Capítulo 9

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- Qual o motivo de tamanho sorriso, alteza? – Antonietta estranhou o brilho nos olhos e os dentes arreganhados de sua senhora enquanto vestia nela o vestido negro para simbolizar seu luto, ou fingi-lo.
- Não é nada. – Margaretha passou os dedos por seus cabelos ruivos ao se olhar no espelho. Tentou ao menos disfarçar sua momentânea felicidade. – Apenas dormi bem como não fazia há muito tempo, talvez se devesse ao extremo cansaço do dia anterior.
- Compreendo. Espero que hoje seja um dia melhor.
- Duvido muito, mas ligarei com ele como com todos os anteriores.
- Disso eu tenho certeza, milady.
- Antonietta? – A duquesa de olhava no espelho, mexendo na discreta joia em seu pescoço.
- Sim, Vossa Graça? – A dama se curvou ao acabar de vestir sua senhora.
- Quero fazer novos vestidos para usar depois que passar meu período de luto. Peça que alguém vá ao centro de Florença trazer-me a modista.
- Como desejar, milady. Pretende fazê-lo para agradar novos pretendentes?
- Sim. – Margaretha sorriu, grata pela desculpa que a criada havia lhe dado. De tudo não seria uma grande desculpa, pois queria sim ficar bonito para um homem, mas esse não era nenhum nobre que se atraía pelo título e bens que carregava.
- Farei como desejar. – Antonietta se curvou e foi fazer o que lhe fora ordenado.
Margaretha pegou algumas uvas na bandeja de seu desjejum que fora trazida pela criada e mastigando, caminhou até a janela. Sentiu a brisa fresca da manhã fazer voar seus cabelos soltos enquanto observava a vastidão da propriedade. Havia um pequeno palacete no centro de Florença que também pertencia ao duque e agora a ela, mas a duquesa gostava da paz que a propriedade um pouco mais afastada .
Ela respirou fundo e comeu mais uvas e alguns pedaços de queijo. Seria um dia longo e ela iria precisar estar pronta para lidar com ele.
A visita de Cosmo de Médice no dia anterior só deixava claro a vontade deles de reaver o ducado, mas ela não permitiria isso. As terras deveriam ser suas por direito tendo filhos com o duque ou não.
Após acabar seu desjejum, ela caminhou até o escritório e passou a manhã lá entre papais e documentos, estava se inteirando de toda a situação econômica e polícia do condado. Por sorte, o também falecido assessor de seu marido havia deixado tudo muito bem documentado. Precisava encontrar alguém assim para assessorá-la.
- Vossa Graça? – Alguém pateu na porta fazendo-a levantar a cabeça da pilha de papéis.
- Entre. – Ela deixou os papéis de lado e cruzou a mão sobre a mesa.
- Milady, chegou essa carta. – O mordomo adentrou o escritório e foi direto entregar o envelope para ela fechado pelo lacre real da Espanha.
- Entendi. É do meu pai.
- Supus pelo selo.
- Agora pode se retirar. – Ela fez um gesto com a mão.
- Tudo bem. – o mordomo assentiu e deixou o escritório.
Margaretha quebrou o selo e se começou a ler a carta.

Querida filha, Margaretha,

Suponho que retorne para à corte em breve, uma vez que soube ser de interesse dos florentinos escolher um novo duque. Penso que deveria ter ficado aqui, para poupar-se de qualquer desgaste, embora conheça bem seu temperamento, que às vezes faz-me lembrar-me de sua mãe. De qualquer forma não se preocupe, em breve mandarei que a busquem para que não seja de forma alguma humilda por esses italianos.
Com alegria que conto-lhe sobre o início das negociações de um contrato de casamento com o duque de Parma. Uma união muito vantajosa que manterá  sua posição como duquesa e trará benefícios a Espanha.
Espero que esteja ansiosa para conhecer seu futuro marido. O duque já ouviu muito sobre sua beleza e deseja vê-la em breve.
Aguardo ansiosamente seu retorno à corte.
Sua majestade imperial, Carlos V, imperador da Espanha.

Margaretha amassou o papel entre seus dados sim rompante de raiva. Pareciam que todos já traçavam seu destino por ela, sem nem perguntar sua opinião a respeito. Ela não tinha intenção alguma de retornar a Espanha, muito menos casar-se com o tal duque de Parma.
Após a morte de Alexandre e o estátua de viúva que havia lhe dado um pouco de autonomia, Ela viu vislumbres de escolas e uns rompantes de felicidade.
Decisões faziam dela uma mulher mais vivida. Dane-se os benefícios a Espanha! Não ia meter-se em mais um casamento arranjado, tão pouco abandonas Florença. Amava o lugar, os criados, os vinhedos e padarias, não iria permitir que tirassem isso dela, nem a Giovanni...
Ah, Giovanni! Pegou-se suspirando ao pensar no cocheiro. Ele dê certo lhe proporcionava bons momentos de felicidade que não iria encontrar em um casamento de conveniências. O prazer viril de amantes que não imaginou que seria tão intenso antes do rompante imprudente que a fez se atirar nos braços do homem...
Ouviu uma batida na porta que a tirou de seus pensamentos.
- Sim, quem é?
- Sou eu, alteza, o cocheiro. – A voz tão rouca é aveludada ao mesmo tempo foi como música aos ouvidos da duquesa.
Embriagada, ela não respondeu.
- Retornarei em outro momento.
- Não! – Ela se apressou para abrir a porta e deixou a carta cair. – Pode entrar.
Encontrou-o parado, com a cabeça um tanto baixa. Uma mecha do cabelo na altura do queixo pendia sobre os olhos, tornando o verde ainda mais misterioso. Assim que ele se deu conta que a porta havia sido aberta, ergueu a cabeça e sorriu para Margaretha.
Ela se apoiou no batente da porta, derretendo-se por um instante. Precisou se conter para não se aproximar dele, colocar a mecha que estava sobre os olhos atrás da orelha e acariciá-lo no rosto.
- Se eu vim em um momento inoportuno posso voltar em outra hora. – Ele meteu as mãos nos bolsos e tentou mostrar indiferença, ainda que os lábios vermelhos fossem muito convidativos.
- Não. Está tudo bem. Lembro-me de ter ordenando-lhe que viesse. Como cocheiro de uma duquesa é primordial que ande bem vestido.
- Compreendo, milady. Como desejar.
Ela entrou no escritório e pegou uma bolsa com moedas de ouro dentro de uma gaveta.
- Tome esses florins e vá a cidade, comprar-lhe roupas novas.
- Mas é muito dinheiro, milady. – Ele se assustou com o peso da bolsinha de veludo azul.
- Não ouviu o que acabei de dizer? O cocheiro de uma duquesa precisa estar bem apresentado.
- Sim, alteza. – Ele se encolheu, mesmo que achasse que aquele dinheiro era muito mais do que precisava.
Eles se fitaram por longo segundos. Com medo de fazer algo estupido ou imprudente Giovanni desviou o olhar e viu a carta no chão. Estendeu-se para pegá-la. Não era sua intenção, mas leu uma linha ou outra.
- Vai casar-se outra vez, alteza?
- Não deveria saber ler, cocheiro! – Irritada, tomou a carta da mão dele.
- Aprendi algumas coisas durante a vida. – Giovanni era um homem observador e curioso o que bem condizia com sua alma de artista, mas isso não vinha ao caso e ele não se delongou. – Vai casar-se, milady? – ele insistiu mais do que deveria.
Margaretha esticou a cabeça para ver se havia alguém no corredor, ao certificar-se que não, fechou a porta.
- Não, não vou me casar. - Fitou-o com os olhos marejados. – Mas é o que todos esperam de mim.
- Mas é a duquesa!
- Se depender dos Médice eu não serei por muito tempo. – Passou as mãos pelos cabelos enquanto tentava respirar. Era incrível como com Giovanni ela consegui se sentir estranhamente leve.
- Não pode impedir que façam isso?
- Se surpreenderia, Giovanni, ao descobrir que mesmo sendo um simples cocheiro por ser homem tem mais poder do que eu.
- Não é justo. – Ele a acariciou no rosto.
- Seria lindo se o mundo fosse... – Se pudesse ser meu duque, completou em pensamentos.
- Para onde irá se casar-se de novo?
- Talvez eu fique aqui e me casar com Cosmo ou vá para a Parma como é a vontade de meu pai.
- E qual a sua vontade? – Ele não resistiu em puxá-la pela cintura e aninhá-la contra seu peito.
Margaretha estremeceu ao sentir o calor envolvente do homem tão viril.
- Ficar aqui, como viúva e senhora das terras.
- Então faça isso.
- Não sei se posso.
- Tenho certeza que sim. - Beijou-a no alto da cabeça.
- Quero continuar com nosso caso. – Ela ergueu a cabeça e fitou os profundos olhos verdes.
- Não vejo por que precisemos terminá-lo. Irei segui-la onde for preciso.
Poderia ter sido a frase mais simples que Giovanni disse na vida, porém para Margaretha teve um significado imenso. Ouvi-lo dizer que a seguiria, significava que ela não estava mais sozinha como se sentiu em toda a sua vida. Ouvir isso talvez fosse a força a mais que precisava para continuar lutando pelo ducado que julgava ser seu.
Afundou os dedos pequenos e delicados nos cabelos dele e puxou o rosto de homem para si. Assim que ela o beijou, Giovanni a apertou mais contra si, moldando as curvas do corpo dela ao seu. Tendo-a ali em seis braços, percebeu o ciúmes que sentiu perante a possibilidade dela ser entregue a outro homem. Faria o possível para que isso não acontecesse.
Em alguma parte racional de sua mente, Giovanni pensou no quão arriscado era estarem se beijando em plena luz do dia no escritório da duquesa onde qualquer um poderia chegar e encontrá-los, mas no momento em que a língua doce da mulher deslizou para dentro de sua boca, encontrando a sua, ele parou de se preocupar.
Entregue ao mais profundo e cego desejo, Margaretha deixou de pensar no que enfrentaria na busca por tomar as rédeas da própria vida, e apenas permitiu-se sentir o que a fazia tão bem. Estava contando os minutos para que a noite chegasse, mas talvez não precisasse mais esperar.
Giovanni a pegou no colo e sentou-a na mesa. Na parte voltada para a parede, de forma que ele pudesse ver a porta que certificou-se estar fechada.
Margaretha se mexeu empurrando sem querer um frasco de tinta, mas Giovanni o pegou no ar, evitando que caísse no chão provocando qualquer barulho.
- Cuidado, milady...
A duquesa cobriu os lábios dele com os seus, impedindo que ele continuasse a falar.
Giovanni colocou o frasco de tinta em uma distância segura sobre a mesa e voltou a beijá-la. Os lábios da mulher tinham um delicioso sabor adocicado no qual ele suspeitava já estar viciado. Com as mãos firmes apertou as coxas ainda protegidas pelas saias do vestido, fazendo-a gemer contra seus lábios.
Ele travou um caminho de beijos que saiu da boca, desceu pelo pescoço, percorreu a clavícula e escorregou até a elevação dos seios que escapava do decote. Ele afrouxou um pouco as amarras e passou a língua entre eles, fazendo Margaretha estremecer e rebolar sobre a mesa, erguendo do quadris na direção do homem que estava entre suas penas. Ela elevou o corpo, estufando mais os seios, implorando para que as mãos firmes o encontrassem.
Giovanni mordiscou os lábios sorrindo e agarrou os seios dela com ambas as mãos pouco antes de se ajoelhar no chão e colocar a cabeça entre as várias saias duquesa. Ela estremeceu e arregalou os olhos. O que ele estava fazendo ali? Não fez mais perguntas quando ele assoprou sua feminilidade fazendo-a se contorcer sobre a mesa e cravar as unhas na madeira.
Ele já havia feito isso antes e Margaretha estava preparada para as sensações que que o homem lhe provocaria. Abriu mais as pernas em um convite bem sujeito.
Giovanni enfiou também as mãos por dentro do vestido, agarrando a parte interna das coxas da duquesa, puxando-a para si. Encontrou o botão aveludado e o lambeu de vagar fazendo a mesa ranger de tanto que Margaretha rebolou. Sorriu antes de retomar o movimento, fazendo duas, três vezes em seguida.  Ela estremecia, puxava seus cabelos e gemia a cada vez que ele a provocava com a língua. Giovanni começou a mover a língua em movimentos circulares no momento em que deslizou um dedo para o interior dela. Deliciosamente molhada...
Margaretha jogou a cabeça para trás e mordeu os lábios para conter o gemido alto. Remexeu os quadris, rebolando contra o dedo dele. Como era delicioso! Revirava os olhos nas órbitas.
- Alteza? – Ouviu uma batida na porta e em seguida alguém abri-la.
Como um felino, Giovanni puxou a saia dela e se esgueirou para debaixo da escrivaninha onde apenas alguém atrás do móvel poderia ver.
Margaretha saltou para o chão, ajeitando rapidamente a roupa pouco antes do mordomo entrar no escritório.
- Milady, está sozinha?
- Com quem mais eu estaria, homem? – Ela cruzou os braços.
- A porta estava fechada e jurei ter ouvido vozes, pensei que havia alguém.
- Eu estava pensando alto e queria ficar sozinha. Pensei que tivesse esse direito, até mulheres como eu.
- Claro, alteza! – Matteo abaixou a cabeça, envergonhado. – Desculpe-me por ter lhe incomodando.
- Da próxima vez não entre sem ser solicitado ou lhe trocarei por outro mais conveniente.
Matteo engoliu em seco. Não queria ser dispensado, precisava muito de tal emprego.
- Peço as mais sinceras e humildades desculpas, alteza!
- Agora saia daqui! Quero continuar sozinha.
- Como desejar. – O mordomo se curvou e deixou o escritório.
Margaretha caminhou até a porta e seguiu o homem com o olhar até que ele desaparecesse ao dobrar o corredor.
Quando se virou Giovanni estava atrás dela e a duquesa  tomou um grande susto. Ele a segurou pelos cotovelos para que a mulher não tombasse para trás.
- Acalme-se! – Beijou-a na testa.
- Não faça isso outra vez. – Margaretha fechou a porta.
- Estou impressionado, consegue ser muito durona quando quer.
- Eu preciso ser, ou vão devorar-me viva aqui.
- Eu compreendo. – Giovanni pegou uma mecha do cabelo dela e o colocou atrás da orelha. – Precisamos tomar mais cuidado ou acabarão nos vendo juntos.
- Gostaria de não precisar esconder. – Foram as palavras mais sinceras que ela disse durante todo o dia.
O sorriso de Giovanni se iluminou com um largo sorriso e Margaretha o achou ainda mais bonito.
- Fico muito contente em ouvir isso. Mas sou racional o bastante para saber que ter um amante, ainda mais um sem posses ou títulos como eu só pioraria ainda mais a situação.
- Não quero que se afaste. – Fitou profundamente os olhos verdes dele.
Giovanni deu nela um breve selinho.
- Não irei. Não me importo de ser a única que possa saber disso.
Margaretha devolveu o sorriso, sentindo-se feliz como não se lembrava ser possível.
- Eu preciso voltar para o estábulo.
- Espere! Deixe-me sair primeiro e espantar quem quer que esteja nos corredores.
- Tudo bem.
Ela deu um passo na direção da porta, mas Giovanni a segurou pelo pulso, puxou-a para si e rendeu-a em um beijo intenso. Ele não conseguia resistir ao magnetismo dos lábios dela, talvez nem quisesse.
O coração de Margaretha disparou no momento em que ele a pegou de surpresa. Num instante o homem dizia que precisava ser cuidadoso e no outro estava com os lábios sobre os da duquesa outra vez. Trêmula, abriu a boca permitindo se deliciar com a língua dele.
Quando se afastaram ela estava trêmula e ofegante.
Margaretha foi até a mesa e pegou a bolsa de moedas que havia dado a ele.
- Vá até a cidade e compre o que precisar. – Tocou a mão dele com a sua.
No momento em que as palmas se roçaram Margaretha sentiu que havia saído de si.

Nas visões em que ela não estava inserida, Margaretha era apenas uma observadora, alguém que observava pelo buraco da fechadura.
Na frete de Giovanni havia um homem, alto, magro, bem vestido, andar elegante e cabelos negros, pelo ângulo era tudo que ela conseguia distinguir. Ambos caminhavam por um túnel estreito que culminou em uma grande sala com poucas janelas um pouco de poeira acumulada. Haviam vários quadros e telas em branco. Alguns outros homens se espalhavam pelo cômodo, concentrados em pintar uma mulher apenas parcialmente coberta por um lençol branco.
- Pode pegar uma tela ali. – O homem se virou para Giovanni apontando para atrás do cocheiro. – E os pincéis estão naquele outro canto a esquerda. Comece, quero ver o que sabe fazer.
- Eu entusiasta é um mero aprendiz.
- Grandes mestres foram aprendizes algum dia

- Milady? – Giovanni se preocupou com os olhos dela, fora de foco, fitando o nada por longos segundos. – Está tudo bem?
- Sim. Está sim. – Margaretha piscou os olhos várias vezes ao sair da visão.
- Estava dispersa, distante.
- Isso acontece comigo às vezes. Desculpe-me.
- Tudo bem. – Ele voltou a sorrir.
- Por acaso é um artista, Giovanni?
- Artista? – Ele arregalou os olhos, surpreso. – Por que a pergunta?
- Tem um resto de carvão no canto de uma das suas unhas. Além disso, lembro-me de ter sentido cheiro de tinta a olho quando estávamos na Espanha. Aposto que esse cheiro vinha de sua camisa. Então é um pintor?
Giovanni engoliu em seco. Fazia economias para poder pintar, mas era como um segredo que morreria com ele.
- Não diria que sou um pintor.
- Não?
- Um interessado, talvez.
- Isso é incrível!
Conhecer esse lado de Giovanni fez muitas coisas se tornarem ainda mais claras na cabeça dela: entre elas o espírito livre do cocheiro, a forma peculiar de tratar tudo a sua volta. Entre tantas outras coisas que sempre q fizeram reconhecê-lo como um homem diferente dos outros.
- Achei que alguém de sangue nobre acharia isso uma tolice.
- E por quê? De forma alguma. 
- Fico contente em saber que gosta. – o sorriso retomou ao rosto dele.
- Pode fazer um quadro meu?
- Eu adoraria.
- Obrigada. Nos vemos depois. – Margaretha saiu porta afora e o cocheiro esperou alguns minutos para que fosse seguro sair também.

O Amante da Duquesa ( Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora