3 - Recomeço

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Dor.

Era o que resumia todos os meus pensamentos. Cada fibra muscular do meu corpo doía, minha respiração doía, tinha a sensação de que qualquer brisa de vento estava me causando dor. Mas então fiquei como que entorpecida, toda a dor foi sumindo e minha mente foi se enevoando e logo eu estava flutuando numa imensidão branca, plena e serena. Apensar de estar entorpecida, minha consciência estava inconstante, dando pequenos e curtos momentos de lucidez, que se dissipavam em seguida.

Conseguia ouvir vozes, que logo se foram e apenas uma voz, que dizia coisas confusas, parecia irritada, magoada, impotente e ainda sim, passava-me uma sensação de segurança.

Senti uma mudança ao meu redor, as vozes ficaram mais presentes e vividas a minha consciência oscilante.
Pareceu uma eternidade, as dores sumiam aos poucos, já conseguia respirar sem sentir nenhum desconforto, havia uma voz insistente dentro de mim que dizia que aquilo era passageiro, que talvez fosse apenas fruto da minha imaginação desesperada em busca de um descanso, porém havia se instalado uma sensação de paz, tranquilidade e segurança que insistia em predominar e me fazer desfrutar desse pequeno espaço de prazer.

Quando finalmente pude manter uma consciência consistente, abri olhos.
A princípio não enxerguei quase nada, e pensei estar cega, mas aos poucos fui distinguindo as formas e sombras no local. Estava deitada em uma cama macia, tão grande que eu não tocava as bordas, havia um pequeno "bip-bip-bip" constante no quarto, logo entendi ser meu coração batendo, estava sendo
monitorada.

O "bip-bip-bip" aumentou conforme o meu medo de estar presa aumentava, num ato impensado, forcei meu corpo a levantar e me joguei para fora da cama, puxei todos os fios que estava ligados mim, isso incluía um soro, que ao ser removido, o acesso no meu braço começou a sangrar, o "bip" tornou-se único e irritante.

Insegura e instável me pus de pé e fui cambaleando a porta, a luz do corredor cegou-me, mas não me impediu de prosseguir. Tudo ao redor era familiar e aconchegante. Sentia o frio tocar meu corpo, causando-me arrepios e ao chegar no final do curto corredor, parei para observar o que estava lá fora.

Neve.

Uma coberta infinita aos meus olhos de branco, que caia do céu em pequenos flocos, nunca tinha visto algo tão lindo, nunca tinha visto nada que não fosse minha pequena fresta de luz. Parei para avaliar minha situação e aos poucos ia me convencendo de que não estava presa, nada em mim doía, tirando o sangramento do acesso do soro, não havia correntes me prendendo e nem a porta do quarto estava trancada. Parecia não haver ninguém naquele local e eu me sentia estranhamente segura.

Aquilo não parecia ser um sonho...

***

6 meses...

Já haviam se passado 6 meses e ela permanecia, não em coma induzindo, mas numa espécie de "hibernação", como Jace falou. O corpo dela estava se fortalecendo, ela já tinha alguma cor, seus cabelos estavam longos e o castanho claro era vivido. Haviam cicatrizes em seu corpo, mas nenhum ferimento ou lesão, manchas e nem nada do tipo.

Após 4 meses de tratamento intensivo em um hospital, o estado de saúde dela melhorou extraordinariamente, e assim que Jace constatou a hibernação, preparamos um quarto na mansão e a removemos para lá. Jace a avaliava semanalmente e havia uma enfermeira que ficava diariamente com ela.

Caleb passava seu tempo livre com ela, lendo em silêncio, simplesmente fazendo sua presença ser sentida no quarto. Aguardávamos ansiosos pelo momento em que ela acordaria, não seria fácil, já estávamos preparados para qualquer tipo de reação dela.
Estava no escritório com Caleb, nós nos preparávamos para um final de semana sem trabalho, quando a enfermeira entrou aflita.

Irmãos Dragomir - Série IMORTAIS - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora