20 - Fim da linha

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Sabrina narrando

Um dia, uma vidente me abordou na rua e disse que eu encontraria o amor da minha vida quando eu menos esperasse. E que esse amor iria mudar tudo. Confesso que no início, achava que isso era uma doce ilusão, que servia pra ludibriar nossos pensamentos de esperanças vãs; ou somente uma forma que ela encontrara de que pudesse se sustentar.

Mas no fim das contas ela nunca esteve tão certa.

(...)

Sete meses tinham se passado desde que eu tinha visto Marcos partindo diante dos meus olhos pelo portão de embarque pela segunda vez. Confesso que não estava preparada, tampouco cogitando a possibilidade de ele me deixar. Sempre que meu pensamento viajava sem rumo, pensava nesse dia.

O dèja vú daquela primeira vez em Portugal, onde ele me perguntava sutilmente se teria esperança de nós dois pulsava fortemente. Olhando em seus olhos, antes de nos darmos um breve e intenso último beijo de despedida, eu conseguia ler em seus olhos como se ele estivesse me repetindo a pergunta, porém sem dizer uma palavra. Quando ele se afastou, eu só consegui sussurrar um 'sim' e sair correndo para o banheiro, na tentativa de apartar o enjôo forte que senti subitamente.

Nunca consegui contar a ele que estive grávida, mas que sofri um aborto espontâneo com 3 meses. Se ele soubesse, colocaria tudo a perder.

Um filho meu e dele, fruto de tudo o que fomos.

(...)

A tecnologia facilita um pouco nossas vidas, já que sempre que podemos, nos comunicamos por mensagens ou videochamadas, para tentar fazer com que a saudade não inunde nossos peitos dia a dia. Falo por nós dois, pois ele sempre faz o que pode para demonstrar seus sentimentos e nunca fui tão grata por isso.

Eu definitivamente tinha encontrado o homem com quem passaria o resto dos meus dias. Mas sabe, não era a mesma coisa. É um pouco egoísta da minha parte, mas sinto na pele o que tanto se falam nos filmes hollywoodianos sobre o coração ficar incompleto quando sua outra metade está longe.

Entre trancos e barrancos, eu estava começando a me acostumar com a situação. As tantas cenas para estudar todos os dias ajudavam um pouco a amenizar a tristeza, já que o tempo vago para me perder em pensamentos era pequeno demais, porém isso não significava que não doía mais. E, para piorar, não nos falávamos direito há quase um mês, quase sempre em meio à saudações esquecidas ou deixadas pra lá, nunca irei saber. O que eu poderia fazer?

(...)

Dissipei meus pensamentos e enfim levantei da cama. Minha mãe me disse que faria um jantar com toda a família para comemorar o aniversário do meu pai em São Paulo, já que enfim ele resolveu fazer uma pequena festinha, o que não ocorria em anos. Eram quase 12h e eu tinha dormido além da conta. Realmente precisava de horas a mais de sono, eu estava deploravelmente cansada. O ritmo das gravações tinha aumentado nas últimas semanas, devido à novela estar se encaminhando à reta final.

O voo saía às 16h e não tinha arrumado minhas coisas. Ficaria no apartamento no fim de semana e precisava de roupas limpas. Fui lavar o rosto e encarar o dia. Algumas horas depois já estava em Congonhas, olhando a bagagem deslizar pela esteira. Meu irmão veio ao meu encontro pra me dar uma carona até minha casa e chegando lá, despachou a mala média e se ofereceu pra me pegar daqui a duas horas, o que seria o suficiente pra me arrumar, pelo menos era o que eu esperava. 

Na hora marcada, lá estava eu no saguão vestindo um rendado cropped preto com uma calça pantalona branca, claramente usando a típica combinação pb confortável sem ser vulgar, o que devia ser o suficiente. Meu irmão chegava, como o combinado, me conduzindo até a casa de nossos pais. Percebi o quanto aquele lugar me fazia falta: o ambiente familiar, amigos de longa data que havia tempo que não via, o clima acolhedor do lugar que me trazia tantas lembranças boas dos velhos tempos.

Poucas pessoas haviam chegado e estas conversavam animadamente com meu pai na bancada de drinques próxima à copa. Então, me dirigi à cozinha para cumprimentar e abraçar minha mãe e ajudá-la no que fosse necessário. Só o aroma familiar que exalava do lugar e invadiu minhas narinas logo que cheguei à porta já renovava meu estado de espírito.

- Oi, mãe. O cheiro está ótimo.

- Oh, obrigada querida - me deu um beijo na bochecha. - Por favor, você pode pegar o creme de leite que está na bancada? É que não posso parar de mexer o molho para não passar o ponto.

- Claro.

Quando levei o pedido, seu semblante mudou de repente, como se tivesse lembrado de algo não muito bom.

- Aconteceu alguma coisa? A senhora parece um pouco pálida.

- Bem, é que tem algo pra você lá em cima, te esperando. Pode ser que você goste.

- Mas você sabe que nem sou eu que faço aniversário hoje - ri, mas com aquela pitada de nervoso.

- Eu sei meu amor, mas vá lá. Está no seu antigo quarto.

- Er... tudo bem então, se você insiste. Tem certeza que não vai precisar da minha ajuda aqui?

- Tenho sim. Vá.

Subi as escadas num misto de ansiedade e hesitação. O que poderia ser? Enquanto trilhava o caminho, pensei que poderia ser algum presente dos fãs que iam parar no endereço de São Paulo e traziam pra cá para não serem extraviados ou algo parecido. Quando comecei a me tranquilizar imaginando que esse argumento era o mais aceitável, puxei a maçaneta e fechei a porta atrás de mim.

De repente, me virei e senti mil fogos de artifícios explodindo meu peito de tanto que meu coração batia forte. As lágrimas começaram a descer descontroladamente pelo meu rosto, tamanha a incredulidade e a emoção. Esse só podia ser o melhor dia da minha vida.

- Marcos?

Eu só queria correr para os seus braços e demonstrar o quanto tinha sentido sua falta, o quanto meu corpo e minha alma ansiavam por ele. Tudo parecia lindo, quando o via ali, na minha frente. O problema é que ele estava sério e olhando fixamente para mim, porém com o olhar vazio. Não conseguia decifrar seus pensamentos. O que raios estava acontecendo com ele? Será que tinha conhecido outra mulher e tudo que achei que ele sentia erra puramente uma atuação convincente demais para enganar outra atriz? Será que ele tinha deixado de me amar? Eram perguntas que subiam pela garganta e que estavam prestes a sair, quando ele me deteve, levantando a mão, como que prevendo minha ação. Sem dizer uma palavra, pegou uma folha detrás de si e ergueu ao meu campo de visão. Eu nunca pensei que veria aquela folha de novo, pelo menos não por agora.

- Como você teve coragem de esconder de mim que esteve grávida?

Continua...


De antemão, quero avisar que a história está chegando na sua reta final. Fiquem atentos no meu Twitter, que é onde eu noticio externamente quando cada capítulo sai. Pra quem tem interesse, o user é kah_franchi. Thanks XD

K.

Crônicas de um casal de amigosOnde histórias criam vida. Descubra agora