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O fim de semana tinha sido longo, mas também o pior da minha vida. A morte do meu pai havia deixado um vazio insuportável e, para piorar, quase todos já sabiam do ataque que ocorreu na minha casa. Cada sussurro, cada olhar de pena ou de curiosidade queimava minha pele, deixando-me mais frágil e vulnerável. Eu não podia contar muitos detalhes, pois a polícia poderia suspeitar de mim em relação aos outros assassinatos que rondavam a cidade, mas tudo aquilo parecia um castigo pelos meus próprios crimes, uma sentença cruel e silenciosa que eu tinha que carregar.

O funeral do meu pai foi um evento dolorosamente solitário. Enterrei-o sem nenhum parente para me consolar. Meus amigos mais próximos, Mai, Cassie e Adam, estavam lá, junto com a professora Wanda, que, com um olhar de compaixão, tentou me dar forças. No entanto, a presença deles, apesar de reconfortante, não preenchia o vazio deixado pela ausência dele. Não consegui segurar as lágrimas de dor e ódio. As memórias de meu pai, mesmo as mais banais, como seu sorriso cansado ou o som de seus passos na escada, agora me assombravam. Eu queria vingança. Queria saber quem era aquele homem que tirou a vida do meu pai. O desejo de encontrar e matar aquele monstro que confessou, com um sorriso cruel, que fez aquilo a mando de outra pessoa, queimava dentro de mim como uma chama incontrolável.

Mai, Cassie e Adam não me deixaram sozinha durante os meus dias de luto; dormiram na minha casa para me dar apoio. Cada um deles, à sua maneira, tentou me distrair da dor insuportável. Mai, com sua presença serena, preparava chá e contava histórias sobre seu próprio avô, tentando me trazer algum conforto. Cassie, sempre prática, ajudava a organizar a casa, tentando transformar o caos em algo suportável. Adam, com sua presença constante e sólida, ficava ao meu lado em silêncio, apenas estando ali, como uma âncora que me impedia de me afogar em minha própria tristeza.

Apesar do apoio, a tristeza era uma sombra constante, e a notícia da morte do meu pai já tinha se espalhado pela cidade. O senhor Sunlight, aquele homem hipócrita e mesquinho que havia demitido meu pai, teve a audácia de me enviar uma cesta de pêsames através de Adam. Eu não queria nada daquele homem. Ele também tinha culpa nisso; se não tivesse demitido meu pai, ele... Ele estaria vivo. A raiva fervilhava em meu sangue, e eu me sentia sufocada pela impotência.

A casa, que uma vez fora um lar, agora era um lugar de dor e memórias assombradas. Já não estava mais tão bagunçada como antes, pois, na tentativa de escapar da minha dor, passei aquelas duas noites limpando freneticamente, como se a ordem externa pudesse de alguma forma trazer paz ao meu caos interno. No entanto, cada objeto, cada canto da casa, parecia sussurrar lembranças de meu pai. Passei as noites esperando meu pai voltar para casa, mesmo que estivesse bêbado, mesmo que estivesse machucado. Eu só queria que ele voltasse, queria ouvir sua voz novamente, sentir seu abraço. Mas ele não voltaria. Ele nunca mais voltaria.

Eu me pegava olhando no espelho, esperando ver algo diferente, algo que explicasse o porquê de tudo isso ter acontecido. E, de alguma forma estranha, via Seiko através do espelho. Seu semblante também era de tristeza, refletindo os meus sentimentos se espalhando por ela. Era como se estivéssemos conectadas em uma dor profunda e indescritível, um laço sombrio que nos unia de uma maneira que eu não conseguia entender completamente.

No metrô, indo em direção ao colégio, tudo parecia frio e triste, exatamente como eu. Dentro daquele trem, eu conseguia ver as pessoas carregando consigo seus demônios interiores. Alguns ficavam grudados em suas costas, outros permaneciam ao lado, apenas acompanhando suas vidas contínuas. Eu queria poder livrar todos disso, mas não conseguia nem ao mesmo me livrar dos meus próprios demônios.

"Bom dia, Celi."

Era a voz de Mai. Não havia notado que o trem havia parado na estação para pegar mais pessoas. Estava distraída demais para perceber isso. Eu queria voltar para casa e recuperar meu sono, mas meus estudos também eram importantes.

DevilGirl vs DevilHunter: Bad Romance (EM ANDAMENTO)Onde histórias criam vida. Descubra agora