5. Amora

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"É a hora de começar, não é?
Fiquei um pouco maior, mas agora, admitirei
Sou apenas o mesmo que eu era
Agora, você não entende?
Que eu nunca vou mudar quem sou."
- It's Time (Imagine Dragons)

Acordei com minha mãe batendo na porta e dizendo que eu me atrasaria caso não levantasse - e que ela jogaria o leite que estava fervendo na minha cara - mas continuei deitada, me dando um segundo de folga. Então, levantei e me preparei para meu primeiro dia.

Uma jaqueta jeans por cima da blusa branca e meu all star azul clássico bastavam. Desci pensando em como acordar cedo para ir à escola é inútil. É sempre mais do mesmo, um padrão sem sentido. Os garotos - e garotas - contando vantagem pelos corações partidos que tem nas mãos, as pessoas agindo como se nunca se importassem com nada, eu agindo como se tivesse uma vida perfeita.

- Bom dia - disse adentrando na cozinha.

- Bom dia, filha - minha mãe era a única em casa, porque meu pai saira cedo por um problema no trabalho. - animada?

- Talvez. Vai ser tudo igual - mesmo enquanto dizia essas palavras, pude sentir o medo me cutucando. Parecia um redemoinho no meu cérebro, milhões de possibilidades tentando me fazer perder um rumo. Precisava tomar meu remédio.

- Está bem mesmo? 

- Tudo ótimo, não se preocupe. Já vou.

Fui para a casa de Ashley pegar o carro. É assim desde que tirei minha habilitação pouco depois do meu aniversário. Dirigir me acalma, tenho a sensação de saber aonde vou. Ao chegar, vi a garota me esperando na porta com uma blusa preta.

- FINALMENTE, AMORA. Onde você estava?

- Que exagero, não demorei tanto. As vezes você esquece que a pontual aqui sou eu. Cadê o Austin? Não tenho o dia todo.

- Aqui - disse ele aparecendo na porta - e eu dirijo.

- Desde quando? Aliás, não é como se você tivesse direito a escolha.

- Nós já discutimos isso, Ams. Ele dirige.

- O QUE?

- Considere como sua folga. Não é tão ruim e você pode ir no banco da frente. - respondeu ele, pegando as chaves da mão de Ash.

Fiquei o caminho todo ouvindo eles discutirem algo sobre Rolling Stones ser melhor do que Queen, mas não prestei atenção. Era ali que começava, tudo outra vez. Coral, conselho estudantil, clubes, torcida, as coisas que me levariam para uma faculdade bem longe dali. Eu queria Oxford e Ashley, Yale, o que seria um problema. Não queria deixá-la, assim como não queria terminar com Adam, meu último namorado, quando ele mudou de escola. Mas algumas coisas na vida são tão inevitáveis quanto respirar.

Ao chegarmos, checamos os horários, eu tinha literatura com Austin, mas Ash seguiu para sua tão temida aula de biologia. 

- Então, - começou ele - não falou quase nada desde que saímos.

- Vamos deixar assim, ainda tá cedo.

- Não pode ficar a aula toda quieta, Ams.

- Você se supreenderia com o quanto isso seria fácil pra mim. E é Amora, pra você.

- Ashley te chama de Ams.

- Ash é minha melhor amiga. E você ainda tá no nível de intimidade de "conhecido".

- E tem quantos até eu poder te chamar por algum apelido?

- Alguns. Os níveis são conhecido, colega, amigo, irmão, namorado e melhor amigo. Bem, os níveis bons.

- Namorado?

- Pula esse, Austin - ele riu enquanto eu prosseguia - você só poderia me chamar de Ams caso estivesse no nível melhor amigo.

- E se eu quiser te chamar de outra coisa?

- Vai guardar suas vontades para si.

A aula passou rápido, a Sra. Turner explicou o conceito de bem e mal, como saberíamos de qual lado estamos se vemos a vida apenas do nosso ponto de vista? E se não houverem pessoas boas e más, apenas incompreendidas? Fiquei pensando nisso. Mas talvez algumas pessoas nascessem com algo errado dentro delas, algo ruim e quebrado, que nunca as deixaria. Talvez eu fosse uma delas.

Tudo entre começo e fimOnde histórias criam vida. Descubra agora