Vinte e três

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  Esperamos Tatá por cerca de 15 a 20 minutos. Quando ela voltou, não nos olhou e sentou em outra poltrona. Bruna me olhou nervosa.
  ‎-Tatá?
  ‎-Uhm?
  ‎-Está tudo bem?
  ‎-Tudo.
  ‎Olhamos confusos para ela. Bruna sentou no braço da poltrona, se apoiando em Tatá.
  ‎-Tem certeza? Você não parece bem.
  ‎-Tenho.
  ‎Nem tentei perguntar nada. Fui até a poltrona e acariciei seu cabelo devagar. Tatá parou, de forma que eu já estava esperando ganhar um esporro. Mas ao contrário, ela apenas deitou a cabeça no meu colo.
  ‎-Não quer mesmo conversar sobre o que houve?
  ‎-Não.
  ‎-Só me garante que não tem nada a ver com a Danda e seus pais. Só assim eu vou ficar despreocupado.
  ‎Tatá olhou para mim, depois para Bruna. Mas quando eu achei que iria começar a falar, ela levantou.
  ‎-Eu vou ficar com meus pais.
  ‎E saiu. Bruna pensou em ir atrás, mas segurei seu braço.
  ‎-Não, não vai. Deixa ela.
  ‎-O que será que o médico falou para ela?
  ‎-Não tenho ideia. E é isso que me preocupa.
  ‎Alguns minutos depois, uma enfermeira veio nos informar que tudo corria bem dentro da sala de cirurgia. Isso nos aliviou de uma parte da preocupação.
  ‎
🌸

    Não vimos mais a Talita. Mas mesmo assim, ficamos na sala de espera aguardando mais notícias. Por volta de 20h, depois do terceiro copo de café, Bruna me olhou.
    ‎-Fábio?
    ‎-Oi.
    ‎-Sua vez de buscar café.
    ‎-Mas eu acabei de ir! Já fui duas vezes, você só uma.
    ‎-E eu estou grávida e não posso ficar fazendo esforço assim.
    ‎-Espera, você está mesmo?
    ‎-Aham. Já tem um tempinho que falei isso com a Talita. Achei que ela tinha te falado. Mas ainda é segredo.
    ‎-Prometo silêncio. Parabéns, criatura.
    ‎-Idiota. Vai pegar café pra mim, vai.
    ‎-Não. Faz mal para o bebê.
    ‎-Caralho, como a Talita te aguentou todos esses anos?
    ‎-Ela me ama. Vou lá pegar café para mim.
    ‎-Fábio! Eu também quero.
    ‎-Não. Você já tomou mais que o suficiente. Quer água?
    ‎-Quero. E vou jogar tudo em você.
    ‎-Você é tão fofa. AH!
    ‎-Que susto. O quê?
    ‎-Então é você que está grávida!
    ‎-Foi isso que eu acabei de falar.
    ‎-É que eu vi um teste no carro da Tatá e eu achei que ela poderia... Meu Deus, Bruna, que alívio-Ela gargalhou.
    ‎-Não viaja, bobo. Minha amiga está mais na seca que o deserto do Atacama.  Achei que tinha conseguido desencalhar ela com o Tiago, mas ainda bem você voltou.
    ‎-Você reclama, mas me ama, não?
    ‎-Amor é uma palavra muito forte. Eu gosto.
    ‎-Já é melhor que nada.
    ‎Levantei e peguei um copo de café, mas estava pegando para Bruna. Depois de tanto café que bebemos, já tinha decorado o jeito que ela gostava.
    ‎-Bruninha, aqui.
    ‎-Fábio! Obrigada. Agora entendi porque a Tatá te ama.
    ‎Ri e lhe entreguei o copo, enquanto conferia minhas mensagens. Antes que eu pudesse falar de novo, reclamando do sumiço de Tatá, senti uma mão delicada no meu quadril. Virei sorrindo, pois conhecia a dona daquela mão pequena.
    ‎-Oi, amor.
    ‎-Oi,Fabinho.
    ‎Tatá selou nossos lábios e me presenteou com um sorriso suave. Mas levei um leve susto ao ver Diego ao seu lado.
    ‎-Que nostálgico ver vocês juntos de novo.
    ‎-Eu sei... É estranho até para mim.
    ‎-Quando você chegou, Diego?
    ‎-Agora, tem pouquíssimo tempo.
    ‎-Ah, sim.
    ‎-Fábio, eles me convenceram a ir ver um médico. Vem comigo?
    ‎-Claro, Tatá. Vamos lá. Vai ficar aqui, Diego?
    ‎-Vou.
    ‎-Certo. Mandem mensagem se tiverem notícias.
    ‎-Podem deixar.
    ‎Tatá segurou minha mão e caminhamos até a recepção. Preenchi o formulário para ela e depois sentamos em um banco.
    ‎-Sabe o que eu pensei? Tínhamos que começar a planejar uma festa enorme para você e Dandara de aniversário.
    ‎-Fabinho, eu até esqueci que nosso aniversário está perto.
    ‎-Temos que pensar nisso então.
    ‎-Isso é a última coisa que quero pensar. Só quero imaginar a minha pequena bem.
    ‎-Ok. Mas quando Danda sair da cirurgia, vou te lembrar disso.
    ‎-Então eu te falo se vou aceitar ou não.
    ‎Tatá me roubou um selinho, mas o médico a chamou antes que pudesse beijá-la.

🌸

    Se tem uma coisa que não muda para Tatá é o pavor de agulha, mas o médico realmente só queria aplicar o soro. Depois que ele errou uma vez por que ela tremeu, a segunda tentativa deu perfeitamente certo. Sentei em um poltrona ao lado da sua e lhe dei o beijo de antes.
    ‎-Viu o esporro do médico, não? Você tem que comer direito.
    ‎-As vezes não dá.
    ‎-Dá sim. Agora nem que eu tenha que te levar o almoço, você vai comer bem todo dia.
    ‎-Eu tenho o namorado mais fofo do mundo.
    ‎-Eu sei, eu sei.
    ‎-Mas podemos parar de falar disso?
    ‎-Claro. Quer falar sobre o que?
    ‎-Qualquer coisa. Só muda um pouco... Porque não me fala o que fez nesses últimos anos?
    ‎-Não fiz nada de interessante. Me fala você de como alcançou tão cedo o lugar de CEO.
    ‎-Eu sou sexy, você já deve saber-Ri.
    ‎-Boba. Fala a verdade.
    ‎-Estou cansada. Essa história é meio longa. Fico te devendo ela, ok?
    ‎-Vou cobrar. Aproveita para dormir, pequena.
    ‎-Estou bem, Fábio. Mas me conta algo que eu não saiba.
    ‎-Sobre o quê você quer ouvir? Eu não consigo pensar em nada.
    ‎-Qualquer coisa, Fabinho. Me fala do João. Não vi mais ele depois daquele dia lá em casa. A Danda pergunta dele algumas vezes.
    ‎-Ah, ele também pergunta dela. Quando a Dandinha estiver recebendo visitas, eu vejo se o João pode entrar.
    ‎-Aposto que ela ia adorar receber ele.
    -Não duvido. Você soube educar ela tão bem, é a criança mais fofa que já conheci.
    Tatá sorriu sem jeito e desviou o olhar, mas estava atento e sequei a lágrima solitária que escorreu em seu rosto.
    ‎-Estou com saudades da minha filha.
    ‎-Ela já deve estar saindo do centro cirúrgico, baixinha. Vai dar tudo certo.
    ‎-Tem que dar.
-O que o médico falou com você aquela hora?
    ‎-Me perdoa... Mas não vou falar isso. É particular, não tem nada a ver com ela. Nem com meus pais.
    ‎-Prometo não perguntar mais sobre isso. Seus pais estão bem?
    ‎-Sim. O médico acha que amanhã de manhã eles saem. Meu irmão assumiu o caso agora e vai cuidar de tudo. Vai cuidar do caso de corrupção e do acidente.
    ‎-Concordo que você precisa descansar, Teitei.
    ‎Ela apenas assentiu, não sei se por sono ou se por fraqueza. Acariciei seu cabelo.
    ‎-Dorme, vai. Vou ficar aqui cuidando de você.
    ‎-Você também não me contou nada daquela história.
    ‎-Deixa para amanhã.
    ‎Tatá foi fechando os olhos sem nem perceber. Quando a vi dormir, zelei seu sono e fiquei mexendo no celular em silêncio.

🌸

    ‎Por volta de 22h e pouco, quase 23h, recebi uma ligação de um número desconhecido. Ao atender, reconheci logo a voz.
    ‎-Fábio? Oi, é Diego.
    ‎-Oi, tudo bem aí?
    ‎-A cirurgia da minha sobrinha acabou tem uma meia hora, ocorreu tudo dentro do esperado. Mas agora que acordou, quer ver você e Tatá. Vocês podem vir para cá? A Danda não  quis ver mais ninguém
    ‎-Vou chamar uma enfermeira para vir ver Tatá por que ela ainda está no soro e dormindo.
    ‎-Ok, Fábio. Valeu.
    ‎Chamei primeiro a enfermeira, que me disse que Tatá poderia ser liberada visto que o soro já tinha mesmo acabado. E enquanto ela tirava, fui acordando minha pequena com carinho. Em resposta, Tatá me olhou de cara feia.
    ‎-Me deixa dormir, Fábio.
    ‎-A Danda acordou.
    ‎-Ah, obrigada.
    ‎Ela tentou levantar, mas teve que voltar quando lembrou do soro.  A ajudei a levantar quando a enfermeira a liberou e chamei o elevador.
    ‎-Está melhor? A fraqueza passou?
    ‎-Pouco. Eu realmente preciso dormir.
    ‎-E comer. Quando deixarmos a Danda, vou te levar para comer e depois você dorme.
    ‎-Veremos. Quem te avisou sobre ela? Sabe se Danda está bem?
    ‎-Seu irmão disse que correu tudo dentro do esperado, tudo acabou tem meia hora e ele só acordou agora.
    ‎-Entendi. Ela chamou por mim?
    ‎-Por nós dois.
    ‎-Você realmente comprou minha filha, né?
    ‎Dei de ombros e entramos no elevador. Na sala de espera, apenas Diego estava lá no sofá de antes.
    ‎-Cadê a Bru?
    ‎-Teve que ir para casa, estava ficando cansada demais. Mas agora...
    ‎Ele chamou o médico, que nos guiou para os quartos de reabilitação pós-cirurgia. No caminho, foi nos explicando tudo que foi feito e o porquê.
    ‎Vi que Tatá estava até mesmo começando a tremer só de ouvir o que fizeram com Dandinha. Coloquei a mão em suas costas, fazendo carinho, e recebi um sorriso leve de resposta.
    ‎Ao chegarmos no quarto, abri a porta e entrei primeiro. Engoli em seco.
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