XXV - Sobre o passado

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Tudo estava absolutamente tranquilo. A luz fraquinha e alaranjada do nascer do sol entrava pela distante janela do celeiro. Adam e eu descansávamos tranquilamente, cada um em seu colchão.

O silêncio me fazia tão bem que, após vários segundos piscando lentamente os olhos para força-los a permanecerem abertos, acabei perdendo a batalha. Voltei a dormir embalada sob o conforto que o celeiro oferecia.

Até aquele pequeno incidente me acordar.

Começou com uma batida frenética na porta lá embaixo. Em pouco tempo, gritos foram acrescentados. Gritos muito animados, por sinal. Alguém, independente de quem fosse, estava animado demais para se considerar uma pessoa em sã consciência.

— Adam. — resmunguei, ainda com os olhos fechados, carrega e sobrecarregada de sono. — É sua vez de acordar.

— Não sabia que estávamos revisando. — Adam devolveu, a voz totalmente arrastada por culpa do sono.

E não estávamos. Mas entre levantar naquele momento e vender metade de meus sapatos, eu começaria a organizar os preços em um catálogo. Qualquer coisa parecia melhor que sair dali naquele momento, até mesmo me livrar de meus sapatos.

Bufei ao perceber que o indivíduo não se cansaria tão cedo. Contrariada, me apoiei no cotovelo e sacudi Adam, com a intenção de fazê-lo acordar de verdade. E, com sorte, ele estaria em um dia bom e se levantaria para abrir a porta.

— Adam! — Exclamei. — Você precisa levantar, por favor!

Adam bufou e empurrou delicadamente meu braço, virando-se de costas para mim. Puxou o edredom, cobrindo-se até a cabeça e permanecendo em silêncio. Decidido a me ignorar.

— Adam? Adam! — Franzi a testa ao começar a reconhecer a voz. Era como se Adam gritasse por ele mesmo... Peter!

Soltei um longo suspiro cansado ao perceber que Peter não ia desistir enquanto alguém não abrisse a porta. Talvez ele realmente estivesse precisando de ajuda. Mas estaria tão feliz assim com um problema para resolver?

Absurdamente tentada a me jogar no colchão e voltar a dormir, deslizei a mão pelo colchão bagunçado, lhe lançando um olhar triste. Não queria ter de abandonar meu querido amigo, não assim tão cedo.

Só criei coragem para levantar quando Adam, com toda delicadeza que possui dentro de si, empurrou meu braço com o pé.

Contrariada, fiquei de pé aos poucos, segurando-me em tudo que era canto. O sono poderia me abater em qualquer momento, era só questão de eu encostar em algum lugar e ficar por muito tempo.

 Desci as escadas devagar, apoiando-me no corrimão velho e um pouco enfraquecido de madeira. Não fraco o suficiente para causar um acidente, mas isso não anulava o meu sono extremo, o que aí sim poderia causar um acidente.

Abri a porta e, surpreendendo um total de zero pessoas, dei de cara com Peter Livemore. Ele sorria animadamente e estava preparado para voltar a chamar e a bater na porta, mas parou assim que me viu. Um tanto decepcionado, admito. Com o orgulho ferido, mas admito.

— Bom dia, Vênus. — Peter voltou a sorrir. — Adam está acordado?

— Mais acordado do que eu, eu presumo. — Murmurei, franzindo a testa ao perceber minha vista escurecendo. Me forcei a ficar acordada.

Peter franziu a testa, juntando levemente as sobrancelhas. Inclinou a cabeça para o lado, os olhos sinalizando sua confusão. Deu de ombros ao decidir que aquilo não era importante.

— Certo... — Ele respondeu, coçando a nuca. — Vim fazer um convite a vocês.

— Convite? — Repeti, em um tom de questionamento. E de hesitação. Que tipo de convite se faz essa hora da manhã?

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