Da Primavera ao Inverno

Remetente: Inverno, Destinatário: Primavera

Kendall, ciúmes é algo complicado de lidar.

Não gosto de sentir isso, não gosto da sensação que isso me proporciona, não gostos de ficar furioso com esse tipo de coisa. Porque foge de quem realmente sou, me deixa com raiva.

Como se eu não soubesse que o Patrick está abrindo suas asas para cima de você, agora que eu estou longe.

Eu não sou idiota.

Mas quer realmente saber? É que já cansou ficar me decepcionado com esse tipo de coisa. Definitivamente eu estou ignorando minhas emoções, apesar de ainda doer no fundo.

Esse cara pode te ter;
Pode ser melhor do que qualquer coisa que eu possa fazer ou te oferecer; talvez ele tenha mais vigor em te consquistar - Sei lá, eu não sei...
Mas sabe, eu duvido que ele a ame mais do que eu te amo.

Com um amor complicado desses, já deveríamos ter acabado com isso de vez. Mas eu nunca consegui realmente te deixar para trás.

Não suporto esse pensamento.

Não quero também atrasar sua vida, eu quero que você decida o melhor pra você...

E Kendall se ele for o melhor?

Eu só quero te ver feliz, quero ver esse riso estampado em seu rosto, mesmo que para isso custe o meu sorriso. Não me importo, portanto que você esteja bem, eu ficarei tranquilo.

Quando é mesmo para dar certo, as coisas acontecem naturalmente, elas fluem como na Primavera o mundo floresce e no Inverno a neve aparece. Quando é pra acontecer, acontece.

Então por isso eu telefonei.

Sua voz é tudo que eu preciso escutar, sua respiração suave e seu "oi" para ver se eu consigo afastar essa névoa melancólica.

— Joe? — Você ficou trêmula, confusa, queria saber o que eu queria.

— Kendall... — Eu engoli a seco.

— Co-como você está? — Ficou preocupada.

Eu precisei rir de lado antes de responder:

— Não está com aquele cara, está? — fui sarcástico.

— Não Joe, é claro que não!

— Eu me importaria muito se você decidisse não querer mais essa vida pra viver. Me importaria de verdade.

Você arfou como se estivesse prestes a chorar, Kendall sempre tão emotiva.

— Porque eu te amo, você sabe disso. — Continuei, porque de repente, você estava muda no outro lado da linha.

— Eu também te amo...

A porta se abriu mostrando Lara e minha mãe, repletas de agasalhos e trêmulas de frio.

— Preciso desligar.

— Eu também tenho que terminar os arquivos aqui... Então.

— Depois eu te vejo. É uma promessa!

— Tchau Joe.

Não acreditou, não é?
Mas era verdade, eu ia te ver logo.

Não precisa ser tão apressada.

Deixa fluir, Kendall.

— Como é que foi lá? — Perguntei esperançoso a minha mãe.

Ela assentiu com um riso — Bom!

Bom.

Ela disse bom.

Só isso.

Não é o suficiente.

— É sim, a doutora garantiu que dessa vez eu posso comer chocolate também, sabia? — Lara garantiu com outro riso.

— Mas, você não pode comer açúcares e... — Discordei no mesmo instante.

— Tudo bem Joseph, desde que ela coma com moderação, — minha mãe se pronunciou, virando-se a ela antes de voltar a mim — ela pode comer o amargo — disse num riso fraco.

Eu me forcei a acreditar que elas estavam mesmo animadas.

— Então quer dizer que eu posso te dar chocolates?!

— Exatamente! — ela pulou animada, mesmo fraca.

Beijei sua testa e a abracei.

Odeio ter problemas, Kendall. Odeio mais ainda não saber resolvê-los, mas a verdade mesmo é que eu detesto mais ainda conviver com eles.

É como se, essa frustração nunca fosse acabar.

Você não faz ideia em como o dinheiro escorre pelo ralo a cada consulta... Tudo pra deixar a Lara viva, e o corpo dela está demorando pra responder bem a isso.

Eu queria sentar com você e ser franco em como me apavora ver que ela pode morrer.

Mas...

Eu odeio problemas. Eu odeio mais ainda trazê-los a você.

E eu odeio imensamente ver seu rosto preocupado, e com pena da minha situação familiar.

Então promete pra mim, que não vai me culpar por ser eu tão eu por não ser muito claro em relação a minha vida?

Eu só quero te ver feliz.
Todos dos dias, horas e minutos - e os segundos que você não conseguir sorrir eu tento recompensar depois.
Por isso, meus problemas eu quero guardar.