Cap. 8 - As coisas inevitáveis do mundo

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   O relógio já marcava 11:30h, e nem S/N nem Nam haviam voltado ao Buongiorno Hotel. Já era a quarta vez que o telefone de RM tocava, mas no silencioso. A praça central, ainda bastante movimentada, não mais apresentava alguma concentração de pessoas, o desfile havia passado.

   Aliás, o desfile havia passado há muito tempo.

   - Senhores, em meia hora fecharemos a cozinha, fora isso podem ficar à vontade - o garçom avisou.

   - Meia hora? - disse RM - Mas não está cedo?

   - Não, senhor, fechamos meia noite.

   - Meia noite?? - Era S/N.

   Ambos olharam o relógio pela primeira vez. Nam, ao olhar o celular, viu as chamadas perdidas.

   - Acho melhor nós voltarmos - ele disse, enquanto discava um número.

   - Eu também.

   Eles se levantaram. Nam levou o telefone ao ouvido.

   - Alô? Omoni? Estou indo. Perdi a noção do horário, me desculpe. Certo, estarei aí em poucos minutos - e desligou.

   Eles se viraram um de frente para o outro e se encararam por dois segundos.

   - Eu me despediria de você, mas parece que vamos para o mesmo lugar - disse S/N.

   - Eu não me despediria de você se pudesse - ele fez S/N rir, envergonhada - O que eu quero dizer é que agradeço por hoje à noite, eu gostei muito de conversar com você.

   - Também gostei muito de conversar com você.

   RM parecia muito relaxado a noite inteira. Uma alegria doce era o que rodeava suas expressões, mas S/N viu aquilo mudar num instante. Não se poderia perceber a sutil mudança caso não fosse army a muito tempo, mas ela viu. O semblante de RM se fechou por um milésimo de segundo, e ele sorriu logo em seguida, mas não era um sorriso contento. Nam parecia triste, como se tivesse recebido uma boa notícia, e logo depois soubesse que não era verdade.

   - Vamos então? - ele acenou, abrindo caminho.

   - Vamos.

   Eles andaram, terminando o assunto no qual foram interrompidos.

   - Então, é por isso que Peter Pan não faz sentido. Ele não quer crescer embora nunca tenha. Por isso a teoria de que o conto reflete a psicologia adulta. Embora só tenha crianças, ela externa os medos e os desejos dos adultos.

   - Entendo - respondeu S/N - Eu me pergunto se a maioria das histórias infantis não são exatamente isso, porque imagina, um adulto não pode voltar à mentalidade infantil, como então ele cria histórias e desenhos pra crianças?

   - Exatamente, toda obra acaba sendo um reflexo de seu criador.

   - E é exatamente contra isso que a ciência mais luta, a subjetividade nas discussões lógicas.

   - Mas a arte não precisa ser lógica - RM franziu o celho.

   - Mas se não se pode anular a subjetividade, como distinguir a mais ética?

   - S/N, vamos voltar ao nosso assunto, você divaga muito!

   - Desculpa, é verdade - ela riu.

   - Mas eu entendo, também sou assim. Às vezes estou pensando em algo e começo a passear pelas entrelinhas.

   - É como uma grande rede interconectada, né?

Roma In Fiamme 》  Imagine RMOnde histórias criam vida. Descubra agora