Trinta

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Aviso: últimos capítulos postados de uma só vez

  Meus últimos dias em São Paulo não foram dos melhores. Fábio ficou com Danda um dia inteiro, mas a pegou e entregou-a para meus pais, não me procurou. Nesse mesmo dia, ele passou um recado pela minha mãe e apenas confirmei de volta. Ele colocou um chip no Ipad dela e salvou seu contato com um emoji bem colorido seguido de pai em letras garrafais, além de ensiná-la a fazer a ligação de vídeo.
   ‎Com esse meio, vi que eles conversaram todos os dias. Ouvi Danda comentar sobre mim em um dia, mas Fábio desconversou logo. Não foi por falta de tentativa. Mandei mensagem e cheguei a ligar, mas Fábio não respondia ou era seco. Cansei de correr atrás sozinha e apenas segui vivendo minha vida.
   ‎Sábado fomos cedo para o aeroporto. Estava fazendo meu check-in e o de Danda, com ela abraçada na minha perna, quando a ouvi falar:
   ‎-Papai!
   ‎Olhei para o lado e vi Fábio chegando. Disfarcei, continuando a despachar a mala. Ele se aproximou, pegando Dandara no colo. Ouvi minha menina rindo.
   ‎-Oi, minha boneca.
   ‎-Oi, pai. Você vai com a gente?!
   ‎-Não, Danda. Vim só te dar um beijo antes de ir. Mas eu prometo que vou ir te ver assim que der.
   ‎-Enquanto isso, posso te ligar, né?
   ‎-A hora que você quiser.
   ‎Acabei o check-in, me colocando numa cena mais desconfortável. Por sorte, Fábio entendeu e seguiu andando até sairmos daquela área.
   ‎-Pai? Mãe?
   ‎-Fala, amor.
   ‎Apenas a olhei. Minha filha estava confusa nos olhando.
   ‎-Vocês não vão se falar?
   ‎Fábio virou para mim, mas não tive coragem de encara-lo. Senti algo perto da vergonha queimar meu rosto.
   ‎-Mamãe?
   ‎Me senti torturada. Com lágrimas tampando minha visão, apenas saí de perto deles. Esqueci totalmente onde meus pais estavam, então apenas sentei em um banco qualquer. Assim que me acalmasse, iria ficar com a minha família.
   ‎Entretanto, enquanto estava respirando fundo, quase melhorando, Fábio sentou do meu lado sozinho.
   ‎-O que você quer, Porchat?
   ‎-Vim me despedir de você.
   ‎-Eu não quero.
   ‎-Sei... A Dandara parece bem com a viagem.
   ‎-Ela está.
   ‎-E você?
   ‎-Também.
   ‎-Te conheço no mínimo uns 12 anos, Talita.
   ‎-Fábio, se era sua intenção, então conseguiu. Eu não queria mais ir. Estou me sentindo péssima. Feliz? Agora me dá licença.
   ‎-Ei, calma. Fica aqui. Sabe, eu continuo chateado com você. Mas precisamos manter uma mínima relação de respeito, temos uma filha juntos. E você parar de achar que te odeio também serve de respeito aos nossos anos todos juntos.
   ‎-Porque você veio aqui hoje fazer isso comigo?
   ‎-Achei que em espaço público seria mais fácil.
   ‎Sequei meu rosto com as costas da mão e olhei para o lado. Vi casais e famílias felizes com suas viagens. Ninguém ali parecia estar na minha situação também.
   ‎-Você não me respondeu direito essa semana, só ficou com a Danda e não tratou assunto nenhum comigo.
   ‎Soei como uma criança mimada. Fábio sorriu de leve e olhou diretamente para mim.
   ‎-Não sinto necessidade de sermos íntimos de novo. Conversei diretamente com seu irmão essa semana.
   ‎-Eu te perdi totalmente, não é?
   ‎-Ainda podemos ser... amigos. Não acho legal a gente não conversar se temos a Danda.
   ‎-Tudo bem. Eu pedi por isso.
   ‎-Pensa, Tatá. É mais fácil para nós dois assim. Namoro à distância é sempre complicado.
   ‎-Não quando é de verdade, Fábio. Eu vejo a Bruna e o Neymar, tão novos, já com a vida à dois toda planejada e tão pronta, sendo que os dois vivem de namoro à distância. Mas eu entendo que fidelidade e companheirismo são coisas complicadas mesmo. Espero que você seja muito feliz aqui. Só lembra de não me convidar para seu casamento, e não me peça para deixar nossa filha ser daminha.
   ‎-Talita. Calma, está fazendo escândalo.
   ‎-Já se despediu da Dandara? Estou indo para a área de embarque.
   ‎Fábio suspirou e se levantou. Fiz o mesmo. Segui-o até onde minha família estava com Danda.
   ‎Éramos tóxicos um ao outro. Senti que nossa proximidade machucava alguém toda hora, só não esperava que a próxima a se afetar seria justamente quem menos queríamos.
   ‎Danda foi se despedir do pai, mas ficava me olhando confusa. Quando a peguei no colo de volta, Fábio beijou seu rosto e saiu do aeroporto.
   ‎Segui para o portão de embarque mostrando para ela os aviões na pista, depois fiquei falando do Rio. Até meu irmão tentou fazer bobeira para ela rir, mas o máximo que conseguimos foi fazer ela ficar quieta.
   ‎Sentamos para tomar café num restaurante perto do portão de embarque e Danda ficou no colo do avô, que a animou por pouco tempo. Foi necessário só ela ver uma pelúcia do Olaf à venda que chorou. A peguei no meu colo e andei pelos portões, ninando-a. Voltei para a mesa com Dandara dormindo.
   ‎-Que houve, Tatá?
   ‎-Não sei. Talvez seja o remédio que deixou ela assim. Danda vai acordar bem.
   ‎Menti, e todos perceberam. Fábio fazia Danda rir imitando o Olaf, e não a toa esse virou o filme favorito dela de uma hora para outra. Nossa filha se acostumou em nos ter juntos, e em um susto, se viu longe do pai que nunca tinha tido. Admito que a culpa cresceu ainda mais em mim.

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