capítulo 4

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Segunda
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Eu não conseguia tirar Chase de meus pensamentos e isso tava me perturbando. Ele me fazia o odiar e ao mesmo tempo o querer beijar muito. Aquele sorriso sínico após me ver envergonhada ainda me vinha na mente. Ele adorava me ver irritada.

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Era segunda, mas os dias pareciam não ter passado. O clima de inverno ainda se mantinha. Sobre meu pai, ele caiu na desculpa de ter ido dormir na casa de uma amiga, mas ainda sim, se irritou por eu não ter avisado com antecedência. Isso o incomodou, mas, nada que me deixasse de castigo.

Eu entrei na sala e comemorei aliviada por não ser o dia de dividir sala com o último ano.

— Oi garotas.

Vick e Ragna estavam próximas conversando sobre algo e Ava ao lado. Ava estava com seus fones mexendo no celular, ignorando a conversa como de costume.

— E aí, gatinha. Novidade?

Indagou Ragna, que ainda parecia estar de ressaca.

— Encontrou sua bolsa na festa com tudo dentro? Aonde encontrou? - Perguntou Ava, tirando seus fones.

— Sim, eu havia deixado cair pela casa mesmo. - Falei quase que tropeçando nas palavras. A quem eu queria enganar?

Não sei se essa desculpa tinha colado, mas eu não conseguia fingir bem naquele momento.

— E a Krystal?

Ava gesticulou um pedido de silêncio arregalando os olhos.

— Fala baixo, quer que a sala toda escute? Eu já notei que ela me encara as vezes, mas nada além disso. - Ava olhava ao redor nervosa.

— Será? Por que não chega nela e pergunta?

— Por que não esquecemos disso e falamos de você?

Ok, Ava sabia de algo e não queria me contar. Ela estava estranha, como se desconfiasse de algo. Mas ela com certeza sabia de algo.

— Eu vi quando Chase desceu da escada e logo depois você desceu também. - Disse Ava sussurrando.

— Espera, você acha mesmo que a gente ficou? - Sussurrei.

Ava o que tem de calada, tem de esperta. Odeio pessoas muito observadoras, porque elas tiram respostas sem precisar de perguntas. Isso é uma qualidade, mas uma qualidade muito irritante.

— Você acha que eu nasci ontem?

— Nós não ficamos, é sério.

Ava deu de ombros, parecendo não estar convencida. Ava tinha uma personalidade forte e eu a admirava muito. 

Os garotos do último ano vinham em nossa direção e Ragna já se levantava de sua carteira.

— Espera, por que o último ano tá nessa sala?

— Hoje dividimos aula, tá em que planeta? O professor explicou semana passada que iríamos formar duplas com eles. - Disse Ava.

Ótimo, o destino queria me foder mesmo.

Me virei para que Chase não trocasse olhares comigo, o que eu menos queria era ter que começar o dia trocando olhares com aquele idiota. Vick acompanhou Ragna e eu permaneci ao lado de Ava, apenas ouvindo discretamente.

— Oi bebê.

Ragna abraçou Chase que nem devolvera o abraço de volta. Ele a olhava sem muito interesse.

— Eu senti saudade, bebê. - O abraçou novamente.

— Ragna, não somos um casal. Eu não quero que saía por aí me chamando de bebê como se fôssemos íntimos, ainda mais na frente dos outros. Outra coisa, para de me encher de mensagem no celular, eu não to interessado em conversar contigo. Se a gente transa ou não, isso não forma um compromisso.

— Mas e o nosso lance?

— Lance?

Seus amigos murmuravam algo enquanto riam e Ragna ficava cada vez mais sem graça.

— Não temos lance nenhum, mas se quiser pode fantasiar que temos. Eu não ligo.

— Quando quiser sair com a galera de novo, só mandar mensagem. - Disse Ryan, tentando aliviar um pouco o clima.

Ragna o olhou sem jeito e a mesma se retirou sem se despedir. Vick foi atrás da mesma que correra para fora de sala.

Chase e seus amigos continuavam a rir. Me levantei da cadeira dando passos a frente, até ficar de frente a frente para Chase. É, ele estava lindo como de costume, mas um lindo bem idiota. O que custava ser lindo e adorável?

— Me diz porque que eu ainda esperava algo diferente vindo de um babaca igual a você? - Dei o meu melhor sorriso sínico.

Sua expressão de divertimento fechou aos poucos.

— Sentiu saudade?

— Incrível como você é sínico, Chase. Você não passa de um rostinho bonitinho.

— E você não assume que tem vontade de me beijar e mascara sua vontade toda em fingir que não me suporta.

Ava me olhou como se já entendesse o que estava rolando.

— Assume que me quer.

— Qual é a porra do seu problema? Você tratou a Ragna como se ela fosse descartável e agora dá em cima de mim?

— Eu apenas fui direto. Não gosto de rodeios.

— Você não foi direto, você foi sem noção. Seu papai nunca te deu atenção o suficiente? Ou será que sua mãezinha nunca elogiou seus desenhos e você age como um idiota com todos para se sentir melhor?

Chase me olhou com as sobrancelhas arqueadas.

— Prefiro quando fica calada. - Disse sério se aproximando.

— E eu prefiro quando não lembro que você existe.

— E você lembra que eu existo é? Por acaso eu ocupo sua mente?

Esse moleque estava me provocando, sério.

— Ok, Chase. Vamos, né?

Disse Ryan tocando em seu ombro.

Eu estava me segurando para não avançar naquele idiota e socar a cara dele. Os garotos se retiraram e Ava me olhou como se cobrasse alguma satisfação.

— Ava, eu juro que não ficamos.

— Não foi o que pareceu. Entre vocês tem algo que eu sei.

— Mas não rolou nada, falo sério.

— Ok. Só cuidado com o que a Ragna pode sentir depois. Eu não quero ser chata e dizer que você não deve ficar com ele, mas também tem que levar em consideração a Ragna.

— Eu sei. Eu não vou ficar com ele, aquele idiota me dá repulsa.

— Você tá tentando me enganar ou se enganar? Já ficou nítido que rola algo entre vocês, pode não ser algo físico ainda, mas que rola, rola.

— Ok, mas e a Krystal? Você fala de mim, mas de você e ela eu não posso saber, né?

— Nem tenta desviar o assunto.

Rimos.

Da mesma forma que Ava tinha personalidade forte para algumas coisas, também tinha muita trava em relação a se envolver com pessoas ou falar de sua vida. Ela ainda era uma incógnita para mim, não falava muito de sua vida ou do que fazia. As vezes me falava de seu irmão e o quão era irritante conviver com ele. Eu nem sabia como era isso, nunca tive um irmão e as vezes sentia falta disso. Não que fosse ruim ser filha única, pelo contrário, a atenção era totalmente sobre mim, eu gostava disso. Mas, eu sempre quis saber como era ter um irmão todo dia ali com você, vivendo todos os momentos, sendo chatos ou não. Ava também não me falara muito de seus pais. A única coisa que dizia era que seus pais não se davam, mas que ainda moravam sob o mesmo teto.

Doce Clichê - Em revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora