Cap. 10 - Como parar o tempo (Moonbin)

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              "Está bem. Por onde eu começo? Essa história tem um início difícil de ser definido. Seria muito fácil dizer que estou apaixonado por Julieta. Muitos simples falar que vê-la sofrer me faz mal, mas a facilidade e a simplicidade dos fatos não os transformam em mentiras. Julieta era a garota que eu queria guardar em uma redoma de vidro e proteger do mundo, mas eu sabia que, se o fizesse, ela escaparia de lá e se revoltaria contra mim. Uma menina rebelde e a favor da liberdade, como ela é, com certeza não gostaria de ser aprisionada, tanto física quanto psicologicamente.
              Eu não sei quando passei a conhecê-la quase tão bem quanto conheço a mim mesmo, nem sei apontar quando que meu sentimento de amizade se transformou em amor. Não posso dizer que foi amor à primeira vista, quando a conheci ela chamou atenção, mas não foi bem assim. Julieta veio morar na Coréia quando tinha quinze anos, éramos calouros do ensino médio. Ela era magrinha, tinha um grande sorriso metálico e seu cabelo encaracolado passava da cintura. Ela chamava atenção de todos pelo deus trejeitos, sua alegria e sua beleza diferenciada, ocidental. Pensando em retrocesso, pode-se dizer que foi durante o último ano do nosso ensino médio que as coisas se transformam. Sempre fomos amigos, mas não éramos tão próximos, não como ela era de Eunwo, eu notei que algo havia mudado quando esse último fato começou a me aborrecer, eu queria mudá-lo, queria me tornar alguém mais ligado a ela.
              Estudávamos na mesma sala desde o início do segundo grau, fazíamos trabalhos juntos e ela sempre me ajudava a passar de ano. Porém, no  nosso ano de formatura ela mudou de maneira radical. Nas férias ela foi visitar sua família no Brasil e quando voltou, depois de três meses, tinha reduzido seus longos fios, seu cabelo agora nem cobria sua nuca. A garota passou a usar lentes de contato, deixando de lado seus grandes óculos redondos. Ela havia retirado o aparelho também, seu sorriso estava mais radiante do que nunca. Sem falar de seu corpo, não sei se este havia mudado de uma hora pra outra ou se eu que comecei a prestar atenção nele depois que ela voltou. Ela era tão exótica, tão diferente, tão incomum. Não pude evitar, me apaixonei. Caí por ela como um grande idiota.
              Mas ela nunca reparou, só tinha olhos para um cara, Cha Eunwoo. Ela escondeu muito bem, eu mesmo demorei um tempinho pra reparar, acho que sou o único que sabe, sem ter minhas dúvidas, além dela. Talvez por isso que eu tenha desistido de ter um relacionamento amoroso com Julieta, percebi que minhas chances com ela eram nulas. Mesmo assim quis me manter por perto, afinal, melhor ser amigo do que um completo desconhecido. Quem sabe um dia não teria uma chance?
              Quando a avó de Eunwoo ofereceu a casa para que eles ficassem durante o tempo da faculdade eles me procuraram pra perguntar se eu não queria me mudar com eles. Acabei aceitando por causa dela. Seria divertido morar embaixo do mesmo teto que minha amada e meu rival (percebe-se que meu conceito de diversão é meio distorcido). Enfim, é meio esquisito pensar assim, mas com o passar do tempo as coisas foram mudando pra melhor. Eu e a Ju nos aproximamos bastante e eu até fiz amizade com o Eunwoo hyung, ele não é a pessoa que demonstra ser, nem de longe. Eu também fiz várias outras amizades, já que dividimos a casa com mais quatro meninos. Todo mundo é bem unido e as brigas são raras. Posso dizer que estou vivendo a melhor fase de minha vida. Acho até que superei Julieta, talvez encontre um novo amor."
              Pela manhã, encarei esse papel onde escrevi tudo aquilo por um bom tempo. "Ah, Moonbin! Você é patético... sofrendo por uma paixão de ensino médio?" Me sentia um idiota por precisar de um diário pra desabafar, não era exatamente um diário, só uma folha aleatória do meu caderno. Mesmo assim era a única coisa que podia fazer. Me sentia mais idiota ainda por ter acreditado que superaria Julieta. Ter dormido e acordado ao seu lado acendeu em mim as  chamas  da esperança.
              Depois, sentado ao volante a caminho de casa com Ju ao meu lado, não conseguia tirar suas feições matinais de minha mente. Ela ficava simplesmente perfeita enquanto dormia. Eu juro que não tinha intenção nenhuma de dormir com ela, meu único objetivo era fazê-la se sentir melhor depois de ter seu coração partido (quase fui capaz de ouvi-lo se estilhaçando ao receber a notícia de que Eunwoo hyung estava namorando). Se antes sua paixão era segredo, agora todos presentes naquele momento já sabiam, não era possível. Achei que aguentaria ficar desperto até o final do filme, mas acabei adormecendo. Acordei com ela se remexendo e percebi que estávamos abraçados, aquilo fez meu coração acelerar de um jeito que nenhuma ação de qualquer garota jamais fora capaz de fazer. Naquele momento eu soube que ainda a amava.
              Ela recitava o poema do filme em sussurros, mesmo assim ainda fui capaz de ouvi-la. Minha pequena estava chorando e o culpado era aquele lerdo do "melhor amigo" dela, ele dizia conhecê-la tão bem, como não havia reparado que ela se apaixonara por ele? Os namoros de Julieta, que foram poucos, nunca duravam. Bastava Eunwoo entrar em desacordo com o carinha que ela ficava do lado do amigo. A maneira como ela olhava pra ele, fazia claro pro mundo que ela o amava, aquilo era a pior parte de ser amigo dos dois. Pra que ela não se afastasse, tive que suportar inúmeras situações que muito me chatearam, mas das quais não podia reclamar, já que era apenas um amigo da menina.
              Quando ela desligou tudo pensei em me levantar e ir para minha cama, mas então ela se aconchegou em meus braços e não tive coragem de ir embora, optei por dormir ali mesmo. E assim o fiz, acordando só no dia seguinte e tendo a melhor sensação do mundo, a de ter passado a noite com Julieta ao meu lado, mais próxima do que nunca. Pode parecer besteira ou uma coisa qualquer para outras pessoas, mas para caras apaixonados isso é muito importante. Jovem rapazes em processo de paixonite são tão melosos quanto garotas, nós apenas não demonstramos tanto assim, fica "feio demais pra nossa masculinidade".
              Apesar de não querer tirar proveito da situação, tenho que confessar que ser flagrado por Eunwoo enquanto saía do quarto dela foi extremamente satisfatório. Não sei se ele tinha intenção de demonstrar isso, mas seus olhos estavam cobertos de ciúmes quando cruzaram com os meus. Ele me encarava sério, enquanto esperava uma explicação que não viria da minha parte, não devo satisfações a ele. Porém, quando o vi indo em direção à porta de Julieta, não pude deixar de interferir. Se ele perguntasse qualquer coisa ela responderia, com toda certeza. Apenas falei a primeira coisa que me deu na telha, depois fui me arrumar. Não queria que ele ficasse perguntando sobre nós dois (por mais que não tivéssemos nada, ainda).
              Mais tarde, quando Emily me ligou pedindo uma ajuda, eu fiquei muito preocupado. Ela falou algo sobre ela e Ju estarem no hospital. Não pensei duas vezes, larguei minha aula e fui socorrer minha pequena, mesmo tendo a certeza de que não fui sua primeira opção. O alívio que senti ao passar por aquelas portas e vê-la bem, só com um curativo, foi indescritível. Lhe dei um abraço demorado apenas para ter certeza de que era real. Parece exagero da minha parte, mas não pude evitar. Havíamos chegado em casa e eu não queria que ela se esforçasse. Fiz tudo pra que minha garota se sentisse bem. Antes mesmo da fome bater, fui até a cozinha preparar um lanche pra gente. Ao voltar pra sala, tive a brilhante ideia de colocar um pouco de música, tava tentando animar ela um pouco, sem segundas intenções (tá bom, talvez eu quisesse criar um clima).
              Quando aquela música do Ed Sheeran começou a tocar não pude deixar de cantá-la. Ela se encaixava tão perfeitamente na situação. Já havíamos dormindo na mesma cama, eu a tratava de maneira diferente e, bem, havia amor envolvido. A canção parecia um manual que eu segui em meu relacionamento com Julieta. Agora cantávamos juntos, em um dueto muito harmônico. Eu não fazia ideia de que ela cantava, muito menos que tinha todo esse talento. Sentia como se pudesse ouvir sua voz doce pro resto da minha vida!
              Ela se encontrava encostada em mim, com sua cabeça em meu ombro. Decidi que aquele era o momento certo para dar um passo adiante, era arriscado, mas eu precisava tentar. Me afastei dela gentilmente e observei ela me olhar meio confusa, não pude segurar, dei um leve sorriso. Ela estava tão perto, eu estava completamente hipnotizado por ela. A garota dominava quase todos os meu sentidos. O seu cheiro de morangos predominava no ambiente. O som de sua respiração acelerada era mais alto do que a música, e uma melodia melhor também. Ela era a única coisa que eu era capaz de ver naquele momento. De repente, enlacei meus dedos de minha mão direita nos curtos fios de sua nuca e a puxei com delicadeza para mais perto ainda. E, juntando o tato e o paladar, eu finalmente a beijei. Foi como se fogos de artifício tivessem sido acesos dentro de mim, e quando ela correspondeu eles estouraram no mais belo show de cores e emoções. Naquele momento só havíamos nós dois e o tempo era a maior inconstância do universo, ele estava completamente parado. Não acreditei que finalmente pude senti-la por completo.

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