Dois

63 9 2
                                    

     Cinco horas da tarde, pontualmente, estacionei meu carro na escola e busquei minha bebê em sua sala.
     ‎Até em casa, fui tentando conversar sobre a escola com ela. Ao ver que não conseguiria nada, mudei de assunto e comecei a falar sobre Bruna e quaisquer outros assuntos.
     ‎Em casa, conversei com minha gorvenanta. A mesa, posta para quatro e o jantar já recém-pronto. Ajudei minha princesa com seu dever de casa no sofá mesmo.
     ‎-Mãe, quando seu amigo chega?
     ‎-Em breve. Vamos trocar de roupa?
     ‎-Vamos. Quero usar aquele vestido que trouxe pra mim do seu trabalho.
     ‎-O florido? Ficou lindo em você mesmo.
     ‎Sorrindo, Danda desceu do sofá. Levantei e subimos juntas. Após a ajudar com sua roupa e cabelo, fui para meu quarto.
     ‎Optei por um vestido preto todo justo no corpo, tipo envelope, e manga comprida. Minhas únicas maquiagens escolhidas foram um batom escuro e cílios postiços.
     ‎-Tão linda, mãe.
     ‎-Você também, meu amor. Vem cá.
     ‎A peguei no colo e voltei para sala a segurando. Mal Danda saiu de meu colo, o interfone tocou. Atendi logo.
     ‎-Senhora Werneck, há um homem aqui na portaria que deseja subir para seu apartamento. Se identifica como Fábio.
     ‎-Ah, pode deixar subir, seu Carlos. Obrigada.
     ‎-Disponha.
     ‎Desliguei o interfone e fui até a porta do apartamento. Danda continuou sentada no sofá esperando. O fato de que seria apresentada a uma pessoa nova a deixa nervosa e, consequentemente, eu fico também.
     ‎Logo Fábio e seu pequeno sobrinho surgiram ao abrir das portas metálicas. Meu amigo de tanto tempo sorriu abertamente ao me ver e minha postura de empresária foi embora. O abracei forte, sendo correspondida, o que fez meus pés saírem do chão.
     ‎-Saudades, tampinha.
     ‎-Também, bundão-Ele riu.
     ‎-Meu sobrinho, Talita.
     ‎-Ah, perdão.
     ‎Nos soltamos e sorri para o pequeno homenzinho tão semelhante ao tio. Ele sorriu simpático de volta para mim.
     ‎-Você é o João Francisco, certo?
     ‎-Sim! Prazer.
     ‎-Todo meu, príncipe.
     ‎-Ela é a sua filha?
     ‎Olhei para dentro do apartamento e vi Danda nos olhando por cima do sofá. Sorri e os chamei para entrar mais no apartamento, enquanto caminhava até ela, que se endireitou e ficou em pé do meu lado.
     ‎-João, essa é Danda.
     ‎-Oi!
     ‎Ela sorriu para João, o que, aos meus olhos, já foi um enorme avanço. Fábio abaixou em sua altura e beijou o rosto da minha princesa.
     ‎-Você é linda igual sua mãe, Danda.
     ‎-Obrigada.
     ‎-Danda é apelido de que nome mesmo? Esqueci.
     ‎-Dandara. Mamãe me deu esse nome por causa da esposa do Zumbi dos Palmares. Ela foi uma mulher muito corajosa.
     ‎Fábio lançou um sorriso para mim. Minha pequena sempre teve interesse em História, mas saber de onde tirei inspiração para seu nome aguçou sua curiosidade mais ainda.
     ‎-Ah, mesmo? Aposto que você é tão corajosa quanto ela.
     ‎Minha princesa sorriu, se apoiando de leve em mim.
     ‎-Danda, porque não leva o João para jogar um dos seus jogos lá em cima? Aposto que vão gostar.
     ‎-Tudo bem. Vamos?
     ‎Ele assentiu e Danda o levou até o segundo andar, na sala de jogos. Sorri para Fábio.
     ‎-Ela está linda.
     ‎-Obrigada. João também está lindo. E, de novo, obrigada por trazer ele.
     ‎-Imagina. Está difícil a mudança?
     ‎-Sim. E, diga-se de passagem, minha filha não é boa para fazer amizades.
     ‎-Sério? Ela pareceu tão bem agora.
     ‎-E está. O problema é que na escola ela não brinca igual as outras crianças. A Danda sofre com isso.
     ‎-Imagino...
     ‎Sorri de leve e lhe servi uma taça de vinho igual a minha. Enquanto servia, Fábio ficou observando a vista de São Paulo na parede de vidro da sala.
     ‎-É lindo aqui.
     ‎-Demais. Eu não canso de olhar.
     ‎-Te vi na capa da Forbes hoje. Primeira mulher na lista de empresários mais influentes desse ano.
     ‎-Ah, sim. Bom, pretendo subir ainda.
     ‎-Que ambiciosa, Talita.
     ‎-Sou muito. Só quero crescer mais.
      Ele sorriu, voltando seu olhar para a vista.
      ‎-E eu tenho te visto na novela. Quem diria, um humorista como mocinho das 21h. Tem alguém aí que também é ambicioso.
      ‎-Ah, foi difíci convecer eles. Mas é que o humor estava me desgastando um pouco.
      ‎-Imagino. Fico feliz de te ver lá, demais. De ver que conseguiu trabalhar com o que ama.
      ‎-Obrigado, baixinha. Também fico feliz de te ver estampando a Forbes.
      ‎-Vai falar isso quantas vezes hoje?
      ‎-Pelo amor de Deus, várias! Minha amiga é a dona da porra toda.
      ‎-Fábio, para de coisa. Sou a Talita, sua Teitei. Esquece a empresária.
      ‎-Tudo bem, você está certa. Estava com tantas saudades de você.
      ‎-Eu também.
      ‎Deixei minha taça de vinho na mesa e o abracei, brevemente. Sentamos juntos no sofá.
      ‎-Como está sendo morar em São Paulo?
      ‎-Bem diferente. Ainda é cedo para falar que sinto falta do Rio?
      ‎-Já? Porquê?
      ‎-Ah, sinto que o Rio é mais humano. O meu trabalho já é tão pesado, gostava de sair do escritório e ver a Lagoa Rodrigo de Freitas, as praias, os parques... E lá eu ficava menos sozinha. Meus pais e meus amigos estão lá. Aqui eu só tenho a Bruna e agora, você.
      ‎-Sendo assim... Farei o meu melhor para tornar São Paulo uma cidade acolhedora para você.
      ‎-Eu agradeço.
      ‎-E para Danda? Ela gosta daqui?
      ‎-Eu não perguntei. Mas ontem ela deixou claro que preferia estar no Rio.
      ‎-Imagino que seja difícil. Ela cresceu tanto, está linda. Parece demais com você.
      ‎-Todo mundo fala isso. Fico feliz.
      ‎-Ah, claro. E está tão inteligente também.
      ‎-Ela tem interesse nas ciências humanas, acredita? Ama assistir aquele canal de história-Ele riu.
      ‎-Que fofa. Uma CDF igual a mãe e o tio. Será que ela vai ser a terceira Werneck a pisar em Harvard?
      ‎-Fábio, ela é fã de história. Eu e Diego somos de exatas, mesmo que ele seja advogado. De onde ela herdou esse gosto?-Ele riu.
      ‎-Alguém precisava salvar essa família. Você e Diego são um porre.
      ‎-Ah, obrigada. Mas estou brincando. Fico feliz de ver que ela tem interesse nisso. Imagina se for para fora estudar também... Que sonho futurista, ela ainda vai fazer cinco anos.
      ‎-É, um pouco precipitado. Ela já sabe da inseminação artificial?
      ‎-Bom, ela sabe. De uma forma sem detalhes nenhum, mas sabe.
      ‎-O que você disse?
      ‎-Disse que eu queria muito, muito ter ela. Só que não tinha um marido. Então um médico disse pra mim que existe anjinhos que doam sementes para que mulheres como eu pudessem ter seus bebês. E foi assim que eu contei para ela.
      ‎-Você é tão fofa que quase me convenceu.
      ‎-Convenci ela. É o importante.
      ‎-Sem dúvidas. Acha que ela tem problemas em não ter pai?
      ‎-Espero mesmo que não. Por enquanto, acho que não está fazendo falta. Bom, ela tem figuras masculinas. Meu pai e meu irmão.
      ‎-Bem, a mãe que sabe, não? Você decide sobre ela... Eu lembro tanto de quando a Dandinha ainda era aquele bebê gordo fofo-Sorri.
      ‎-Você foi incrível me ajudando. Sua experiência com o João me ajudou tanto.
      ‎-Não. Você sempre soube ser uma mãe ótima. Eu só te dei um toque.
      ‎-Aham. Sei. Não foi um toque, foi um tapa.
      ‎Ele riu, mas minha cabeça estava em cinco anos atrás.

Amor & Poder Onde histórias criam vida. Descubra agora