Prólogo

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Eu não sabia o que estava fazendo ali.
Sequer conseguia lembrar quem eu era, ou quem eu fui, qual o meu nome, de onde eu tinha vindo, e toda vez que eu tentava, minha mente ficava em branco e a dor que eu sentia por fora, era transferida para dentro.

Desde que tinha me entendido como uma pessoa, não tive contato com qualquer ser vivo que não fossem meus agressores. Eu vivia isolada numa cela, presa por correntes pesadas, nas mãos e nas pernas; Tudo que cobria meu corpo eram trapos, algo como um blusão velho e gasto.

Homens entravam, me arrastavam pelos corredores, onde eu podia ouvir gemidos e murmuros de outras pessoas, lamentos e choros, sussurros quase inaudíveis, mas que ainda estavam lá, ecoando, deixando o caminho ainda mais assustador e macabro. Eu odiava cada centímetro daquele corredor... Fazia minha alma tremer. Então me colocavam em uma mesa fria, prendiam minhas mãos e meus pés com arreios de couro com fivelas, uma mulher vinha e me fazia perguntas, mas eu não sabia responder e as que eu sabia eu fingia não saber, pois percebi que quando eu respondia certo, eles colocavam pequenos fios em minha cabeça e me davam choques, ou então afogavam-me com uma toalha úmida, enquanto jogavam água em cima de mim, ou me deixavam de cabeça para baixo por longas horas. Jamais deveria responder certo... Eu não podia responder nada, pois eles não queriam que eu soubesse de nada.

Eu continuava escondendo o que eu sabia (o que não era muita coisa) e conforme as perguntas aumentavam, mais medo eu tinha de abrir a boca, pois eles me machucavam. Então eu me limitava a chorar e implorar, para que parassem de me torturar ou para que me matassem, embora eu soubesse que nenhum dos dois aconteceria.

Meu corpo tinha algumas cicatrizes grandes, com remendos feios como de tivessem costurado a carne, apenas para fechar o ferimentode qualquer jeito e me bater viva, também tinha marcas de queimadura e outras manchas roxas e verdes doloridas pelo corpo, para me lembrar de sempre responder tudo errado, chorar bastante e implorar misericórdia.

Então arrastavam-me de volta a minha cela fria e pequena e me davam pão velho com água, e aquilo era o ápice do meu dia, e por fim, acorrentada a parede, eu observava o tempo passar, olhando pela pequena fresta de luz que vinha de um mísero buraco minúsculo na parede.

Apesar de tudo, eu não tinha ideia de quanto tempo eu estava ali, e eu não me importava mais. Aquela rotina era tudo o que eu tinha.

E foi quando menos esperava que começou uma gritaria e um alvoroço, eu só esperava que alguém entrasse ali e fizessem alguma coisa pior, desde que cheguei neste inferno, ninguém nunca tentou me tocar, molestaram meu corpo e minha mente de diversas formas, apenas...

Me encolhi no canto, quando a porta foi arrombada, e estilhaços me acertaram, fazendo-me gemer com a dor.

A luz ofuscava meus olhos, impedindo-me de ver quem ou o que estava ali, senti mãos grandes e fortes, rápidas e precisas soltando-me de minhas correntes, e meu corpo foi jogado contra um ombro forte e duro.

Não conseguia entender o que estava acontecendo, não tinha forças para questionar qualquer que fosse meu destino de agora em diante. Aguardava e agradeceria se a morte viesse me buscar.

Estava fraca, estava com frio, estava machucada, estava faminta... Eu só queria acordar e perceber que tudo aquilo tinha sido apenas um pesadelo, mas quando meus olhos enxergaram salas em chamas, pessoas correndo e gritando, pouco antes de ser jogada no banco de trás de um carro, um fio de esperança realmente se acendeu dentro de mim.

Talvez aquele fosse o meu acordar!!

Estava assustada, mas acima de tudo, estava com medo de estar abrir os olhos e descobrir que tudo não passou de outro delírio causado por alguma inflamação ou pela febre que me acompanhava todos os dias, mas não. Estava encolhida e parecianos estar em movimento, meu corpo dolorido não me permitia o luxo de poder me mexer.

_ela está bem? - ouvi uma voz grossa perguntar.

_você tem certeza que é essa pergunta que você quer fazer? Olhe o estado dela, você acha que ela está bem? - respondeu outra voz que parecia vir de alguém que estava ao meu lado.

_eu sei! Você não viu como eu a encontrei... - resmungou.

_Vai com calma, demoramos muito pra encontrá-la, para você nos matar por estar nervosinho... - falou à voz que estava perto de mim - veja esses trapos... Está tão magra, parece que não aguenta nem o próprio peso... Você acha que eles a... - ouvi algum tipo de rosnado animal.

Haviam animais ali? Estavam me levando pra onde? Iriam finalmente me matar me dando como comida para animais?

_não termine essa maldita frase... Isso...

Não entendia o que estavam falando, tudo estava confuso demais, e minha mente não acreditava que eles estavam "preocupados" comigo. O carro fez uma curva, que jogou meu corpo contra a porta, mãos fortes me seguraram, mas tudo estava doendo, sem conseguir me conter, abri malmente os olhos, que estavam embaçados pela claridade e pelas lágrimas.

_ai... - choraminguei sentindo a garganta arder.

_Vai com calma Cam! Puta merda... - a voz ao meu lado gritou - calma anjo... Você vai ficar bem... - prometeu-me - nós estamos aqui, você vai ficar bem, vamos cuidar de você!

_desculpa por isso... - a outra voz falou soando de um jeito estranho e engasgado - já estamos quase chegando, mais alguns minutos...

Senti algo quente escorrendo por meu ombro, e meu braço estava ficando
dormente, e ainda acreditando que a qualquer momento eu fosse ser molestada de novo, meu instinto de sobrevivência falou mais alto.

_me ajuda... - implorei murmurando num fio de voz, mesmo com toda a violência, algo em mim queria acreditar que alguém me ajudaria em algum momento. Então senti mãos grandes pressionando em cima da onde estava dormente, fazendo com que ardesse.

_ela era sangrando muito, acho que tem algo dentro do ombro dela! Rápido Cam!

O carro acelerou novamente e meu fio de esperança continuava me
mantendo acordada e firme, mas quando a exaustão me atingiu, o fio de esperança não se desfez, mesmo quando meus olhos pesaram e minha respiração ficou difícil dolorida, o fio ainda estava intacto, e as palavras ecoavam em minha cabeça...

"Vamos cuidar de você"






- Comentem e deixem a estrelinha... Esse bebê está em revisão. Por favor, deem amor a ele! (N/A em 25/12/2021)





Irmãos Dragomir - Série IMORTAIS - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora