Capítulo 2

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Margaretha se perguntava se ir à uma festa de seu pai um dia após a morte de seu marido era algo prudente a se fazer. Depois de uma manhã de ponderação, onde sua vontade era partir o mais breve possível de volta à Florença, ela decidiu ir.

Aparecer socialmente, aceitar pêsames, e fingir tristeza, iria mostrar a todos que estava numa tênue linha do bem.

De fato talvez outro ótimo argumento para ficar era a possibilidade de um reencontro com o cocheiro. Havia passado a noite em claro pensando sobre a possível visão e encontrou-se determinada a torná-la real.

Seu marido tivera inúmeras amantes, assim como todos os outros homens que conhecia. Já fora criada para ser casta e obediente. Se iam enfiá-la outra vez em algum maldito casamento infeliz, primeiro Margaretha iria experimentar os prazeres da vida.

- Aperte um pouco menos. - Olhava-se no espelho enquanto a criada amarrava o vestido junto ao seu corpo.

- Geralmente gosta de apertado, alteza. – Antonietta deixou como estava e deu um laço na fita de cetim.

- Temo sentir um pouco de falta de ar está noite.

Era uma boa desculpa para encobrir a verdade. Se em algum momento seu vestido fosse desamarrado e as amarras ficassem frouxas ninguém perceberia a diferença. A visão ou o simples delírio havia despertado na duquesa um lado que ela nem sabia existir. Um lado devasso e lascivo que não parecia aquietar-se até provar as possibilidades.

Olhou-se no espelho. Sabia que poderia ficar mais bonita e atrativa com um decote maior e joias mais bonitas. Porém precisava manter o período de luto, ou ao menos fazer com que todos acreditassem nisso.

Passou a mão pela saia do vestido, um denso e felpudo veludo negro, o mais belo que tinha. Olhou-se no espelho, os cabelos ruivos bem penteados em um coque, os olhos intensos e profundos. Não era alguma mestre na arte da sedução, mas acreditou estar atraente para um simples plebeu.

- Milady?

- Sim, Antonietta? – Ela virou-se para a dama ao seu lado.

- Permitiria que eu fosse ao baile. Sei que há muitas pessoas interessantes na corte espanhola.

- E homens bonitos? – Margaretha riu.

- Também. – A moça se encolheu com a vergonha.

- Vá sim. Diga a Jane que o convite se estende a ela.

- Muito obrigada, alteza.

- Esperei que tenha um bom baile. – A duquesa se levantou com toda a sutileza e deixou o quarto, caminhando sozinha até o salão do trono onde boa parte da corte já se reunia. Joias e mais joias refletiam o bastante para deixar a visão de Margaretha um pouco embaçada.

Acabou esbarrando em um homem pelo meio do caminho e por pouco não derramou o vinho dele ao chão.

- Desculpe-me...

- Talvez se olhar por onde anda... Alteza!

Ela torceu os lábios.

- Eu sinto muito e meus pêsames por sua perda. Todos nós lamentamos a morte do duque de Florença.

- Obrigada, conde...

- Apenas Érico. – Ele lhe tomou a mão e levou-a gentilmente aos lábios.

- Ah, sim, Érico! – Margaretha deu um breve e amarelo sorriso. Sabia que os galanteios logo começariam, porém não imaginou que fosse em tão breve.

- Dê-me licença, vou cumprimentar o imperador.

- Claro, alteza. Conversaremos em outra hora.

O Amante da Duquesa ( Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora