Prólogo - Ashley

84 12 12
                                    

 "E eu realmente não me importo se ninguém mais acredita, porque eu ainda tenho muita força em mim" - Fight Song (Rachel Platten)                                                                               


                                                             Ashley

Nunca fui boa com despedidas. Desde meu pai que nos deixou e se mudou para uma cidadezinha no Maine depois do divórcio, a meu irmão mais velho, Dustin, que foi para Yale no último outono. Mas chegadas sempre me pareceram empolgantes, pontos de partida para coisas maravilhosas ou horríveis, milhões de possibilidades.

Mesmo que eu não ache que um intercambista britânico qualquer vá mudar minha vida, Austin é um lugar parado demais, uma mudança pode ser algo bom. Acordei mais cedo, porque minha mama disse que eu deveria mostrar a menina comportada e arrumadinha que sou, mesmo sabendo que nenhuma de nós acha realmente isso. Emma, uma americana que se considera japonesa mesmo sem nunca ter pisado no Japão, e seus pais serem chineses. Ela não se parece em nada comigo, seus cabelos escuros e pele perfeita deixam quase impossível acreditar que ela é minha mãe, e de fato não é, mas isso é complicado. Minha mãe biológica é Spencer, aquela que realmente chamamos de mãe, torcedora fiel dos Yankees mesmo morando no Texas. Ela era casada com meu pai, antes de conhecer Emma, por quem ela se apaixonou. Eu sou fruto desse casamento fracassado, isso resume bem minha vida. Mas não hoje. Fomos ao aeroporto buscar um garoto, chamado Austin, uma grande coincidência levando em consideração que moramos em Austin, que passaria o próximo ano na nossa casa, e esse belo fato me acordou às seis da manhã. Então ele apareceu, um cara alto com moletom azul marinho e um all star preto surrado. Era arrumadinho, bonito até, mas diferente do que eu imaginei, os cabelos bagunçados e as olheiras não combinavam muito com minha ideia de galã britânico. Era o tipo de cara que Amora, minha melhor amiga, chamaria de "má influência" só por olha-lo, mas não me pareceu tão ruim assim. Ele deu um aceno tímido, e veio em nossa direção. Depois de abraços desconfortáveis e sorrisos amarelos, mama perguntou:
— Como foi a viagem, querido? Sua mãe me disse que você tem pavor de aviões - ela insistia em chamar qualquer um mais novo que ela de querido.

— Cansativa, mas foi tudo bem. Ela exagerou, só não gosto de turbulências, e podem me chamar de Austin se preferirem - respondeu ele, com um sorriso de meia lua.

— Certo. Austin, então. Mas podemos voltar para casa? É frio aqui e eu estou com fome, e mais tarde Amora vai me visitar - interrompi.

— Eu também, vamos, Austin deve querer dormir - disse Spencer, parecendo querer pôr fim às formalidades, por isso eu amo minha mãe.

Ouvi mama murmurar alguma coisa sobre Amora não ter casa, mas a ignorei. Ninguém falou muito no carro, talvez pelo mau humor matinal, talvez para dar espaço a ele para apreciar a cidade, não tive certeza. Quando chegamos em casa, fiquei para ajudá-lo a levar as malas. Antes que o silêncio se tornasse constrangedor, perguntei algo que me deixou curiosa desde que avisaram que ele viria:

— Por que Austin? Têm lugares melhores para se conhecer.

— Não é óbvio? - respondeu ele sorrindo, enquanto sumia através do batente da porta.

Tudo entre começo e fimOnde histórias criam vida. Descubra agora