Entre Nós (Concluído)

Capítulo 1

Como tudo começou

Bom não tenho muito a dizer sobre mim, além do que já é imaginável, sou órfã de mãe e de pai, apesar de o mesmo ser vivo, apenas o vi algumas vezes, com tudo, o mesmo fugia de mim como o Diabo fugia da cruz, não me olhava e, dirigia a palavra à mãe Guilhermina apenas para perguntar se eu estava precisando de algo.

Não sei bem como foi a relação dele com minha mãe, mas imagino ter sido tumultuada, visto pela mesma ter sido prostituta. Sei muito pouco dela, apenas tinha algumas coisas pessoais que a mesma me deixou antes de morrer: uma foto antiga dela grávida de mim, uma corrente com a imagem de Nossa Senhora e uma santinha pequena também de Nossa Senhora. Fico pensando, como uma prostituta podia ter tanta fé assim, apesar da profissão, não sou ninguém para julgá-la, ela deve ter tido seus motivos, assim gosto de pensar.

Aprendi desde cedo a não criticar, contudo era extremamente julgada e humilhada por ser filha de uma meretriz, todos faziam questão de me lembrar quem era minha mãe e sua profissão, sempre fui assim, tratada como a filha de uma mera prostituta. Pela foto que possuía, imagino que ela deveria ter sido a mais bonita que todas as outras prostitutas, cabelos negros cumpridos, olhos claros e um sorriso doce, eu me parecia com ela, apenas com a diferença dos cabelos claros que herdei do meu progenitor, mas o restante era dela, e me sentia orgulhosa disso.

Quando nasci minha mãe morreu no parto, dizem que foi uma complicação. Meu pai era um homem importante, um mafioso, como sempre cresci ouvindo. Ele provavelmente não queria uma filha nascida de uma meretriz, portanto me entregou para Guilhermina, a quem chamo com carinho de mãe. Ela me criou como sendo sua filha, apesar de crescer sabendo que não era, Guilhermina é governanta na casa do Senhor Pietro, um homem forte, rico e também mafioso, chefe da máfia para ser mais específica.

Cresci ajudando mãe Guilhermina nos afazeres domésticos, contudo ela me ensinou muitas coisas sobre etiqueta e como me portar em sociedade. Mãe Guilhermina era filha de um homem rico que perdeu tudo com jogos e bebidas, para pagar uma dívida, a pobre teve que trabalhar na casa do Senhor Pietro, sei que tem muitos anos que ela vive aqui, então desconfio que ela já pagou a dívida à muitos anos, não entendo porque ela ainda não foi embora, mas também nunca perguntei, talvez ela como eu não tenha família e nem lugar para voltar, por isso somos tão apegadas uma na outra.

Lembro que desde de pequena quem cuidou e me amo foi ela e até hoje é assim, aprendi tantas coisas com ela, as vezes eu dizia a ela que não era necessário me ensinar aquilo tudo, eu ficaria na cozinha o resto da vida, então eu pensei: " Para que aprender isso se sou apenas a empregada órfã?", contudo ela me dizia: " Você não será empregada para sempre, vejo grandes coisas em seu caminho".

Achava tudo isso uma grande bobagem, porém aceitava, jamais iria desobedecer a ela, minha mãe de coração.

Na casa havia muitos empregados e todos era meus amigos, muitos cresceram junto comigo e outros me viram crescer. Todos que trabalhavam aqui tinham ligação direta ou indireta com a máfia, eu não gostava de também ser ligada a isso, porque sabia que aconteciam coisas ruins dentro da máfia, coisas essas que me davam muito medo.

Eu cresci junto com Breno, nossa diferença de idade era pouca, então nos tornamos amigos, ele é filho do chefe da segurança, Sr. Apollo, sua mãe morreu de câncer quando ele tinha apenas 5 anos. Lembro como ele chorava, abraçado comigo, eu tinha 3 anos, não entendia muito bem sobre a morte, mas sabia que a mãe dele estava no céu descansando. Lembro muito pouco dela, ela era doce e boa, na visão de mãe Guilhermina. Breno me tratava bem e com carinho, lembro que quando fiz 15 anos, ele me levou pra passear, eu quase não saia de casa, mas ele depois de muito pedir para mãe Guilhermina, me levou para tomar sorvete, foi tão bom estar ao lado dele, ele era meu irmão de coração e sofrimento, como eu, ele também era órfão de mãe, e nos tornamos muito ligados.