"Sou permitida olhar para ele assim? Poderia ser errado quando ele é apenas tão agradável de olhar?"
- She (Dodie Clark)
Ashley
Quando voltamos para casa estávamos exaustos, então tomei meu chá de hortelã - acho que, mesmo Emma não sendo minha mãe biológica, a paixão por chá foi herdada da cultura oriental dela - e fomos todos dormir. Amora ficou no meu quarto e Austin dormiu no quarto de visitas.
Mama nos acordou cedo, pois queria que fossemos ao mercado comprar queijo para sua "lasanha dos deuses", mesmo que ainda fossem 9:13 AM e faltasse muito para o almoço.
Vesti uma camiseta preta de mangas longas, um short jeans e calcei meu clássico - e surrado -All Star preto, apenas porque mamãe não me deixou sair na rua de pijama, embora ele seja bem mais confortável. Prendi meu cabelo num rabo de cavalo e saímos.
Como o mercado ficava a poucos quilômetros de casa, fomos a pé. Coloquei meus fones de ouvido e me deixei mergulhar na música, enquanto Ams e Austin tagarelavam alguma coisa sobre Kurt Cobain ser bem melhor que Jim Morrison. Preferi não entrar na discussão.
Quando chegamos ao mercado, Ams e eu fomos pegar o queijo enquanto Austin passeava pelos corredores.
Foi quando o vi, carregando uma caixa de suco e chocolates. Victor Garcia, do último ano. Já tinha o visto algumas vezes na escola, mas nunca havia reparado que era tão bonito. Talvez fosse seu cabelo preto meio bagunçado, seus olhos de um castanho arenoso ou sua camiseta com estampa militar que havia me chamado atenção, mas a verdade é que eu não conseguia parar de olhar para ele.
- Ash, acorda! – disse Amora, me tirando do transe – Vamos, antes que Emma mande a guarda nacional atrás de nós, sabe como sua mama fica quando demoramos demais.
- Ah, claro, vamos – eu disse, tirando os fones do ouvido e me dirigindo ao caixa.
Quando chegamos em casa, Austin foi para o quarto dele arrumar alguns documentos para a escola, pois as aulas começariam dali a dois dias. O que seria um problema, porque eu realmente não quero pisar lá depois do acidente com o projeto da feira de ciências do ano passado. Acho que os professores ainda sentem o cheiro da batata em suas roupas. Ams e eu fomos para o meu quarto.
- Ashley, para quem você estava olhando no mercado? – Amora perguntou. Ela devia ter percebido meu olhar fixado no garoto, eu não podia mentir para ela.
- Sabe o Victor Garcia? Aquele do último ano, da turma dos músicos.
- Ah, sei. Vi ele conversando com um cara, mas não me importei. – ela respondeu, com um ar de indiferença – Opa opa opa, espera aí, é o que eu tô pensando? Ashley McCarthy apaixonada?
- Deixa de ser boba, não é nada disso – eu disse, tentando esconder um sorriso – E, além do mais, estou em um relacionamento sério com esse brigadeiro, não é, amor? - brinquei, enfiando uma colher de doce na boca.
- Você deveria virar comediante, mas chega de mudar de assunto.
- Chega, não quero falar disso, vamos falar de você.- O que temos para falar da minha inútil existência?
- Depois a dramática sou eu. Mas eu queria falar do Austin. Tá rolando alguma coisa entre vocês?
- Você tá louca? Ashley McCarthy está louca, doida varrida, levem pro hospício – brincou Ams, tentando desviar o assunto. – Aquele britânico sem graça que fala com um pepino na boca? Nunca.
- Eu tô falando sério, Ams. Vocês têm química, formariam um casal bonitinho, desde que fosse bem longe de mim. - Amora revirou os olhos.Nesse instante alguém bateu na porta, então fui abrir para ver quem era.
- Oi, mãe, aconteceu alguma coisa?
- Só vim chamar vocês para almoçar, venham antes que esfrie – ela respondeu, tirando o avental do corpo.
- Está bem, mãe, já estamos indo.
Se Emma participasse de um reality show de lasanhas, com certeza ficaria em primeiro lugar. Se tem uma coisa que mama cozinha bem é lasanha.
•••
Depois que comemos fomos assistir TV, mas os pais de Ams ligaram, então mamãe e eu levamos ela para casa. A noite estava estrelada e fazia calor. Pensei em Amora, em como ela me faz feliz. Não sei como seria se ela não estivesse aqui.
Quando voltamos para casa a curiosidade me invadia, então liguei o computador. Não deve ser tão difícil achar alguém – pensei – mas estava errada. Abri meu Facebook e digitei na barra de pesquisa "Victor Garcia". Não fazia ideia de que existiam tantos caras com o mesmo nome. Depois de muito procurar, lá estava ele. Estava de costas na foto de perfil, mas reconheci a camisa com estampa militar do mercado. Para um cara popular, não tinha muitas fotos; entre as que haviam, a maioria não mostravam seu rosto, e as outras era com seu cachorro - um Husky Siberiano de porte médio.- Parece que não tem nada relevante aqui, não é mesmo?
Foi como se eu tivesse levado um tapa na cara de alguém dizendo "você está errada". No meio de suas fotos havia uma imagem de luto, do dia 19 de abril. Eu não fazia ideia do que aquilo significava, mas minha cabeça começava a doer, então desliguei o computador e fui para a cama.
Os pensamentos invadiam minha mente e eu não conseguia dormir, então liguei para Amora. Fazemos isso quando uma de nós não consegue dormir. Ligamos para a outra e cantamos ou dizemos coisas boas até que uma de nós caia no sono.
- Alô, Ams? Está acordada? Se estiver, me ligue. – deixei o recado, mas ela provavelmente estaria dormindo.
Alguns minutos depois ouvi o celular tocar. Era ela
- Ash, tá tudo bem? O que aconteceu? – ela perguntou, meio preocupada.
- Estou bem, mas não consigo dormir, por isso liguei.
- Eu estou aqui, vou cantar para você – disse ela, com sua voz doce e suave. - Loving can heal. Loving can mend your soul, and it's the only thing that I know (Amar pode curar. Amar pode remendar sua alma, e é a única coisa que eu sei)Devo ter adormecido assim que ouvi sua voz, porque só me lembro de puxar a coberta para mais perto do meu corpo e me aninhar na cama quente.
• • • ♥ • • •
Oi amoras, só pra deixar claro, na letra original da música diz "ela", e não "ele", como coloquei ali, mas deixei assim para dar coerência ao capítulo. Beijos amores ♥
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Tudo entre começo e fim
أدب المراهقينAmora e Ashley são duas amigas inseparáveis, mas suas vidas estão prestes a mudar quando um britânico chega em sua cidade. E o efeito borboleta gerado por isso é maior do que elas poderiam prever.