Cinco

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    Após um fim de semana corrido e uma segunda feira longa, terça me deixou ansiosa. No período da noite, o primeiro evento da empresa que eu coordenaria.
    ‎Comecei minha manhã com uma reunião com os acionistas. Entrei na sala às 8h.
    ‎-Alguma reclamação ou dúvida?
    ‎-Eu tenho, sim.
    ‎-Pode falar. Senhor...?
    ‎-Rodrigo.
    ‎Com o nome, lembrei que era o homem que tinha uma filha estudando com Danda. Sorri de leve.
    ‎-Pois bem. Pode falar.
    ‎-Sem querer ser desrespeitoso, mas acredito que há uma falha nos seus planejamentos.
    ‎-Por que?
    ‎-Seus planos são fantasiosos, irreais. A nossa marca nunca vende demais no mês de Julho, você deveria ter lido nossos históricos. O Ralph sabe dos seus ideias?
    ‎-Claro. Meus planos fantasiosos tiveram seis meses de preparo, com uma equipe de advogados e só os coloco em prática pois tem aprovação do dono da grife. O senhor acha que os milhões investidos em desfiles e merchan são descartáveis?
    ‎-Não, claro que não. Mas o nosso ex-CEO era mais realista quanto a isso. Por isso houve dúvidas quanto à uma mulher assumir o cargo.
    ‎-Se o realismo dele fosse bom, senhor Rodrigo, eu não estaria onde estou. Porque não aceita que uma mulher foi a mais competente?
    ‎Nervoso, ele virou a cadeira de lado para mim. Suspirei, ajeitando meu blazer. Desde nosso primeiro encontro, senti que ele era problema.
    ‎-Acabamos por aqui hoje. Lembrando, claro, que todos estão convidados para o desfile e coquetel que ocorrerão aqui, no salão, às 19h.
    ‎Fui a primeira a sair da sala, bufando. Caminhei até a minha sala, onde uma pilha de papéis de pura burocracia me esperavam. Bebi minha primeira xicara de café forte do dia e sentei, encarando aqueles papéis.
    ‎Ao fim de um documento, minha secretária me ligou no interfone. Atendi.
    ‎-Pode falar, Clara.
    ‎-Senhora Talita, está ocupada?
    ‎-Muito. Porquê?
    ‎-Fábio Porchat está na recepção, disse que queria vê-la.
    ‎-Pode deixar subir, Clara.
    ‎-Ok. Vou pedir que suba.
    ‎-Isso, obrigada.
    ‎Desligamos. Organizei minha mesa e guardei os papéis que já tinha lido e assinado. Assim que sentei na minha mesa de novo, Fábio bateu na porta e colocou seu rosto dentro da sala.
    ‎-Oi, Tatá!
    ‎-Oi,Fábio. Entra logo.
    ‎-Tudo bem. Vim aqui te apresentar uma pessoa e pedir um favor.
    ‎-Iiih, se o favor for dinheiro...
    ‎-Idiota. Vem cá, Naty.
    ‎Fábio entrou na sala de mãos dadas com sua namorada. Fiquei de pé e dei o melhor sorriso que pude de nervoso.
    ‎-Nataly, essa é a Tatá. Tatá, essa é a mulher da minha vida.
    ‎Ele beijou o rosto dela, que riu. Mesmo com uma leve inveja de Nataly, sorri ao perceber como Fábio estava feliz.
    ‎-Prazer, Nataly. Fábio falou muito bem de você.
    ‎-Prazer é meu. Ele também disse muito sobre você.
    ‎-Espero que tenha falado bem.
    ‎-Claro!
    ‎Fábio sorriu, sentando em uma cadeira frente a minha mesa.
    ‎-Folgado.
    ‎-Sou nada.
    -Imagina. Senta também, Nataly. Vocês querem um vinho? Tenho espumante também.
    -‎Talita, quem bebe isso às 10h da manhã?
    -‎A pessoa que teve uma péssima reunião com acionistas e que vai ter um dia agitado ainda, eu mesma. E vocês? Passeando?
    -‎Viemos aqui fazer umas compras.
    -‎Sério? Posso ajudar vocês.
    -‎Esse favor que vim te pedir, ajuda. A loja é enorme.
    -‎E ele não teve paciência para me deixar ver tudo.
    -‎Fábio! Deixa ela. O que vocês querem?
    -‎Eu queria um vestido para usar no aniversário dele. Sabe, vou conhecer a família, quero estar bem.
    -‎Nataly, chegou uma linha nova incrível. Incrívelmente elegante. Vamos lá, vou amar te ajudar nisso. E óbvio que vai rolar um bom desconto que já que é a mulher do meu amigo...
    -‎Tá vendo, Naty? Falei que ela é um anjo-Ela riu.
    -‎E você, Fábio? Nada?
    -‎Não. Comprei um terno na loja da Armani. Não vai me matar por isso, não é?
    ‎-Claro que vou! Os ternos da Ralph Lauren são lindos. O dia que vocês casarem, se você não usar um terno meu, nem conta com minha presença lá.
    ‎-Calma, Tatá. É o que os ternos deles são mais simples, sabe? Os seus são bem mais bonitos, não combina.
    ‎-Ah, ainda bem. Mas estou feliz de vestir a Naty. Vamos lá?
    ‎-Claro.
    ‎-Enquanto as mocinhas decidem isso, eu vou comer, ok?
    ‎-A gente acabou de tomar café, Fábio.
    ‎-Não vejo problema.
    ‎Após dar um selinho nela, contornou a mesa e beijou meu rosto.
    ‎-Mais uma coisa... Hoje de noite vai acontecer aqui um coquetel e desfile. Vai ser um evento muito importante para mim. Se vocês quiserem vir, serão muito bem vindos.
    ‎-Ah, claro. Naty, podemos vir, né?
    ‎-Óbvio, Fábio. De noite voltamos, então.
    ‎-Que bom! Agora vem comigo, Nataly. Vou te levar no andar que nem todos os clientes têm acesso.
    ‎-Eu só aceito porque o Fábio que está pagando.
    ‎-Ah, é ele? Eu ia oferecer um desconto meu, mas se é ele, vai no preço original.
    ‎Nataly riu, levantando de sua cadeira. Peguei sua mão e sorri para Fábio, que me olhou de cara feia. O interrompi antes que falasse algo.
    ‎-Estou brincando. Quero que vocês se sintam bem aqui. Fabinho, vou mandar minha secretária te acompanhar até o restaurante daqui porque quero que seja bem recebido.
    ‎-Eu te amo, sabia?
    ‎-Pela comida, né...
    ‎Ele riu e saímos do quarto. Chamei Clara, minha assistente, e seguimos juntos para o elevador.

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