Meg
Houve um tempo em que eu não queria sair de casa,me escondia embaixo das cobertas, e queria morrer. Pode parecer exagero, mas pra mim não é. Oque eu passei, quem eu perdi, o medo de rever pessoas que não deveriam estar livres por ai, tinha me feito ser essa massa de medo e raiva. Eu nunca conversei sobre isso com ninguém, algumas pessoas sabem oque aconteceu comigo, mas nunca contei sobre meu desejo de vingança. Nunca contei das cartas que minha mãe recebia, e depois de eu ter subornado o carteiro que passava na rua dela, ela parou de receber, e o carteiro as enviava para mim. Cartas horríveis,com constantes ameaças. Depois de um tempo elas pararam e eu me senti aliviada por isso,mas ao mesmo tempo pensando ''Oque será que pode ter acontecido?'' ''Será que é só um truque?''. Resolvi deixar para lá, mas a raiva nunca passou.
Hoje, quando fui com o Theo na instituição, e escutei aquela menina falando aquelas coisas, foi como se eu estivesse perdendo o ar, me definhando por dentro. Senti nela todo o medo que alguém pode sentir, o desespero, angustia, vergonha. Tive vontade de abracá- la,mas não podia fazer isso,afinal ela tem medo,e não me conhece.Não queria assustá-la mais. E não aguentava ficar lá mais,estava sufocada. Então eu sai correndo. Peguei o primeiro taxi para casa, lembrando que deixei minha moto na empresa, mas ela está segura lá,mandei uma mensagem para Theo, lhe assegurando que estava bem. Quando enfim a adrenalina abaixou, eu chorei, por pensar que tudo que ela passou eu também passei.
Sim, eu fui ESTUPRADA.
Sei, que é uma palavra forte, e cruel, mas oque aconteceu também foi cruel ,então, do que importa a nomenclatura?
Eu fui estuprada aos 17 anos, eu me lembro de tudo naquele dia, tenho pesadelos, não gosto de ser tocada por pessoas que não conheço, apesar de que,quem fez isso comigo,não era um desconhecido.
O engraçado é que quando vi Theo,não tive medo dele, e quando ele me beijou, depois do susto, eu queria mais daquele beijo. Por isso fugi, nunca tinha acontecido isso antes, nem com Sam, que amo de paixão. Não sei, mas Theo me desconcentra, ele tem algo enigmático no olhar.
Pensando nisso, me acalmo.
Chego no apartamento, jogo minhas coisas em qualquer lugar,e vou tomar um banho, quando entro embaixo d'água. O choro vem novamente, compulsivo.Sei que parece drama, mas minha cabeça tá uma confusão. Paro de chorar quando Carly bate na porta e entra em seguida, ela tem essa mania de ser invasiva.
- Chegou mais cedo do que esperava...Oque aconteceu? - ela diz quase entrando no box comigo.
Saio do box enrolada na toalha, pensando que não tem porque esconder oque aconteceu. Conto pra ela que eu e Theo visitamos as instituições, e a última era sobre abuso sexual. Conto sobre a garota do grupo de apoio, sobre os sentimentos que descobri quando estava no táxi.
Carly só escuta, olhando nos meus olhos, não me interrompeu, e quando terminei de falar, ela simplesmente, continua me olhando. Até que me irrito.
- Você invade o banheiro, tirando toda minha privacidade, pergunta oque houve e quando eu desabafo, você simplesmente não diz nada?
Ela sai do banheiro me deixando com cara de tacho, me troco, espero a raiva diminuir e saio em direção à sala, sinto cheiro de café,quando me viro, Carly está com duas xícaras na mão, me estende uma, e diz;
-Você gosta dele!
Eu a olho petrificada, OQUE? Não gosto de Theodore Geller, dono da Publish, o melhor jornal da cidade, pelo qual sou apaixonada, o jornal, não o Theo. Né?
-Oque? Porquê voce diz isso? Eu conheço ele à dois dias.
- Idaí? desde quando tem um tempo certo para você gostar de alguém? Não estou dizendo que está apaixonada, mas vai me dizer que não se sente atraída por ele? Ele é gato. E outra, nunca vi você tão desperta, empolgada.E sei que não é só pelo trabalho, é por ele também,eu vi os seus olhares trocados ontem.
-Vamos supor que eu tenha me atraído por ele....
-Você está...
Reviro os olhos.
-Vamos SUPOR que eu me sinta atraída por ele, olha pra mim, olha para ele. Oque ele vai querer com uma garota semi formada na faculdade,cheia de traumas. Eu não sei se conseguiria proporcionar a ele um relacionamento normal.
-Sexo? - As vezes esqueço que minha melhor amiga não tem papas na língua.
-Sim Carly,eu tenho medo, doeu tanto, foi tão ruim, tive tanto medo.
-Meg, oque aconteceu com você foi ruim, ninguém merece passar por isso. Mas ouça, você precisa seguir adiante,se não for com Theo, um dia será com outro alguém. Você precisa ser feliz. Saber como é bom beijar, namorar, se sentir amada.
Decido contar oque aconteceu na noite passada.
-Nós nos beijamos ontem - Carly me olha com os olhos arregalados- Ele me pegou de surpresa, e depois do beijo eu corri,porque aquela sensação foi nova para mim, - decidi esconder o fato de ter derramado água nele, e desajeitadamente tentado ajudar, e ver um volume enorme na sua calça- mas sabe,eu gostei. Mas ao mesmo tempo,Theo e eu somos de mundo diferentes. Tenho certeza que eu sou só uma garota que vai trabalhar para ele,nada mais que isso.
Quando termino de falar e bebo um gole do café, o interfone toca. Carly atende,responde o porteiro com um sorriso indecifrável no rosto,desliga e me olha.
-Não acho que você seja só uma assistente para ele. Na verdade tenho certeza que não é. Quem se importaria tanto com uma mera secretaria a ponto de vir até a casa dela, para saber se ela está bem?
Quando processo as palavras de Carly, sinto um nervosismo enorme. Theo está lá embaixo, QUERENDO ME VER. Não tenho tempo de reagir, a campainha toca, e Carly corre para atendê-la.
Theo entra a cumprimentando, e quando nossos olhos se cruzam, sinto algo esquentar dentro de mim. Theo me olha de cima a baixo, com um olhar não malicioso, e sim de encanto. Pelo menos, espero que tenha sido esse olhar.
-Oi Meg, vim saber como você está!
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Tempo de Recomeço
Chick-LitEla tem medo de ser feliz, e o desejo de se vingar de quem a deixou assim a tortura dia após dia. Será que algo ou alguém, vai poder mudar isso?