Morte pode ser Bem Vinda

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POV Narrador

Haviam duas camas ocupadas na enfermaria. A que estava próxima a porta de saída tinha um Tony Stark muito desmaiado. Já a da janela, que havia saído há pouco do centro cirúrgico, trazia uma Aysha Stark, pálida de dor.

E era ao lado daquela maca que se via a figura de Steve Rogers. Jarvis havia dito que a ruiva desmaiara de exaustão. Claro que isso não tranquilizava Steve de forma alguma. O loiro puxara uma cadeira aleatória e se sentara para observar a ruiva. Isso há algumas boas horas. 

O loiro estava completamente distraído quando ouviu uma respiração mais pesada e viu a menina se sentar na cama de uma vez. Foi rápido em apoiá-la, antes que voltasse para trás, caindo no acolchoado da maca, e acabasse se machucando mais.

—Calma, Aysha.-Pediu baixo, deixando que ela se apoiasse em seus braços, antes de voltar a deitá-la na maca. Usou o controle para mudar para uma posição mais sentada, onde ela pareceu respirar melhor.-Como se sente?

—Melhor que das outras vezes...-Murmurou, vendo como o grandalhão arrumava os travesseiros e aquela montoeira de fios e tubos, tentando deixá-la confortável.-Papai...

—Da ultima vez que conferi... Ele estava com um copo de Whisky na mão.-Respondeu sincero, vendo como a decepção brilhava nos olhos chocolate.-Qualquer coisa sobre ser culpa dele você estar doente.

—Claro, ele sempre é... O centro de tudo. Síndrome de Stark.

Steve riu da constatação, ganhando um sorriso dolorido da moça. Pegou um pouco da água que estava no criado-mudo, e voltou a se sentar na cadeira.

—Precisa de ajuda?

—Não, estou bem.-Ele entregou o copo nas mãos da ruiva.-A programação do Jarvis ficou melhor do que eu imaginei. 

—Ele foi bastante rápido na sala de cirurgia. Mas você passou muito tempo desacordada. Talvez a percepção esteja um pouco falha.

—As incisões estão perfeitas... Meus pulmões nem doem tanto...

Os dois ficaram em silêncio por um tempo, Steve a observava beber o copo de água lentamente. 

—Você quer que eu te deixe em paz? Ou prefere conversar?

Os dois ouviram uma entrada afobada ocorrendo do outro lado da ala hospitalar.

—Eu queria que meu pai nos deixasse conversar em paz. Só espero que ele não esteja tão bêbado.

—Se ele estiver... Prometo que o tiro daqui como uma saco de batatas.

Isso fez a ruivinha rir, o que aliviou o coração de um afobado Tony Stark. Para alívio dos dois, o moreno parecia bastante sóbrio.

—Filha!-O mais velho se aproximou, tentando decidir se abraçava ou não a ruiva.-Fiquei tão preocupado... Precisa de um analgésico? Ou qualquer outra coisa?

—Não... Steve disse que ia fazer uma sopa de legumes e frango pra mim.-O loiro quis rir da forma fofa da ruiva pedir licença, sem o pai desconfiar que ele estava ali para prevenir qualquer acidente desagradável que envolvesse seu alcoolismo.-Ele disse que é receita da dona Sarah.

Tony, imediatamente, voltou os olhos chocolate para o companheiro de equipe. O loiro deu de ombros, sorrindo.

—Mães com filhos asmáticos tendem a desenvolver ótimas receitas para quando estamos doentes.-Se espreguiçou, levantando da cadeira.-Eu já trago a sopa, Ay. Quer um pãozinho?

—Eu quero parmesão ralado na sopa...-Isso o fez estreitar os olhos.-Ok, pãozinho é uma boa opção também...

O loiro se foi, deixando pai e filha no local. Tony aproveitou a cadeira que estava lá, se acomodando. Aysha voltou para seu copo, bebendo lentamente o conteúdo.

—Ele abriu a boca e te contou do copo de Whisky.

Presumiu o mais velho, vendo a filha revirar os olhos iguais aos próprios. 

—Tenho certeza de que não... Pretendia me contar do seu deslise.-O moreno abaixou o olhar.-Que ingênuo... Não conhece a mania... Ridícula que sua esposa tem... De gritar?

—Não pode parar de implicar com a sua mãe nem quando está doente?

—Não estou morrendo, Antony.

—Não foi o que escreveu no diário, foi?-A ruiva abaixou o olhar.-Eu li cada palavra. Cada coisinha que não disse a seus avós. Foram seis tentativas, Aysha. Tem ideia do quanto isso me faz sentir culpado?

—Podia ter se ligado nisso antes, não é? Antes de ter me abandonado!-Os olhos chocolate se fixaram um no outro.-Você sabia que eu era um erro. Sabia que eu era doente. Você sempre soube. Fez ela passar por uma gravidez infeliz, que desestabilizou meu emocional antes mesmo que eu soubesse o que me esperava... Mesmo sabendo que eu poderia ter nascido morta. Ou que eu poderia morrer logo que eu nasci. Você não queria ser pai, Tony. Você queria provar ao mundo que seria capaz de gerar uma criança saudável, coisa que nenhum outro Stark foi capaz. Você falhou.

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Steve ainda estava com o pé atrás com toda essa mobilidade de Aysha. A ruiva não ficara nem três dias na enfermaria, se recuperando, e já estava mexendo nas motos com menos de uma semana. 

—Steve, está me vigiando outra vez.

—Você vai me fazer ter cabelos brancos, Aysha.

Os olhos chocolate se reviraram, antes que ela me desse um sorriso matreiro.

—Te encontro no carro em 20 minutos!

Steve sorriu. Ele sabia que não tinha muitas escolhas além de obedecer aquela ruiva.

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Eles foram de jipe até uma cidade pacata de interior. Segundo Aysha, era o melhor café caseiro que existia. Pertencia à esposa de um dos companheiros de guerra do avô. Pegaram uma garrafa cheia de café e diversos tipos de bolo, antes de se meterem em um bosque que havia ali perto. E sentaram no grande capô e se puseram a comer e apreciar a paisagem

—Sabe, eu ouvi a briga que teve com seu pai... Sobre o diário... Quantos anos tinha quando escreveu aquilo?

—não lembro... Algo entre oito e dez anos...

Steve se absteve, observando a moça ao seu lado. Sabia que gostava dela de uma forma errada. Era a filha de seu melhor amigo, afinal. Tony o mataria se soubesse o que sentia pela ruivinha. Mas era impossível não se apaixonar por ela.

—Não era muito pequena para pensar em suicídio.

Os olhos de chocolate se fixaram nos azuis, causando um arrepio desconfortável no capitão.

—Parece que vocês não entendem. Suicidas não se matam, Steve. Suicidas descansam o corpo, pois a mente está morta há muito tempo. A morte não é uma vilã... Ela pode ser bem vinda.

A-R-T-I-F-I-C-I-A-LOnde histórias criam vida. Descubra agora