CRISTAL RELUZENTE

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Enquanto a história de Alecrim era narrada, os reinos da Província Vermelha e do Vale dos Anjos já estavam a caminho da cidade das flores.

Era um belo anoitecer na terra da princesa Marjorie. A lua parecia brilhar mais que o normal. Alecrim estava enfeitada e cheia de luzes, pois Romero quis deixar tudo parecido com as ruas da Cidade Luz; era realmente encantador o que acontecia no reino de Alecrim.

Apenas um relance e a águia que Marjorie olhava e admirava, voou, assuntando-a novamente. Ela havia ido ao encontro dos portais da cidade. Eis que lá uma caravana se aproximava, deixando todos atentos para o encontro de duas belíssimas culturas.

Enquanto as servas e sua mãe não a viam, Marjorie arrancava alguns adereços de seu corpo. Ela queria a todo custo não parecer o andor enfeitado da deusa águia. Seu pai, Romero, assombrou a todos ao entrar nos aposentos da princesa:

─ Marjorie, minha filha. Meu sublime presente da deusa Lybia. Estás divinamente encantadora. – Disse ele, beijando sua testa e abraçando-a.

A princesa sorriu, disfarçando sua insatisfação com suas obrigações. Enquanto isso, todos os empregados cuidavam dos últimos preparativos da festa no castelo de Alecrim. Romero olhou cada detalhe de suas roupas e de repente ouviu barulhos que vinham do lado de fora. O rei se aproximou da sacada do quarto da princesa e rapidamente reconheceu aqueles sons.

Eles batiam fortemente os tambores e cobriram a estrada de vermelho. Os moradores de Alecrim se aproximaram para verem a nobreza e os servos do rei Enoch passarem. O exército vermelho marchava e principalmente os ricos os saudavam com alegria. Em contrapartida, os pobres estranhavam tamanho luxo; muitos sequer conseguiam se aproximar da comitiva.

Por mais que Romero quisesse esconder, Alecrim era uma cidade completamente desigual. A entrada da cidade era cercada de casas humildes e ao fundo algumas tendas davam um tom miserável ao reino. Em sua chegada, Melissa não desperdiçou comentários nocivos ao reino.

─ É essa a cidade de Alecrim? Que repulsa! Parece as ruínas da guerra entre o deus Niro e Haya.

Após um pouco mais daquele cortejo, as casas simples davam lugar à ala rica da cidade. O príncipe Frederic olhava em direção a tudo o que via em Alecrim. Ele se encantou com as grandes edificações e questionou a um dos servos o porquê de algumas pessoas estarem ricamente vestidas e outras tão maltrapilhas em uma ocasião tão especial como aquela.

As carruagens foram parando na entrada do castelo. Toda a comitiva do rei Enoch estava pronta para entrar no palácio de Alecrim. O rei Romero e toda a realeza estava os esperando. Era uma recepção digna de uma família real.

Romero, sorridente e politicamente correto, saudava os nobres e esperava ansiosamente que todos descessem de suas carruagens para apresentar sua rica família. Por um momento notou que Marjorie não estava a seu lado e logo questionou à esposa:

─ Safira, onde está nossa filha?

A rainha tremia as mãos. Disse diversas vezes para que a filha não se atrasasse, mas suas palavras foram em vão.

─ Meu querido e amado rei. Creio que está a descer juntamente com as suas damas.

Marjorie apressou os passos rumo a sua família e prontamente chegou onde eles estavam. Tão discretamente se aproximou de seus pais, que quando Romero virou-se para seu lado, a princesa ali já estava.

Enoch literalmente foi o primeiro a chegar. Ele vinha montado em seu cavalo com uma belíssima coroa feita em um formato de algas marinhas entrelaçadas. Sua estrutura era composta de ouro e berilo (esmeralda escarlate), o cristal mais raro da região do Alto Continente.

Os reis se cumprimentaram e cumpriram os protocolos políticos. Logo aproveitaram para apresentarem suas famílias.

A rainha Melissa desceu coberta de joias e esbanjando seus vestidos de linho puro. Ela só não imaginava que Safira de Alecrim também era muito vaidosa e se cobria das mais caras e diversas joias do reino.

Safira curvou um pouco a cabeça em forma de respeito à realeza da Província Vermelha. Melissa a ignorou completamente e expressou palavras desnecessárias para a ocasião.

─ A noite é realmente traiçoeira. Algumas joias e vestidos brilham demasiadamente, outras não. Gostaríamos de ter chegado a Alecrim no entardecer, mas o caminho falho e os pedregulhos impediram que pudéssemos enxergar claramente o tão falado "brilho da cidade".

Safira não se deixou por baixo de Melissa e rebateu.

─ Ainda bem que fazemos sacrifícios de louvor à deusa Lybia. Ela é a deusa da prosperidade e da boa visão. As águias enxergam o horizonte mais longínquo, que dirá o brilho de um vestido ou uma joia.

Melissa se corroeu por dentro. Ela tentou responder, mas Enoch a interrompeu, pedindo para que Romero apresentasse a linda filha que tinha:

─ Sua donzela tem uma beleza que cruza os doze reinos. Todos falam que a princesa de Alecrim faz inveja até à própria deusa Lybia.

Romero então respondeu:

─ Tenho orgulho da família que os deuses me deram. Faço votos até mesmo a Haya, mas não permito que toquem em alguém tão especial como a minha filha. Venha Marjorie, aproxime-se e reverencie a realeza.

A moça saiu um pouca das costas do rei e reverenciou a todos. Naquele momento, alguém faltou ser apresentado. Enoch rapidamente tomou e palavra e disse:

─ Apresento a Alecrim, o herdeiro do trono dos mares da Província Vermelha. Este é Frederic, o príncipe e futuro rei.

Em um breve instante, o jovem de cabelos pretos e olhos amarelados como fogo não enxergou mais nada além da linda moça que estava à sua frente.

Seus corações se alegraram com o que viram. Foi paixão, ou como dizem; um amor à primeira vista. Um verdadeiro encanto, como a luz do sol que invade um cristal e o deixa reluzente. Parecia que não havia mais nada e nem ninguém além dos dois.

O rei Romero, interrompendo aquele momento, pediu para que acompanhassem a família real da Província Vermelha até os aposentos que foram preparados especialmente para eles.

Eles entraram no palácio e Frederic, não disfarçando sua admiração, passou por Marjorie encarando-a, que timidamente baixou a cabeça.

A rainha Melissa, incomodada, apertou o braço de Frederic. Ela havia percebido o tórrido encanto do rapaz.

Após aquele breve momento de apresentações, o jovem e sua família precisavam descasar um pouco da viagem, pois a meia-noite seria aberta a Festa das águias e da deusa Lybia. Uma cerimônia religiosa de sete dias que os jovens príncipes iriam facilmente burlar em nome do amor.  

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