Nossa Ponte

Cap 1 - Meu maior pesadelo (Julieta)

Estava sentada em uma mesa embaixo de uma árvore daquela faculdade linda. Tudo ali me encantava. O professor tinha liberado minha turma mais cedo e por isso eu tinha saído pra comer algo com uma amiga da minha classe e fiquei por lá mesmo. Normalmente eu passo meus intervalos com os meninos com quem moro, as pessoas nem mesmo são acostumadas a nos verem separados, parece que somos grudados. Algumas pessoas acham que eu namoro com eles (sim, sou shippada com todos), mas a verdade é que eu não namoro nenhum deles. Bem que eu queria, infelizmente me apaixonei por um deles, mais especificamente pelo que é mais próximo de mim, também conhecido pela faculdade como a personificação da palavra beleza, Cha Eunwoo. Chato isso, né? Bem clichê, eu admito. Mas não há nada que eu possa fazer a respeito. Pra ser sincera eu não fazia muito esforço pra tirá-lo de minha cabeça. Veja bem, minha situação era bem confortável. Eu sou a garota mais próxima dele, nossa relação é ótima, não existem segredos entre nós. Eunwoo nunca me falou de garota alguma, mesmo sendo o menino mais lindo daquela universidade inteira (não tô falando isso por ser apaixonada por ele, mas sim por saber da quantidade de cartões e presentes que ele recebe sempre). Isso me deixava segura de alguma maneira.
 Era justamente nisso que eu estava pensando, com aquele sorriso meio bobo quando minha amiga me chamou a atenção.

- Julieta, você tá com aquela cara de novo! Tá pensando no seu Romeu, né? - Como uma boa aluna de Literatura ela adorava brincar com o meu nome.

-Que Romeu, Sra. Bontë? - Respondi fazendo cara de inocente. Eu a chamava assim por que seu nome é Emily, igual o da escritora famosa.

-Ah, Julieta! Para de tentar me enrolar. Eu sei que você tá apaixonada! Só falta descobrir por quem, mais especificamente, por qual daqueles seus amigos!

-Emy, não começa! Já falei pra você que não es...

 Eu ia lhe dar a resposta de sempre, que não estava com essa doença chamada de paixão. Eu estava prestes a mentir na cara dura e negar tudo pra minha amiga. Infelizmente, meus olhos pararam neles. A primeira coisa que notei foram os olhares, eles se encaravam com intensidade. Depois, reparei na maneira como ela arrumava o cabelo atrás da orelha direita e sorria pra ele. A última coisa que vi antes de minha visão embaçar foi Eunwoo se aproximando dela para selar os seus lábios.
Levantei bruscamente, assustando Emy, que seguiu o caminho dos meus olhos e logo entendeu tudo, ela finalmente havia descoberto qual amigo era minha paixão platônica. Não dei tempo pra que ela me falasse nada, peguei minhas coisas e saí daquele pátio me amaldiçoando. Como pude ser burra a ponto de achar que estava segura? Como pude acreditar que ele não arranjaria ninguém? Tá certo que eu nunca tinha feito nada que indicasse pra ele o que eu sentia por medo de ser rejeitada e perder a amizade dele, mas eu achava que ele tinha reparado em mim. Até mesmo acreditei que pudesse sentir o mesmo por mim. Porcaria de paixão platônica jovem! Agora meu coração juvenil estava em cacos, sentia aquele típico nó na garganta, queria gritar e me entregar a um choro infantil com direito a soluços e tudo o mais. Mas não o faria, não ali, esperaria até o momento certo para isso.
Rumei para o banheiro mais próximo em busca de me recompor. Lavei meu rosto e respirei fundo. Me acalmaria e voltaria pra aula. Mas só chegaria à sala de aula assim que o sinal batesse, assim que a professora nos liberasse seria a primeira a sair. Não queria encarar Emy e queria ir embora antes de poder me encontrar com Eunwoo pelo caminho ou, até mesmo, ao chegar a casa.
                                                                                                               ~•~

Fiz o que estava planejando. Ignorei as mensagens e nem mesmo olhei pra Emily durante a aula. Agradeci por ter encontrado uma carteira próxima à porta, isso facilitou muito a minha vida. Assim que a professora nos liberou saí da sala já colocando meus fones, nem me dei o trabalho de olhar pra trás quando minha amiga me chamou, apenas segui meu caminho em direção à parada de ônibus. Normalmente voltava de carro com um colega de Eunwoo que morava perto de nossa casa, mas por motivos óbvios não o faria hoje.
No campus pude ouvir a voz de meu amigo me chamando ao longe, resolvi ignorar e apertei o passo aumentando o volume da minha música. Cheguei à parada e vi que ele não havia vindo atrás de mim. Suspirei, talvez por alívio ou talvez por tristeza mesmo. Estava confusa e não conseguia pensar adequadamente, a única coisa em minha mente era a cena de Eunwoo beijando outra garota que não eu.
O caminho pra casa foi tranquilo, sem surpresas. Quando cheguei não havia luzes acesas, mas eu sabia que todos já estavam em casa. Subi a escada com passos rápidos e rumei para meu quarto, o último do corredor. Eu era a única garota na casa e não dividia meu quarto com ninguém. Entrei e logo fechei a porta, precisava tirar aquelas roupas e substituí-las por algo mais confortável e que combinasse com o meu humor atual. Coloquei um blusão e um short bem simples, logo depois prendo meus cabelos curtos de qualquer jeito, alguns fios caíram por se impossível prender todos. Parei com a correria após pegar o necessário e colocar em uma bolsa. Me olhei no espelho.

-Você está deplorável, Julieta!

Foi o que falei baixo, pra que só eu pudesse ouvir. Já sentia os olhos ficando úmidos e não queria que algum dos meninos me visse assim, seriam perguntas demais que eu não saberia responder. Me dirigi para porta de casa e logo estava na calçada sentindo meu rosto ser molhado por minhas lágrimas, as limpei de maneira rápida e desajeitada com a manga de meu blusão e segui meu caminho até meu lugar de sempre pra curtir minhas tristezas.