LIGAÇÃO DE ALMAS

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A noite da terceira festa da deusa Lybia seguia o mesmo ritmo das demais. Havia muitas bebidas, muitas comidas, discursos políticos e religiosos, mas principalmente muitas mentiras.

A rainha Safira de Alecrim observava os nobres e não conseguia mais sustentar o desprazer daquela noite. Enfadada, ela foi até a varanda para respirar um pouco do ar que tinha dificuldades de entrar no castelo. A majestade ansiava pela atmosfera do lado de fora.

Difícil mesmo era encontrar uma senhora tão bela quanto a rainha de Alecrim. Os seus olhos eram azuis, iguais ao da pedra preciosa que lhe deu nome. Seu cabelo seguia os tons dourados, similares aos cabelos de Marjorie. Era uma mulher demasiadamente bela, que juntamente com o rei, formava um casal majestosíssimo. O rei de Alecrim tinha os olhos verdes, cabelo semelhante à madeira do carvalho na luz do sol e a barba cerrada da mesma cor. Certamente, Marjorie havia tomado para si o melhor da beleza de seus pais.

O problema da rainha tinha nome. Ela via a cada dia o império se desfalecer. Romero só tinha vaidade e ganância. Os cabelos brancos viriam mais cedo ou mais tarde, de tantas preocupações. Os dois possuem a mesma idade, quarenta e cinco anos. Assumiram o trono bem jovens, e tiveram pouco tempo para aproveitar a vida como deveriam.

Após um longo tempo olhando para a lua, Safira decidiu que era tempo de voltar para a festa. Sem perceber, terminou por esbarrar em uma dama.

Era uma moça muito linda e bem vestida, que, por sua vez, baixou a cabeça quando viu que esbarrou na rainha de Alecrim, clamando por desculpas:

─ Perdão, minha senhora. Não tive a intenção de...

─ Calma! Não precisa se desculpar. Eu que sou desastrada e não olho por onde ando. – Respondeu Safira.

A dama, arregalou os olhos e, de cabeça baixa se admirou da atitude da rainha. Safira, observando-a, levantou o queixo da moça, a encarou e por alguns minutos ficou a analisar as origens da jovem.

Ela então falou:

─ As cores em ouro e vermelho destacada nas vestes declaram que tu és da Província Vermelha, mas nunca vi negros na terra dos mares escarlates. Você parece ser de Satres, ou da Ilha de Fogo.

A moça ficou sem ação, mas com motivos.

Ora, Frederic tinha um azar maior que a sua ambição. A jovem era nada menos que Nancy, que apreciava a festa até tremer do alto da cabeça até o dedinho do pé ao ver e esbarra com a majestade de Alecrim, frente a frente.

─ O que houve? A águia guinchou em sua boca? – Perguntou a rainha.

─ Não, senhora. Perdão mais uma vez. Só estou envergonhada, por estar perante alguém tão importante.

A rainha sorriu e respondeu:

─ Não fique com medo. Eu não sou igual a bruxa da tua senhora. Pode até não parecer, mas tenho um bom coração.

Nancy ficou extasiada com a educação e humildade da rainha de Alecrim. Nenhuma das outras senhoras haviam tratado ela como "gente".

Safira pegou duas taças do vinho mais caro da Terra Nobre, reino do deus Roman, detentores da bandeira de cor grená e branca e mestres do cultivo de videiras.

Ela ofereceu a taça para Nancy, que logo recusou:

─ Senhora. Embora eu seja da nobreza, não sou digna de beber do vinho mais caro dado que foi pelo deus Roman à deusa Lybia.

Safira colocou a taça na mão de Nancy e ordenou:

─ Tome-o. Cesse de tantas cerimônias. Estou indo para os meus aposentos, mas você ainda pode desfrutar de sua juventude e da riqueza que está sendo distribuída aqui neste baile. Espero que ouça meu conselho e se compraza com esta noite.

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