4 - "Toma aqui os 50 reais?"

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Memórias póstumas de Ramón Velásquez

Essa música que eu vou cantar agora, ela é uma história verídica. E essa história aconteceu... comigo.

"Bonito... (risos), que bonito hein! Que cena mais linda, será que eu estou atrapalhando o casalzinho aí? Que lixo, cê tá de brincadeira. Então é aqui a sua gravação toda quarta feira? E por acaso esse hotel é o mesmo que ia me trazer na lua de mel? É o mesmo que vc ia me prometer o céu e agora me tirou o chão? E não precisa se vestir, eu já vi tudo que eu tinha que ver aqui, que decepção, 1 a 0 pra minha intuição. Não sei se eu dou na cara dele ou bato em você..."

Não, pera.

Já faziam duas semanas que Sabrina havia viajado para Lisboa a trabalho. Meus sogros estavam com ela, pelo que eu via nas poucas fotos, estavam todos contentes. Só tinha um detalhe nessa viagem que eu tinha a esperança de estar enganado: Marcos Pitombo. Ele é um cara de bem, gente boa, porém é muito bonito, chama a atenção por onde passa, principalmente depois de os dois encenarem juntos como casal. Mesmo ela estando comigo, a maioria dos seguidores, tanto dela quanto dele, ansiava pelos dois juntos. Mas sabia que o homem da vida dela era eu. E muitas vezes ela deixava isso claro nas entrevistas. Eu supostamente não ligava, porém essa viagem de repente mexeu com meus sentidos. Quando percebi, estava com os nervos à flor da pele, estava tudo estranhamente diferente. E pra piorar, eu não conseguia sair de São Paulo.

Minha cabeça começou a perder o controle quando eu ligava para ela quase todos os dias em diferentes horas do dia, principalmente nas horas e dias de folga dela e ela não me atendia. Então eu decidi: na primeira oportunidade que tive, parti para Lisboa. Comprei um lindo buquê de rosas e uma champanhe para comemorarmos nosso reencontro. A cidade era linda, como nas fotos. Estava nervoso e empolgado. Mesmo olhando para o relógio, estava tarde, imaginei que ela poderia facilmente estar acordada, afinal a conheço bem. Perguntei à recepcionista do hotel que ela estava hospedada o número. Ela iria me anunciar, porém informei que era seu noivo e que estava lhe fazendo uma surpresa. Como ela me viu com o buquê e a champanhe, não questionou. Dentro do elevador, inexplicavelmente comecei a suar frio. Isso só acontecia quando tinha um péssimo pressentimento. Não estava gostando nada disso, mas prossegui firme.

Bati à porta. Demorando-se uns 2 minutos, Sabrina me atendeu. Estava maravilhosa, porém tinha tentado esconder uns fios desgrenhados do cabelo e um leve borrão do batom. Ela parecia realmente surpresa em me encontrar. Me perguntou o que eu estava fazendo por lá, como se minha presença na porta dela àquela hora da noite não fosse explicativa o suficiente. Quando olhei para dentro do quarto, o que eu tinha medo que pudesse acontecer, estava passando ali, diante dos meus olhos: Marcos Pitombo estava terminando de abotoar a camisa esporte que estava vestindo e amarrando um dos sapatênis. Até aí nada demais, até ver uma suposta mancha de batom, que parecia ser da Sabrina, no canto do queixo dele. Quando notei, tinha derrubado o buquê no chão e estava boquiaberto com a cena. Eu só queria gritar, partir pra cima dele, comecei a imaginar mil coisas, principalmente o que eu mais temia: os dois juntos se amando naquela cama de casal, mas não conseguia dizer nada, e ela só me olhava fixamente, tentando me explicar, mas eu não conseguia permitir. Eu estava em transe. Então, assim, calado, me retirei.

Amor: Ramón, espera! Pelo amor de Deus, vamos conversar.

Não tinha o que conversar. Eu não queria, ou melhor não conseguia. Sabia que ela estava parada no corredor. Eu estava para entrar no elevador, quando eu ouvi uma familiar voz masculina detrás de mim, querendo chamar minha atenção.

Marcos: Cara, para por favor, vamos conversar numa boa.

O nó na garganta se transformou em fúria. Num súbito me virei em direção dele e segurei sua garganta contra a parede e comecei a gritar: "Você não tinha o direito de possuir minha mulher! Não tinha! Eu te odeio, te odeio". Não sabia se gritava, chorava ou os dois. Enquanto isso, ele tentava se desvencilhar, dando socos no meu braço. Até que Sabrina apareceu e eu perdi as forças. O problema é que, ao apartar a situação, ela o defendeu. Nesse momento sentia meu coração despedaçar. Eu achei que ela me amava, que iríamos nos casar, ser felizes e projetar um futuro, mas ela estava destruindo tudo isso em apenas uma noite, em um gesto. Não conseguia encará-la. Mas o pior estava por vir na frase que entonou, enquanto se afastava do canalha e vinha em minha direção, tocando meu braço.

Ramón... eu quero um tempo.

Crônicas de um casal de amigosOnde histórias criam vida. Descubra agora