não eram do conhecimento dos Vampiros e ele estava curioso para encontrar similaridades ou diferenças.
-Não, não é  normal. Geralmente, um lobo natural só tem a primeira transformação aos quinze anos, quando já consegue controlar um pouco melhor as emoções... Uma criança de cinco anos não percebe se o que está a fazer é certo ou errado!
Meias palavras, que não dizia nada, era tudo o que Alexa conseguia dizer, cuatava-lhe assumir, que era uma assassina, que o seu lobo gostava demasiado de sangue e que o havia provado muito nova.
-O que aconteceu? - Insistiu Edwin, mesmo notando o tom de voz carregado de Alexa. - Não era um sinal que a magia era forte em ti? Não era algo para se celebrar?
Aquelas palavras causaram um imenso horror em Alexa e isso foi visível na sua cara e quando retraiu o corpo:
-Para algumas pessoas sim. Era um motivo de celebração, mas não para todos, especialmente, não para mim! Mas não quero falar disso. Posso te contar que desde os seis anos que isso melhorou um pouco, quando a alcateia se juntou a mim, quando começamos a correr livres na forma do lobo, a treinar juntos, fosse o que fosse, nos fazíamos juntos!
-Então, quer dizer que, aqueles lobos que estavam no salão estão contigo desde os seis anos?
-Sim estão, a maioria tem a minha idade, excepto Andrew e Elia que são mais velhos cinco anos e Truman que é um ano mais novo que eu. - Comentou Alexa, feliz por poder falar de outro tema que não a sua primeira transformação.
-E se aquilo que nos contam, esta correto, o teu companheiro, vai ser um desses elementos, certo?
-Não propriamente! - Comentou Alexa, encolhendo os ombros, suspirou antes de continuar. - Uma alcateia compõem doze indivíduos. Cinco são escolhidos antes do falecimento do rei e da alcateia real e os outros seis são escolhido após o lobo natural atingir a maioridade, ou quando o rei falecer. O companheiro deve ser encontrado na segunda escolha de elementos para a alcateia. Pois todas as idades podem concorrer ao torneio e não apenas com cinco anos de diferença do lobo real!
-Torneio? - Inquiriu Edwin, percebendo no instante seguinte que Alexa tinha dito mais de que queria, quando ela fechou os lábios numa linha fina.
-Mudando de assunto, é a tua vez, como foi crescer em BloodHaven? - Pediu Alexa, esperando que fosse suficiente para não ter de responder à pergunta de Edwin.
Ele assentiu com a cabeça, mas algo nos olhos dele, ou na maneira como ele assentiu disse à Alexa que voltaria aquele assunto.