ENCONTROS E DEVANEIOS DA REALEZA

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A Província Vermelha foi apenas o último e mais glorioso reino a chegar em Alecrim. Antes deles, haviam chegado respectivamente os reinos de Satres; a Terra Nobre; Felícia; Ilha de Fogo; Arco da Fênix; Moary; Aleiko; Violeta e Opala. Juntando com Alecrim, Província Vermelha e Vale dos Anjos, formavam os doze reinos do Alto Continente.

Ninguém seria capaz de descrever a beleza e a grandeza daquela festa. No grande salão, as rainhas, fúteis, comentavam cada detalhe de seus vestidos. Os reis traçavam metas territoriais em cada conversa, enquanto suas barrigas se enchiam de comida e vinho. O pátio central estava cheio de nobres, que brindavam entre si e serviam seus reis. Quanto aos príncipes, esses comentaremos mais adiante.

Perante tanta riqueza, o rei de Alecrim admirava a exuberância dos reinos com suas distintas culturas e seus senhores disseminando a arte do linguajar culto e das gloriosas vestes e adornos de pedras preciosas. Romero não parava de olhar para a coroa de Enoch. Se surpreendeu com a grande quantidade de esmeralda escarlate, pois na época que seu pai construiu o Palácio de Cristal, não havia encontrado a tal esmeralda para que pudesse adorna-lo.

No alto do salão, se encontrava suspensa uma grandiosa escultura da deusa Lybia. A principal característica daquela divindade era a prosperidade. Assim, a promessa de uma vida afortunada em todos os sentidos era apregoada pelos religiosos das antigas gerações. Lybia tinha um corpo e rosto feminino, mas asas e um olhar semelhante ao de uma águia. Suas mãos eram como garras daquela adorada ave.

Apesar de toda a riqueza e promessas de prosperidade, Alecrim e alguns outros reinos viviam afundados em dívidas. Há muito tempo atrás, um conselho religioso juntou-se com os reis de todo o Alto Continente e fizeram um acordo que colocaria em xeque a vida de muitos inocentes. O problema daquela situação revoltava alguns dos povos e principalmente a classe pobre de todos os reinos, que sofria com um injusto tributo.

A lei dizia que: todos os nascidos do ano, sejam ricos ou pobres, com exceção da nobreza, deveriam doar a terça parte de seus lucros para o reino detentor da divindade daquele ano. Assim, o ano 97 pertencia à Alecrim, cujo deus era a águia Lybia. Então, os impostos deveriam ser arrecadados para o rei Romero.

Considerando ser um tributo digno de uma grande corrupção, era infeliz aquela casa cujos filhos nascessem, pois, um nascimento traria uma grande despesa a todos de uma só linhagem. A família só era liberada do imposto se tivesse dois filhos em um ano, o que era praticamente impossível de acontecer.

Essa lei era válida a todos os reinos por motivos religiosos e políticos. O próximo a celebrar seria a corrupta Província Vermelha, do deus leviatã Niro. Desta forma, todos prestariam contas com os escarlates. No reinado do antigo Romero I, esta foi uma das proezas que o rei havia conseguido retirar, contudo, após a sua morte, o conselho religioso dos reinos tratou de trazer novamente o decreto. O velho rei via como uma fácil estratégia de enriquecer os nobres e empobrecer os mais frágeis.

As regras das festividades iam além das orações. Tratava-se de um momento na qual a libertinagem era aceita e deveria ser vivida naqueles dias. As pessoas poderiam comer, beber, participar de orgias, entre outros prazeres, no entanto, no sétimo dia todos deveriam prestar culto à deusa da prosperidade, levando suas oferendas e apresentando sacrifícios. A única coisa que Alecrim não permitia era o sacrifício de pessoas ou de animais, coisa comum na Terra Nobre, Vale dos Anjos e na Província Vermelha; a última, por sinal, sacrificava até mesmo crianças.

Naquela festa, na sagrada e profana festa, os olhares eram atentos aos diálogos de alguns nobres, a começar pelos reis.

Os estados eram doze, mas Novak, o rei de Satres, o quarto na hierarquia dos reinos estranhou a presença de apenas onze bandeiras erguidas. Sentindo que algo fora do normal estava acontecendo, virou-se para Romero e perguntou:

─ Vejo que a festa da deusa Lybia e da majestade Romero II está grandiosa, mas sinto falta de um de nós. Onde está Cassius, o imperador da cidade morta?

Romero passou alguns segundos, onde a ríspida saliva corria por sua garganta para responder:

Cassius praticamente não faz mais parte dos impérios do continente. Seus escrúpulos e sua arrogância ultrapassaram os limites das políticas imperiais.

O rei de Satres engoliu a resposta ainda abismado, pois Romero tomou essa decisão sem consultar os conselheiros e os outros reis. Alguma coisa estava atrapalhando as relações entre os dois e certamente Novak percebeu que não tinha nada a ver com o "bom" coração de Romero.

Entre conversas e mais conversas, a rainha Melissa da Província Vermelha exaltava as pérolas e os tecidos finos de seus vestidos, enquanto Safira de Alecrim se entorpecia de tanto falatório e tanta bajulação por parte das outras rainhas e damas que participavam da conversa com Melissa.

O luxo de Alecrim e dos demais impérios era de encher os olhos. Nem parecia que a cidade da deusa Lybia estava praticamente falida. Contudo, naquela festa, ninguém queria saber de pobreza.

E os príncipes? Ah os príncipes passaram a gostar daquela festa. Frederic aproveitou a multidão para ter um pouco mais de liberdade para encontrar a donzela que com seu doce olhar atraiu seu coração. Depois de tanta procura, ele encontrou, ainda distante, mas encontrou.

A princesa Marjorie o viu, e a partir de então não pararam de se olhar. A flecha do deus unicórnio da terra de Rainbow pareceu atingir os corações de Marjorie e Frederic. O doce sabor do amor foi tomando o espaço daquele local, repleto de riqueza e arrogância.

Enquanto todos se divertiam, os olhos da princesa se enchiam de alegria ao ver que o príncipe se encantava com sua imensa beleza. Naquele momento, eles foram interrompidos pelo arauto do rei. Era a hora de um pronunciamento que contribuiu no primeiro encontro das duas altezas.

A vida é cheia de surpresas e Alecrim, naqueles dias viveria um celeiro de mudanças. A partir da festa da deusa Lybia, nada seria igual. Era o pontapé inicial para o começo de uma grande história, que prometia surpreender até o mais cético morador do Alto Continente.

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