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    Sorri ao ver que tudo nosso estava já em seu perfeito lugar. A sala com vista incrível para São Paulo já toda montada, o quarto de Danda do jeito que ela pediu, o meu também. Guardei meus últimos croquis na gaveta da escrivaninha do meu escritório e peguei a chave do meu carro.
     Dirigi até a escola que matriculei minha pequena. Lá, caminhei até sua sala de aula. Essas tarefas de levá-la e buscar nunca nem pensei em deixar uma babá fazer, é coisa nossa, de mãe e filha.
     ‎Obviamente, outros pais, mães e babás  também esperavam a hora que as crianças iriam sair. Reparei que um casal me observava enquanto conversava. O homem, em um terno impecável e a mulher com uma saia envelope e camiseta perfeitamente alinhadas. Não deixei de reparar na marca das peças: Ralph Lauren. Sorri de leve e abaixei meus óculos escuros, os tirando da cabeça. Os dois vieram até mim.
     ‎-Nos perdoe. Estavamos te olhando dali e não conseguimos não reparar. Você não é a nova CEO da Ralph Lauren?
     ‎-Sou, sim.
     ‎-Ah, prazer. Rodrigo Rocha. Essa é minha esposa, Camila Rocha. Eu possuo algumas ações da empresa.
     ‎-Um acionista. Prazer é todo meu. Talita Werneck.
     ‎-Amanhã você já irá assumir seu cargo, correto?
     ‎-Amanhã eu tenho uma reunião com todos os acionistas. Irei me apresentar. Para o resto da empresa, ainda vou marcar.
     ‎-Ah, sim. Bom, então nos veremos amanhã. Você tem um filho que estuda aqui?
     ‎-Filha. Dandara.
     ‎-Sério? Viu, amor? Pode ser amiga da nossa Bianca.
     ‎Sorri de leve e agradeci mentalmente quando o sinal tocou. Eles se despediram, ainda naquela superficialidade de antes e buscaram sua filha.
     ‎Único problema que vejo em meu trabalho é a frieza e a falsidade que existe em todas as relações.  Mas também, se não aprender com eles, você é facilmente passado para trás.
     ‎Larguei esses meus pensamentos e fui até a porta da sala de Danda.
     ‎-Mãe da Dandara, certo?
     ‎-Sim, sou.
     ‎Ela sorriu e olhou para dentro da sala. Olhei também e vi minha luz arrumando sua bolsa, de costas para a porta. Pedi para a professora baixinho e entrei na sala, a pegando no colo pelas costas. Danda gargalhou da forma mais fofa do mundo, virando o rosto para me beijar.
     ‎-Oi, mamãe.
     ‎-Oi, bebê filhote. Está bem?
     ‎-Uhum.
     ‎Beijei seu rosto também, ajeitando seus fios castanhos para trás. Peguei sua bolsa e coloquei no ombro. Saí da sala e comecei a fazer o caminho de volta para o carro.
     ‎-Mamãe já estava com tantas saudades, Dinha.
     ‎-Também, mãezinha.
     ‎Sorri, apertando de leve seu nariz delicado. Já no carro, a ajudei com a caderinha e fui para o banco de motorista.
     ‎-Mãe, cadê a Juju?
     ‎-Ah! Está aqui, meu amor.
     ‎Peguei seu gato de pelúcia no banco ao meu lado e lhe entreguei. Ao nascer, Danda tomou esse gatinho como seu maior companheiro, e não largava a Juju por nada. Dei partida no carro e abaixei o som do rádio.
     ‎-Como foi na escola nova, filhote?
     ‎-Normal.
     ‎-As outras crianças foram legais com você?
     ‎-Sim.
     ‎-Que bom! Então, você já está cheia de amigos novos?
     ‎-Não sei...
     ‎Apertei meus olhos. Sempre lidei com pessoas de várias idades com várias deficiências, mas você ver sua filha perdendo coisas tao importantes da infância só por um detalhe de diferença é agonizante, triste. E sendo mãe solteira então é pior.
     ‎-Sabe o que a mamãe andou pensando, meu amor? Eu tenho um amigo muito antigo que mora aqui em São Paulo. Ele tem um sobrinho na sua idade. Acho que vocês dois podem ser grandes amigos! Que tal?
     ‎-Tanto faz, mamãe. Se você quer...
     ‎-Não, amor. Você que tem que querer. Sabe, filha, você podia aproveitar que estamos em um cidade nova, com pessoas tão diferentes e tentar fazer mais amizades. Não precisa ser tão tímida.
     ‎-Eu queria estar no Rio. Eu gosto de ficar na ONG da vovó, você sabe. Porque eu não pude ficar com ela?
     ‎-E eu, filha? Eu gosto de estar com você. Se tivesse ficado com sua vovó, a gente quase não se veria.
     ‎Dandara não respondeu. Ficou brincando com seu gato na janela fechada, enquanto olhava também o trânsito do lado de fora.
     ‎Suspirei. Com minha mãe, ela conhecia meninas que não ligavam para suas limitações porque também tinham as suas. Mas eram meninas que minha mãe atendia por tempo breve, então nunca que virava uma amizade longa.
     ‎Ficamos em silêncio até em casa. A ajudei a descer do carro, peguei sua mochila de novo e lhe dei a mão, enquanto caminhávamos até o elevador.
     ‎-Esse prédio é bonito.
     ‎-Gosta dele? Que bom. Amanhã de manhã posso te levar no parquinho.
     ‎-Parece legal.
     ‎-Parece mesmo. Acho que vamos nos divertir lá.
     ‎-Sim!
     ‎Ela sorriu aberto, apertando minha mão. Beijei sua cabeça e entramos no elevador.
     ‎-Mãe, me desculpa? Eu sentiria muitas saudades suas se eu ficasse com a vovó. Gosto de estar com você.
     ‎-Tudo bem, meu amor. Mudança deixa todo mundo meio estressado, é normal.
     ‎-Mesmo?
     ‎-Claro. Vai ficar tudo bem, você vai ver.
     ‎-Então tá.
     ‎Ela me mandou um beijo e sorri.
     ‎-Sabe, se você acha que esse seu amigo tem um sobrinho que pode gostar de mim... Não seria ruim ter um amigo aqui.
     ‎-Com certeza não, Danda. A mamãe vai ver isso direitinho amanhã.
     ‎-Tudo bem. O que vamos fazer hoje?
     ‎-Pizza! Comprei tudo hoje de tarde.
     ‎-Eba!
     ‎O elevador parou em nosso apartamento, mais precisamente, na sala. Deixei a mochila no sofá e ela pegou seu andador para ir até mais fácil até nossa cozinha. Fui rápido até lá para cuidar dela.
     ‎-Vamos fazer pizza de que?
     ‎-Nossa, que esfomeada. Está parecendo demais com seu avô- Ela riu-Que tal você trocar de roupa primeiro? Depois voltamos aqui.
     ‎-Tudo bem, tudo bem.
     ‎Um dos luxos que procurei em nosso novo apartamento foi um elevador simples desses além da escada. Quando pequena, ela já caíra subindo a escada de nossa antiga casa, e seu fisioterapeuta me recomendou que ela não usasse muito a escada.
     ‎Enquanto minha filha tomava banho e se vestia depois, cuidei de meu trabalho no notebook em sua cama.
     ‎Minha promoção que me levou à São Paulo me tornou correspondente direta da conhecida marca Ralph Lauren em todo território brasileiro. Qualquer nova linha, nova franquia, ações, vendas, tudo estava sob meu controle. Acima de mim, apenas os presidentes na sede principal, Estados Unidos.
     ‎Em meu computador, autorizei a venda de uma franquia novissima em uma cidade conhecida no Nordeste. Com todos os documentos enviados ao homem que comprou a franquia, desliguei o computador.
     ‎-Pronto! Vamos, mãe?
     ‎-Claro.
     ‎Descemos juntas e seguimos até a cozinha. Ajudei ela a subir em um banco que a deixa na altura da mesa. Coloquei uma massa de pizza em sua frente e a outra na minha, as duas em tamanho pequeno.
     ‎-Como você vai fazer hoje?
     ‎-Calabresa. E queijo! Bastante.
     ‎-Vai engordar, hein.
     ‎-Só hoje.
     ‎Beijei seu rosto e peguei as coisas que pediu na geladeira. Deixei tudo perto de nós e enquanto ela montava sua pizza em suas vontades, montei a minha totalmente vegana.
     ‎-Está gostando desse apartamento, Danda?
     ‎-Muito. O meu quarto é bem maior-Sorri.
     ‎-É, sim. Uma conhecida da mamãe que decorou. Achei que ficou a sua cara.
     ‎-Eu amei. Mãe, coloca no forno?!
     ‎Ao olhar sua Pizza, sorri. Danda fizera um coração com a calabresa e sorria orgulhosa de sua obra.
     ‎-Ficou lindo. Inovando?
     ‎-Sempre.
     ‎-Quer orégano?
     ‎-Uhum.
     ‎Terminei com esses detalhes para ela, coloquei as pizzas no forno e seguimos até a sala. Danda pegou seu dever de casa, para que pudéssemos fazer juntas na mesa.
     ‎Depois, jantamos. Minha pequena cansou e dormiu deitada em meu colo. A carreguei até seu quarto, e só a deixei sozinha quando tive certeza que dormia bem.
     ‎De volta à sala, me servi meia taça do meu vinho favorito, sentei no sofá e peguei meu celular. Liguei a televisão e sorri ao ver a novela das 21h. Com meu celular, achei o contato esperado na minha lista e liguei.
     ‎-Alô?
     ‎-Oi, Fábio Porchat?
     ‎-Sim, sou eu. Quem é?
     ‎-Soube que o senhor usa roupas da minha loja, sou a presidente da Ralph Lauren no Brasil. Achei que aquele calça da nossa linda vestiu muito bem em você e queria só te elogiar mesmo-Ele riu.
     ‎-Talita! Você não muda.
     ‎-Não mesmo. Estou te vendo na Globo, agorinha. A novela está linda.
     ‎-Ah, valeu! Mesmo. Como você está? Não te vejo mais há anos, Sra. empresária.
     ‎-Estou bem, obrigada. Você sabe, né. Estou onde estou e sou mãe. Minha vida é lotada.
     ‎-Com certeza, imagino.
     ‎-E você? Como está?
     ‎-Usando roupas da Tommy.
     ‎-Não fale isso que vou aí renovar seu guarda roupa!
     ‎-Quer vir? Não ligo.
     ‎-Idiota. Sério, como você está?
     ‎-Feliz, realizado profissionalmente... Tudo bem.
     ‎-Ainda mora em São Paulo?
     ‎-Moro. Perto do Projac daqui. E você ainda está no Rio?
     ‎-Não. São Paulo.
     ‎-Sério? Você está aqui? Tatá, que ótimo! Vamos marcar de fazer algo?
     ‎-Quer vir aqui em casa amanhã? De noite. E será que você pode trazer o João?
     ‎-Claro. Para conhecer sua bebê?-Sorri.
     ‎-Sim. Queria que ela fizesse mais amigos aqui pela cidade.
     ‎-Entendi. Quantos anos ela está mesmo?
     ‎-Quatro. Faz cinco em um mês.
     ‎-Já? Meu Deus... Tem muito tempo que não vejo vocês mesmo.
     ‎Meu papo com Fábio durou horas. Falamos de trabalho, de tudo que fizemos e da vida em geral, tudo que perdemos.
     ‎Sabe aquela amizade boa, que passa anos e segue a mesma? Aquela amizade que você sabe que sempre terá conforto? Então. Esse é o Fábio.
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