Quatorze

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    Tiago e Danda não estavam acordando, nem dando sinal de que acordariam. Já se passava de 8h e ninguém nem tinha passado no corredor ainda. A festa terminara tarde.
    ‎Ficar sozinha por tanto tempo me deixou com tempo para pensar em tudo. Tentei apagar a mensagem, mas já era. Meu Whatsapp não queria nem tentar apagar. Já era 9h quando recebi uma resposta.
    ‎"Oi, Tatá. Estou aqui. Tudo bem?"
    ‎Li e reli a mensagem mil vezes. Não sabia o que falar. No fim, escrevi um:
    ‎"Tudo
     Sonhei com você hoje. Acho que estou sentindo sua falta :)"
    ‎"Também sonhei com você e Dandinha esses dias, baixinha. Vocês duas fazem muita falta
    ‎Não tem um dia que eu não pense o que você falou para mim
    ‎Me perdoa ter te deixado daquele jeito naquela sala?"
    ‎"Tudo bem, Fabinho. Perdoo
    ‎Eu estou feliz. Conheci um homem legal
    ‎Acho que vamos ter algo sério"
    ‎"Ah, é? Que bom, Tatá. Quero conhecer ele"
    ‎"Podemos marcar um jantar..."
    ‎"Claro. O dia que vocês quiserem. Acho que eu e Naty temos essas noites todas da semana livres
    ‎Ah, não. Eu tenho uma noturna logo  amanhã"
    ‎"Beleza. Que tal depois de amanhã?"
    ‎"Claro. Só escolhermos o restaurante então"
    ‎"Escolhe você e me passa o endereço certinho depois. Acho que a Dandara vai acordar agora"
    ‎"Pode deixar. Vou escolher um que tenha vegano para vocês duas"
    ‎"O b r i g a d a"
    ‎"Hahaha"
    ‎Ao bloquear a tela, um sorriso bobo não saia do meu rosto.
    ‎A maior burrice do mundo é tentar se enganar. Poderia enganar Danda, Bruna e até mesmo minha mãe, mas nunca que poderia me convencer de uma mentira sobre o que sinto. Então, impossível me convencer de que Fábio não faz falta. ‎E ele faz. Muita.
    ‎Virei para a cama de Danda, a observando. Ela realmente estava resmungando e abriu os olhos pouco depois.
    ‎-Bom dia, amor da mamãe.
    ‎-Bom dia.
    ‎Fui até a cama e me inclinei para beijar o rosto dela, mas mal encostei na cama, Danda se encolheu um pouco.
    ‎-Quê foi?
    ‎-Tá doendo aqui.
    ‎-Posso ver, amor?
    ‎Ela virou para cima e me mostrou a área exata. Desde sempre, Danda sente dor ali por causa daquele infeliz problema com sua perna menor. Porém, essa dor já estava controlada há um tempo.
    ‎-Tem bastante tempo que você não vai na médica também... Vamos ir ver ela essa semana, te prometo.
    ‎Minha pequena só assentiu. A força dela é a minha inspiração maior.
    ‎-Está doendo muito, amor? Ou é leve?
    ‎Os olhinhos cheios dela me responderam. Levantei, fui na minha mala e achei uma necessaire de emergência. Dilui a quantidade do remédio em uma quantidade de água e levei para ela, que bebeu sem reclamar. Depois que dei água pura também, sentei na cama e a peguei no colo com toda a delicadeza.
    ‎-Quer tentar voltar a dormir?
    ‎-Não.
    ‎Ela só subiu no meu colo, enfiando o rosto em meu peito. Acariciei seu cabelo, a ninando. Acho que só Deus entende o aperto que me deu.
    ‎-Mãe.
    ‎-Oi, meu amor.
    ‎-Porque o Tiago dormiu aqui? A cama dele quebrou?-Sorri.
    ‎-Não, amor. Ele dormiu aqui por que gosta de mim.
    ‎-Eu gosto da dinda e do tio Ney e não estou lá com eles.
    ‎-É um gostar diferente, Danda.
    ‎-Vocês namoram?
    ‎-Eu não sei. Você gostaria que a gente namorasse?
    ‎-Não.
    ‎-Você é exigente, mocinha.
    ‎-Mentira.
    ‎Danda se acomodou mais em mim e deitou em meu ombro, pegando uma mão minha.
    ‎-Eu quero ir pra casa.
    ‎-E vamos, Danda. Hoje de tarde.
    ‎-Porque não agora?
    ‎-Eu prometi que ia ficar para almoçar com sua dinda. Depois vamos direto para casa. Ainda está sentindo dor?
    ‎-Uhum.
    ‎-Me fala se piorar, tudo bem? Se não melhorar, vamos embora antes.
    ‎-Tá. Posso ver desenho?
    ‎-Pode.
    ‎Liguei a televisão para ela e ficamos assistindo um desenho de princesas juntas. Nem reparei quando Tiago acordou e ficou nos olhando.
    ‎-Bom dia, meninas.
    ‎-Bom dia, Titi.
    Tiago me mandou um beijo no ar e como resposta para seu bom dia, Danda apenas sorriu e voltou a se aninhar em mim.
    ‎-Tudo bem?
    ‎-Ela está sentindo dor.
    ‎-Ah, que coisa chata. Quer levar ela no hospital, Tatá? Eu dirijo.
    ‎-Não, valeu. Já dei um remédio que ela se acostumou, isso já vai passar.
    ‎-Certeza?
    ‎-Bom, temos que ir acompanhando.
    ‎-Claro.
    ‎Ele foi para o banheiro e continuei dando toda atenção para minha pequena. Tiago saiu do outro cômodo já com outra roupa e abriu a varanda.
    ‎-Vai embora agora, Tatá?
    ‎-Vou almoçar com eles ainda. Você já vai?
    ‎-Pior que sim. Eu tenho que estar no Rio hoje de noite. Tenho show no Barra Music.
    ‎-Ah,sim. Tem show terça de noite?
    ‎-Estou livre. Porque?
    ‎-Marquei de jantar com um amigo. Ele vai levar a namorada, se quiser vir... Será bem-vindo.
    ‎-Claro. Só me passar tudo certinho que eu vou.
    ‎-Ok.
    ‎-Que amigo, mãe?
    ‎-Fábio, pequena.
    ‎-Sério?! Você falou com ele?
    ‎-Falei.
    ‎Dandara sorriu, de forma mais verdadeira do que aquele direcionado para Tiago. Inclusive, ele me olhou meio estranho ao ver isso.
    ‎-Enfim. Vou lá no meu quarto arrumar tudo, depois venho aqui me despedir de vocês.
    ‎-Claro. Vai lá.
    ‎Demos um selinho e ele saiu do quarto. Danda resmungou, virando para ver seu desenho.
    ‎-Tudo bem, filha?
    ‎-Uhum.
    ‎-A dor está melhorando?
    ‎-Não.
    ‎-Você tem que tentar relaxar. O remédio vai fazer efeito mais rápido.
    ‎-Mamãe, dói muito. E o Tiago... ele é chato.
    ‎-Dandara...
    ‎-Desculpa.
    ‎-Isso nem tem nada a ver com nosso assunto.
    ‎-Ele é assim e eu não relaxo.
    ‎-Você não pode ficar falando assim.
    ‎Ela ficou quieta e voltou a se encolher no colo. A deitei na cama e fui arrumar nossas malas.
    ‎-Mamãe.
    ‎-Sim, Dandara?
    ‎-Você está triste comigo?
    ‎-Não.
    ‎-Mas você me chamou de Dandara.
    ‎-É seu nome.
    ‎-Você sempre me chama de Danda. Ou princesa. Ou várias outras coisas. Dandara é só quando você está brava.
    ‎Apenas a olhei de lado e fui pegar nossas roupas nos armários. Minha filha me acompanhou com o olhar.
    ‎-Mamãe?
    ‎-Danda, você vai continuar me magoando enquanto tiver essa mania de se meter. Eu gosto do Tiago e ponto. E isso independe da sua aprovação.
    ‎Ela sempre teve opinião forte. Falar isso para ela era pedir que mudasse todo seu jeitinho. Danda apenas suspirou.
    ‎-Me dá a Juju?
    ‎Peguei o gatinho de pelúcia na mala e lhe entreguei. Em compensação, ela apenas agarrou o gato e virou para ver seu desenho. Continuamos em silêncio até ouvir batidas na porta. Nem precisei pedir para entrar, logo Bruna já estava me abraçando,quase subindo em meu colo. Ri enquanto ela beijava meu rosto.
    ‎-Feliz?
    ‎-Demais! Me sinto totalmente realizada. Obrigada por ter me ajudado, sério. Não vou esquecer isso nunca. 
    ‎-Imagina, Bru. Não foi nada.
    ‎-Aham, sei. E minha daminha linda? Vai dormir até amanhã?
    ‎-Estou acordada, dinda.
    ‎-Que sono, hein.
    ‎-Minha perna tá doendo.
    ‎-Ah, sério, amor? Deve ter forçado muito nesses últimos dias...
    ‎-Provável.
    ‎-Dinda, você vai descer agora?
    ‎-Vou, pequena. Porque?
    ‎-O Davi vai também?
    ‎-Sim. E acho que a Lulu já deve ter descido.
    ‎-Posso descer com você?
    ‎-Claro. Vai trocar de roupa ou vai de pijama do Super Homem?
    ‎-É da Super Girl, dinda. E vou trocar.
    -Ah, desculpa, Kara Danvers.
    -Agora, sim. Tá aprendendo o nome dela.
    ‎Bruna riu e ajudou Danda a se vestir. Assim que minha pequena estava pronta, subiu no colo de sua madrinha.
    ‎-Tatá, vai descer logo?
    ‎-Já, já. Tenho que terminar aqui. Mas não demoro.
    ‎-Okay. Te espero lá perto da piscina. E pode deixar que vou cuidar do seu diamantezinho com todo cuidado do mundo.
    ‎-Obrigada, Bruninha.
    ‎Ela sorriu e desceu, grudada em Danda. Suspirei e continuei arrumando as malas. A minha eu consegui acabar primeiro. Depois, coloquei algumas coisas da minha bolsa na mala, de forma que na bolsa ficassem só documentos, remédios da Danda, o número do médico e meu celular, tudo mais fácil de achar.
    ‎Reuni tudo que fosse de Danda, olhando por baixo das camas já que ela é hiperativa e nisso várias coisas somem. Estava dobrando algumas blusas dela quando Tiago bateu na porta.
    ‎-Já estou indo, Tatá.
    ‎-Já? Não pode mesmo ficar mais um pouco?
    ‎-Tenho que ir. É trabalho.
    ‎-Tudo bem.
    ‎Ele se aproximou e aproveitamos que Danda estava longe para um beijo mais longo.
    ‎-Vai ir comigo naquele janta terça?
    ‎-Claro. Se não, fico com saudades.
    ‎Sorri e ele me deu um selinho.
    ‎-Cadê a Danda?
    ‎-Com a Bru lá em baixo.
    ‎-Vou falar com ela lá, então. Vem?
    ‎-Não, vou descer mais tarde. Estou terminando de arrumar a mala.
    ‎-Ah, sim. Bom, vou encher seu saco no whatsapp essa semana. Ainda vamos marcar de sair só nós dois essa semana. Tem com quem deixar a Danda?
    ‎-Boa pergunta. Minha família está toda no Rio. Quando você falar comigo um dia, eu vejo isso certinho.
    ‎-Ok, então. Vamos conversando.
    ‎-Claro.
    ‎-E eu não estou com vontade de ir embora-Ri.
    ‎-Fica, Tiago. Só mais um pouco. Seu show é só de noite.
    ‎-Eu queria muito ficar. Mas...
    ‎-Tudo bem. Quando você volta para São Paulo?
    ‎-Amanhã cedinho.
    ‎-Se de tarde você quiser passar lá no meu trabalho, eu não ligo, ok?
    ‎-Prédio da Ralph, certo?
    ‎-É na Paulista. Não tem como você errar. Mas joga na internet e pega o número do prédio.
    ‎-Pode deixar. Qualquer coisa te mando uma mensagem amanhã.
    ‎Nos despedimos com um beijo longo, com carinho. Tiago só foi depois que me deu mais um selinho.
    ‎Pouco depois que ele saiu, fui para a varanda. Acenei de longe para ele, que me mandou um beijo e um sorriso. Sorri também e voltei a arrumar as malas.
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