III - A grávida milagrosa

334 46 9
                                    

     
O caminho até a delegacia foi até agradável. O policial loiro me deu as rosquinhas para comer, enquanto o careca, com um olhar assustado, me observava devorar vorazmente as rosquinhas.

Porém, ao chegar na delegacia, as coisas foram de mal a pior. O lugar estava quase caindo aos pedaços e eu não consegui segurar a careta enquanto os policiais me guiavam pelo corredor em direção a sala do delegado. O clima ali dentro era abafado, os ventiladores de teto sem surtir efeito nenhum.

Entrei na sala do delegado e o policial careca ficou lá fora, enquanto o loiro entrou e fechou a porta, indicando com a cabeça que eu me sentasse em uma das poltronas.

Dei um sorrisinho amargo ao me sentar na poltrona. Ergui as sobrancelhas ao sentir o ventinho ali na sala. Ah, claro que a sala do delegado era um perfeito ambiente fresquinho e agradável. Enquanto os outros caras se matavam, o delegado ficava na vida boa.

Acho que as vezes me identifico um pouco com o delegado, preciso confessar.

— Então você é a faminta. — o delegado franziu o cenho, me avaliando pacientemente.

Subi as sobrancelhas, indignada. Dezessete anos de pura beleza, riqueza e popularidade para ficar conhecida entre policiais como faminta? Onde foi parar minha dignidade?

— Desculpe? — eu disse, dando um sorriso falsamente confuso. Não vou me deixar ser derrotada assim fácil.

O policial loiro cutucou o delegado, que ergueu as sobrancelhas.

— Que tal perguntar o nome dela, delegado? — o homem sugeriu.

— Ah, certamente. Certamente, Jones, você tem razão. — o delegado disse, virando-se para mim — Como você se chama, menina?

— Vênus Marshall. — respondi. Nem o delegado e nem o tal Jones pareceram surpresos. Foi como se eu dissesse apenas "ei, meu nome é Mariazinha".

Em silêncio, o delegado começou a mexer no computador, distraído. Ele começou a resmungar enquanto fazia caretas para a tela do computador, fazendo parecer que falava com uma pessoa. E, pelo que eu via, a pessoa estava deixando ele bem intrigado.

Olhei para Jones, em busca de uma explicação sobre o comportamento do delegado, mas o policial apenas deu de ombros, mostrando que nem ele entendia.

— Vênus Marshall. — o delegado disse, em tom de deboche, atraindo minha atenção para ele. — Não basta esse nomezinho de deusa de amor, ainda tem que mentir para mim?

Tentei sorrir, mas acho que não obtive sucesso. Eu quis segurar o delegado pelo cabelo e bater o rosto dele na mesa, mas tudo isso com a verdadeira elegância de deusa do amor que meu nome carregava.

— Eu não entendi. — falei, após alguns segundos imaginando o delegado voando pela janela.

— Vênus Marshall. Muito engraçado. — ele murmurou, outra vez. — Não existe. Esse nome não aparece nos dados. Você está omitindo seu verdadeiro nome.

— Eu não estou! — exclamei, recebendo um olhar de reprovação do delegado. Fiz uma careta, encolhendo os ombros — Desculpe.

Ele sorriu.

— Bom. Escute, você pode ser qualquer uma, mas Vênus Marshall não. — o delegado disse. — Porque, obviamente, ela não existe.

— Bem, ela está exatamente aqui na sua frente, explique isso a ela. — debochei.

Não deu para segurar. O homem estava dizendo, na minha cara, que eu simplesmente não existia. Talvez eu fosse presa por desacato a autoridade, mesmo que eu já estivesse tecnicamente presa. As coisas sempre podem piorar, não se engane com essa historinha de "não tem como ficar pior", porque sempre tem.

Quero voltar para casa Onde histórias criam vida. Descubra agora