Capítulo IV

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Sebastian dormiu na casa de Vanessa na noite passada.

Seu primeiro erro.

Focada em seu sonho maluco de forçá-lo ao tal "algo mais", não muito sutilmente, como já estava se tornando costumeiro, ela começara com uma conversa sem pé nem cabeça de que no outono a cidade parecia mais bela, o clima era maravilhoso, mantinha-se assim por toda a estação, e aquilo era propício e necessário para a ocasião.

Qual seria essa ocasião, ele não queria saber nem ousou perguntar.

— Poderíamos até fazer uma pequena viagem. Seria maravilhoso! Daí você me levaria em algum lugar romântico, com calçamento, é claro. Porque seria particularmente horrível danificar os meus saltos e você não gostaria de se ajoelhar em pedras, né? Se bem que na praia seria tão lindo...

E seguia com a ladainha.

Sebastian não aguentava mais aquele discurso. Começava sempre da mesma forma, com sugestões sobre lugares românticos (um restaurante seria ótimo, mas seria muito clichê, né, bebê?), com pombas recém libertas sobrevoando-os (nada exagerado, uma centena seria suficiente, é claro), uma música de fundo (A Thousand Years, tornaria tudo ainda mais mágico, não acha, amor?) apenas os dois, ou uma plateia significativa - isso variava de acordo com o humor do dia. Em alguns (os piores na opinião dele), suas famílias e amigos e amigos de amigos estariam todos reunidos para registrar e eternizar o momento.

Aquilo já passava de tortura.

Continuar com isso, encorajando seus sonhos e desejos matrimoniais - mesmo que não precisasse abrir a boca, na maioria das vezes -, só tornaria as coisas ainda piores quando precisasse acabar com tudo. E isso seria logo.

Mas antes, rangeu os dentes, marchando em direção ao arco de entrada da faculdade, precisaria resolver um pequeno probleminha.

O sujeito, pelo que podia ver, era novo por alí. Não lembrava de já tê-lo visto antes, o que explicava sua ousadia em se aproximar da sua irmã, porque todos os outros o temiam. E com razão.

Sebastian não era uma cara agressivo. Evitava meter-se em brigas e confusões, quando, na maioria das vezes, não via sentido em usar os punhos quando tudo poderia ser resolvido com uma boa conversa pacífica (lê-se ameaçadora).

A menos que tocassem na sua irmã.

Sofía era o seu calcanhar de aquiles, e todos sabiam disso, tanto que evitavam até pronunciar seu nome na presença dele. Nenhum dos seus amigos e até os que não eram muito próximos dele, gostariam de despertar a besta adormecida que era Sebastian.

Ele era calmo, na maioria das vezes. Nada parecia atingi-lo ou tirá-lo do sério. Parecia sempre estar em paz consigo mesmo, sem preocupar-se demais com nada. Mas todos os que possuíam olhos poderiam dizer, sem nem precisarem se aprofundar no assunto, que um encontro infeliz com os punhos imensos de Sebastian não seria algo legal. Para a segunda parte, é claro.

Ele não era uma cara irracional. Não era uma cara ciumento ou possessivo - o que deixava Vanessa louca, particularmente.

Tinha conhecimento de que Sofía já era adulta, capaz de decidir seu próprio caminho e que poderia decidir namorar quem quisesse, tal como ele mesmo fazia. Mas Sofía sempre seria, por mais adulta e vivida que fosse, inocente.

MINHA METADE - SÉRIE RECOMEÇOS | LIVRO I  Onde histórias criam vida. Descubra agora