Vinte e oito

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Fábio foi para casa por volta de 15h. Tomamos café juntos num shopping pequeno perto do hospital e voltei sozinha, visto que ele merecia descansar. Minha sogra e cunhada foram comer também, com João, e pude ficar um tempo sozinha com Danda.
‎  Minha filha teve que fazer um exame, o qual não pude acompanhar. Peguei meu celular e fui mexer nas redes socias de Fábio. Vi fotos de festas, novelas, séries, encontros, e tudo mais que ele postara ou havia sido marcado. Acredito que me incomodei um pouco, mas disfarcei quando Danda voltou. Agradeci ao enfermeiro e sorri.
‎Sentei na cama e minha pequena se ajeitou no meu colo, enquanto jogávamos um jogo no meu celular.
‎  -Mãe?
‎  -Oi, amor.
‎  -O que vocês dois vão fazer hoje?
‎  -Não sei, Danda. O Fábio não me contou as ideias dele. Mas a gente deve sair para jantar.
‎  -Quando vocês forem casar, quero ser daminha-Ri.
‎  -Quando a gente casar, você entra com o seu gatinho na Igreja.
‎-Eu vou ganhar um gatinho?!
‎-Seu pai me convenceu hoje. Vamos escolher um quando você melhorar.
‎ -Sério?! Obrigada, mãe!! Eu quero um gatinho preto.
‎ -Preto mesmo?
‎-Sim. Porque ninguém gosta deles. E eu acho que eles podem se sentir tristes com isso. Eles não dão azar, mamãe.
‎ -Eu concordo plenamente, minha princesa. Sabia que, quando seu pai me conheceu, eu tinha 13 gatos? Três eram pretinhos.
‎ -Treze? É muita coisa... Eu nem tenho taanto dedo assim.
‎ -Não mesmo.
‎ -E porquê você deu eles?
‎ -Eu morava sozinha com você, Danda. Não consegui cuidar de você e deles. Uma amiga minha tinha uma ONG e aceitou cuidar deles. Mas eu fiquei tão chateada quando dei eles.
‎  -Desculpa, mãe. Não queria ter te feito dar seus gatinhos.
‎  -Você nem tinha nascido ainda, princesa. Foi uma escolha minha e da sua avó.
‎-Eu te empresto meu gatinho quando você quiser! Não são treze, ainda faltaria... quinze?
‎ -Que conta é essa, filha?
‎ -Não sei... Fiquei confusa.
‎-Faltaria doze. Quinze é bem maior. Não lembra?
‎ -Doze. Eu não gosto de números. Enfim. Mas eu deixo você até escolher o nome dele!
‎ -Obrigada, meu amor. Mas você não precisa se preocupar que eu não estou chateada com você.
‎  -Mesmo?
  ‎ -Claro. Nunca fiquei.
  ‎ Ela riu e se ajeitou exatamente como um gato no meu colo, quase ronronando. Bloqueei a tela do celular e fiquei fazendo carinho em seu rosto. Danda bocejou e coçou os olhos.
  ‎  -Já vai dormir, filha?
  ‎  -Eu não tô com sono... É preguiça.
  ‎  -Preguiça?
  ‎  -É.
  ‎  Tentei, mas Danda não dormia por nada. Depois que eu já estava desistindo, João e Alice voltaram e desisti de vez. O pequeno dessa vez voltou com um jogo, e os dois sentaram num tapete para brincar. Sentei no sofá com Alice, olhando os dois.

🌸

    Minha sogra foi em casa e voltou faltando uma hora para o fim do horário de visita. Também, nessa hora, assim que guardaram o jogo, Danda me chamou toda manhosa. A peguei no colo preocupada.
    ‎-Tudo bem, Dandinha?
    ‎-Sono.
    ‎Sorri e a balancei um pouco. Lice sorriu e minha sogra mandou um beijo para ela. Deitei-a na cama, mas fiquei segurando sua mão e contando uma historia baixinho. Quando ela dormiu, levantei satisfeita por vê-la descansando.
    ‎Me despedi da família de Fábio ali presente e fui direto para casa. Queria me preparar para sair com Fábio sem pressa.

🌸
🌸

     Estava colocando meu último brinco quando ouvi a porta da sala abrindo. Fábio me gritou da escada, respondi ainda no quarto. Enrolei no quarto por um tempo, só desci uns bons dez minutos depois. Senti seu olhar avaliar meu vestido vermelho da barra até a alça.
     ‎-Puta que pariu.
     ‎-Quê?
     ‎-Que mulher. Isso tudo é pra mim?
     ‎Fábio me pegou na escada e me colocou no chão em sua frente. Enquanto era recebida com um beijo, ele alisava minha cintura. Ri e segurei seu rosto.
     ‎-Fabinho.
     ‎-Sim?
     ‎-Tenho um presente para você.
     ‎-Que é...?
     ‎Abaixei a alça do meu vestido, mostrando minha lingerie. Senti que seu olhar comeu minha pele.
     ‎-Esquece a reserva no restaurante. Eu fico satisfeito aqui nesse sofá.
     ‎-Nem pensar. Isso aqui é só mais tarde.
     ‎Fábio beijou a alça do meu sutiã, subindo para a boca. Ainda rindo,o afastei e ajeitei meu vestido.
     ‎-Vaza. Vamos logo?
     ‎-A senhora que manda.
     ‎Ele pegou minha mão, a beijou e me entregou flores que estavam atrás do sofá. Sorri e o segui até seu carro. Estava sendo lindo fingir que tudo estava certo, como se tivéssemos voltado no tempo antes de Ralph Lauren, da Danda e de qualquer fator que veio para nossa vida nos últimos  anos.
     ‎No carro, Fábio ligou o rádio e foi até o restaurante se sentindo em um karaokê. Primeiro, ele cantou para mim Evidências, depois seguiu cantando uma mistura de pagodes e sertanejos bregas. Quando parou o carro, conferi se minha maquiagem estava no lugar por ter chego a chorar de rir.
     ‎-Você é tão boba. Estava rindo do quê?
     ‎-Meu amor, como cantor, você é um ótimo humorista.
     ‎-Humorista? Eu canto pra cacete.
     ‎-Canta sim, amor. Não deixa ninguém te fazer desistir. Só não canta em público.
     ‎-Prometo.
     ‎Demos um selinho e só não abri a porta porque Fábio segurou minha perna.
     ‎-Tem paparazzi na porta. Já até conheço aquele casal ali. Você está pronta para isso? -Engoli em seco- Tatá?
     ‎-Eu... Não sei. Você quer me assumir, mas esse é o melhor jeito? Criando boato?
     ‎-Concordo. Vou na frente, espera uns cinco minutos e vai depois. Quando eu entrar, eles com certeza não vão continuar ali.
     ‎-Porque caralhos esses caras estão aqui?
     ‎-A Globo é aqui perto. Comum artistas aqui. Me perdoa ter te trazido aqui logo hoje?
     ‎-Tudo bem, Fábio. Dia dos namorados. Não vamos nos irritar por bobeira hoje. Vai indo. Já, já eu vou.
     ‎-Certo. Te amo.
     ‎Fábio saiu do carro após me dar um beijo. Dei uma última conferida no meu cabelo com o espelho,mas quando o subi, vi meu namorado conversando com uma loira na porta. Logo vi que era a parceira de cena dele, a Calabresa. Senti ciúmes em cada mísera parte do meu corpo. Se era para Fábio ter boato de estar namorando, que fosse comigo e não com uma amiga.
     ‎Abri a porta, fechei o carro e entrei. Caguei para a instrução de esperar um pouco. Mal vi a recepcionista, só indiquei ele com a cabeça e o segui. Levantei meu vestido, dei uma corrida e cutuquei suas costas. Ele parou e virou para mim, enquanto a atriz também.
     ‎-Tatá? Achei que ia esperar mais um pouco.
     ‎-Mudei de ideia.
     ‎-Estava falando de você agora. Tatá, essa é a Dani. Dani...
     ‎-Prazer! Fábio tem falado bastante de você sempre, não só agora.
     ‎-Prazer é meu. Você vai ir sentar conosco?
     ‎-Não, não. Tem uma pessoa me esperando. Aproveitem a noite.
     ‎-Obrigada.
     ‎-Você também, Calabrox. Vê se não engravida que a novela tá no meio.
     ‎-Filho da puta.
     ‎Ele riu e me levou para nossa mesa. Reservada, iluminada e tranquila.
     ‎-Você e Dani devem se dar muito bem. Acho que se parecem em muito.
     ‎-Aham.
     ‎-E você, senhorita, precisa aprender a disfarçar seu ciúmes.
     ‎-Não estou com ciúmes.
     ‎-Desfaz esse biquinho então.
     ‎-Fábio, a gente vai dar certo?
     ‎-Porquê, amor? Claro que sim.
     ‎-A minha vida é cercada de luz, fotos, roupa, maquiagem e desfile. Eu nunca apareço. Quando me fotografam, é insignificante demais e minhas fotos ficam em no máximo, um site. Você não. Metade do Brasil vê sua novela e a outra metade sabe quem é você, pelo menos. Eu andei vendo seu instagram e as fotos que te marcam. Todo mundo torce por você e aquela mulher. Nossas vidas não encaixam. São muito diferentes.
     ‎-Tatá... Isso não tem nada a ver. Nada mesmo. A sua vida é tão midiática como a minha. E, pelo amor, eu e Dani não temos nada, e nunca teremos. Ela é ex-esposa de um dos meus melhores amigos, o Adnet. Porque tudo isso logo hoje, logo agora? Você estava bem ali no carro.
     ‎-Te vi com a Dani na porta, o paparazzi também. Fora que eu sou tímida. Eu não quero ir num shopping com você em uma dia e ter um cara tirando foto nossa sem pedir! E pior. E se a Danda estiver com a gente? Nunca tínhamos pensado nessas coisas antes!
     ‎-No meu ponto de vista, são preocupações desnecessárias, Tatá. Te amo, você sabe.
     ‎-Eu vou pedir para você não me assumir para a mídia. Olha quanto problema na minha vida. Não quero passar por isso, tudo bem?
     ‎-Se isso vai te fazer sentir melhor... Mas espero que confie em mim, amor. Eu continuaria preservando você e principalmente a Danda.
     ‎-Confio em você, Fábio. Mas...
     ‎-Mas?
     ‎-Eu não sei. Me senti mal. Num momento, senti como se eu não encaixasse no seu mundo.
     ‎-Claro que encaixa, Tatá. Você nunca pensou assim. Essa sua insegurança repentina está me dando um pouco de medo. Não foi só ciúmes, não é?
     ‎-Não é.
     Um garçom aproximou-se e perguntou se tínhamos escolhido. Fábio pediu um tempo maior e voltou sua atenção para mim.
     ‎-Quer ir embora?
     ‎-Não.
     ‎-Certeza?
     ‎-Eu vou no banheiro. Quando voltar, podemos começar do zero.
     ‎-Vem cá.
     ‎Fábio pegou minha mão e me levou para uma porta grande ali. Demos em um espaço com um chafariz grande, um jardim bem montado e vazio. Meu namorado me levou até um banco e sentou do meu lado. Ficamos um tempo em silêncio, e fiquei tentando controlar minha respiração ao olhar para o colo.
     ‎-Eu lembro a primeira vez que entrei em um estúdio na Globo. Ia gravar com a gênia, Fernanda Torres. Não tinha uma parte de mim que não fosse nervoso puro. Só consegui gravar porque lembrei de uma frase que uma pessoa me disse uma vez. "Se não te desafiar, é por que não serve. Se for fácil, não tem graça". Sabe quem me disse isso?
     ‎-Não.
     ‎-Foi você. Rindo, no nosso primeiro encontro. Estava me contando sobre seus planos na empresa. Deveria lembrar sempre disso.
     ‎Ele secou a lágrima que escorreu rápido, fugida. Pisquei e peguei sua mão.
     ‎-Você está bem? Quer ir para casa? Está se sentindo febril ou alguma coisa assim?
     ‎-Para, seu exagerado. Eu estou bem.
     ‎-Certeza?
     ‎-Sim. É que eu realmente senti medo. E ver que você se encaixava mais no perfil de outra mulher foi tão ruim. Eu quero ser feliz com você.
     ‎-Nunca pensei em ser feliz com outra, Tatá.
     ‎Fábio me puxou para seu abraço. Aproveitei e me aninhei nele, ganhando carinho nas costas.
     ‎-Sem chorar, ouviu? Sem chorar porque, caso contrário, eu te coloco de castigo.
     ‎-Que castigo você poderia fazer comigo?
     ‎-Uhm... Te deixar sem colo.
     ‎-Se eu estiver chorando, duvido que faça isso.
     ‎-Quer apostar?
     ‎-Não.
     ‎Fábio riu, enquanto o olhei de cara feia. Entretanto, recebi um selinho.
     ‎-Você está bem?
     ‎-Estou. Perdão por isso tudo.
     ‎-Tudo bem, é justo você me questionar essas coisas. Mas foi você quem disse que não deveríamos nos irritar com essas coisas hoje.
     ‎-Vamos voltar? Começar de novo.
     ‎-Você que decide.
     ‎Peguei sua mão e voltamos para nossa mesa. Pedi meu jantar, bebi um gole do vinho de Fábio e recebi mais um beijo.

🌸🌸🌸

     
     ‎ Meio desnorteada, acordei na cama de Fábio. Estava tudo escuro ainda e ele permanecia dormindo ao meu lado. Entretanto, já se passava de 7h.
     ‎As memórias foram voltando aos poucos quando vi que eu vestia apenas uma blusa preta enorme em mim, com estampa do Porta dos Fundos. Rindo, deitei delicadamente em cima de meu namorado e beijei seu rosto.
     ‎-Fábio? Fabinho.
     ‎-Oi, amor da minha vida.
     ‎Senti meu rosto ficar vermelho e lhe dei um beijinho rápido na bochecha.
     ‎-Que tal a senhora sair de cima de mim?
     ‎-Não. É confortável aqui em cima. Você é tão gordo...
     ‎Fábio levantou rápido e me jogou na cama de costas, rindo igual uma criança. Seu rosto fica muito fofo com marcas de sono, enquanto a voz rouca lhe dá uma certa graça.
     ‎Entretanto, o olhei de cara feia por ter me jogado na cama daquele jeito. Fábio colocou uma mão de cada lado do meu corpo, ficando por cima de mim. Decidi fazer minha vingança. Por sorte, alguns anos em companhias de teatro me ajudaram a fazer a cena de drama.
     ‎-Gostou?
     ‎-Não. Agora está doendo aqui...
     ‎-Para de cena, Talita. Nem tem como você se machucar assim.
     ‎-Claro que tem! Tá doendo mesmo, Fábio.
     ‎-Aonde? Me deixa ver.
     ‎-Aqui.
     ‎-Mas não tem nada...
     ‎-Não aperta! Não encosta em mim.
     ‎-Amor... Sério, me desculpa. Vem cá, te ajudo a sentar. Vou pegar um gelo, quer?
     ‎Continuei o olhando de cara, mas acabei rindo. Sentei e beijei seu rosto várias vezes.
     ‎-Filha da...
     ‎-Não fica com essa carinha, amor. Eu te amo.
     ‎-Achei que tinha te machucado, Talita! Qual teu problema?
     ‎-Vai ficar falando assim comigo? Estava brincando, bebê.
     ‎-Não teve graça nenhuma, Talita.
     ‎-Para de me chamar de Talita, Fábio Porchat de Assis.
     ‎-Errou meu nome.
     ‎-Errei nada. Esses são seus sobrenomes. Ou eu inverti a ordem..?
     ‎-Nunca vai saber.
     ‎-É sério. Eu acertei a ordem, não é?
     ‎-Não sei. Será?
     ‎-Você diz que eu errei, e admito. Está faltando o Werneck no seu nome.
     ‎Fábio foi derrotado e riu. Fui envolvida por seus braços e recebi um beijo carinhoso dele.
     ‎-Quem disse que eu vou colocar Werneck?
     ‎-Prefere Arguelhes?
     ‎-Estou te achando tão abusada.
     ‎-Eu só coloco Porchat no meu nome se você colocar Werneck. Caso contrário, vai sonhando.
     ‎-Você é muito espertinha, garota. Já sei porque a Dandara é assim, toda geniosa.
     ‎-A gente tem personalidade forte.
     ‎-Estou vendo.
     ‎Por duas vezes, falamos de levantar e ir tomar café da manhã. Mas, infelizmente, estávamos devidamente instalados no quarto para ir até a cozinha. Acabamos tendo que aproveitar o momento para uma memória da nossa noite.

🌸🌸🌸

      Usei metade do meu dia para arrumar minha. Fui para casa, conversei bastante com meus pais e aproveitei o fim do horário de visita. Fábio se comprometera de dormir com nossa Danda de novo, então voltei para casa assim que entardeceu.
      ‎Com minha mãe, decidi o rumo que minha vida tomaria. E, assim que decidimos tudo, suspirei com pesar. Fábio odiaria saber das notícias.
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