Sofía encarou o homem ao seu lado perguntando-se se estaria sonhando. Ou qual seria o problema dele.
Sim, porque por qual motivo aquele garoto sentaria ao lado dela? Dela, Sofía Villar? Não fazia sentido nenhum.
Enquanto mostrava-se tímida e confusa, ele apenas a encarava em silêncio. Remexeu-se inquieta, ouvindo que o burburinho de vozes ao seu redor aumentava com o passar do tempo. Deveriam estar se perguntando o que diabos estava acontecendo. Ela fazia o mesmo.
Perturbada, conferiu discretamente o estado de suas roupas e amaldiçoou-se mentalmente. Nunca preocupara-se com sua aparência, mas naquele fatídico dia seu estado ia de mal a pior.
Naquela manhã, na sua eterna correria diária e pressa em sair de casa para não atrasar-se ainda mais, pegou o primeiro par de roupas que avistou e vestiu-se sem dirigir um segundo olhar para o seu reflexo no grande espelho do quarto, e desceu as escadas correndo enquanto esforçava-se para prender o volumoso cabelo em um rabo de cavalo.
Por azar, a primeira roupa que encontrou naquela manhã fora um conjunto de moletom cor de pele, de procedência desconhecida. Por certo, uma das suas novas aquisições, cortesias de sua mãe.
Todos os domingos, após arrastar sua pequena família para um almoço especial em algum lugar "que parecia maravilhoso" que ela avistara naquela mesma semana, a senhora Villar despedia-se dos seus rebentos e seguia rumo à um dos vários shoppings da cidade, arrastando consigo um emburrado e resmungão Otávio Villar, que mesmo após 25 anos ao lado daquela mulher, ainda não se acostumara com suas imposições e convicções.
Aquela roupa deveria ser uma das muitas peças recomendadas para adolescentes que sua mãe insistia em comprar. Sofía odiava aquelas roupas, odiava aparentar sempre uma adulta em crise de adolescência, mas como recusava-se veementemente a desperdiçar horas e horas em compras e andanças pelo shopping, resignara-se e aceitava a opinião de "tendência" de sua progenitora.
Nunca arrependera-se tanto de uma má decisão como naquele momento.
E, embora o moletom fosse exatamente do tom da sua pele – o que a surpreendeu, quando parou para notar – não a valorizava em nada, pelo contrário. Achou que a peça de roupa acentuava ainda mais a palidez de sua pele, tão diferente do tom sempre bronzeado do seu irmão (sortudo!), além de pôr em evidência a sua sobra de peso.
Culotes!, indignou-se, apenas para arrepender-se em seguida. Nunca preocupara-se com seu aspecto, e agora estava quase surtando apenas porque um garoto bonito sentou-se ao seu lado e continuava encarando-a. Grande coisa. Mesmo.
Sofia voltou os olhos para ele e o fitou com atenção, concluindo que sua precária avaliação anterior fora, sem dúvida, injusta.
Os cabelos de um mix de cores quentes – o que mais chamara sua atenção –, eram ainda mais impressionantes se vistos de perto. E pareciam muito macios, como se ele dedicasse algumas preciosas horas diariamente com cuidados aos fios.
O rosto dele era anguloso, de feições grosseiras, o nariz era reto, mediano, as maçãs do rosto eram um pouco pronunciadas e seus lábios eram generosos. Carnudos, Sofía arrepiou-se encarando aquela boca, que movia-se vez ou outra. Ora era mordiscada, ora era tocada com a ponta da língua, como se ele quisesse dizer algo e precisasse decidir-se como fazê-lo.
Baixou os olhos pelo corpo dele e sentiu que estremecia. Os músculos que também avaliara anteriormente eram impressionantes, tal como ele inteiro. A jaqueta, que em qualquer outra pessoa ficaria enorme, nele, parecia ter sido feito sob medida. Os bíceps e ombros eram enormes e estufavam o tecido da peça.
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MINHA METADE - SÉRIE RECOMEÇOS | LIVRO I
Literatura FemininaEla pensou ter encontrado o amor da sua vida. Ele jurou que aquela seria a última vez que aceitaria qualquer desafio idiota dos seus amigos também idiotas. Para ela, foi amor à primeira vista. Para ele, apenas uma brincadeira. Ela se apaixonou per...