Capítulo

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Ela acordou com sua mãe balançando seu braço.

Marin grunhiu enquanto abria os olhos lentamente, se acostumando com o brilho do sol que entrava pela janela. A luz parecia muito forte aos seu olhos.

Quando ela se acostumou com a claridade ela olhou para cima, apenas para ver sua mãe com uma cara irritada.

-... bom dia - Marin tentou.

- Você dormiu de mais! Eu avisei que seu tio viria aqui hoje, ele já está aqui.

A garota soltou um gemido e enterrou a cabeça no travesseiro. Ela sabia que não era por causa do tio que sua mãe queria que ela saísse da cama. Seu primo.

A criança não tinha mais que 5 anos, mas parecia ter vindo direto do inferno. Marin nunca conhecera criança mais irritante antes. E sempre sobrava para ela cuidar do pequeno quando ele visitava.

Do lado de fora do quarto ela conseguiu ouvir a voz fina de seu primo :

- Ela já acordou, tia?

- Sim, sim, já está acordando.

Marin olhou para o garoto desejando que fosse embora logo, mas sabia que não teria sorte. Ela sabia como o tio gostava de conversar. Algumas vezes ele e sua mãe conversavam até a madrugada em sua visita.

Estremeceu pensando na possibilidade.

- Eu só vou descer comer alguma coisa, já volto - Marin disse para a mãe.

Ela não sabia que horas eram, mas sabia que era muito tarde para tomar café da manhã. Mesmo assim, ela faria qualquer coisa para evitar a criança o máximo possível.

Desceu as escadas e cumprimentou seu tio quando passou pela sala, se dirigindo para a cozinha.

Se sentou na mesa e, para não desperdiçar uma boa desculpa, pegou um pão e começou a comer, mastigando o mais lentamente possível.

Da cozinha, ela conseguia ouvir sua mãe conversando com seu tio. Imaginou que seu primo estava sentado ao lado do homem mais velho, esperando para poder brincar com a garota.

Quando acabou seu pão ponderou em pegar outro. Não tinha demorado tanto quanto esperava mastigando o primeiro. Porém achou que não aguentaria comer mais um.

Penosamente se levantou. Pensou que talvez pudesse ficar mais tempo na cozinha, mas supôs que não valeria a pena.

Quando saiu da cozinha já esperava pelos gritos da criança chamando-a, mas nada veio.

Olhou para o sofá onde sua mãe e seu tio conversavam e percebeu que só os dois estavam lá. Nenhum sinal de seu primo.

- Mãe, cadê o primo? - Marin perguntou curiosa.

- Ah, ele está te esperando no seu quarto.

Marin gelou. "Por que você deixou ele ficar no meu quarto?" queria gritar para sua mãe mas não conseguia.

Então a indignação deu lugar à raiva. Já conseguia visualizar o garoto mexendo em suas coisas, jogando tudo no chão, fazendo uma bagunça. E nada tirava mais Marin do sério que alguém mexendo em suas coisas.

Subiu as escadas apressadas, com a irritação borbulhando em seu peito. Chegou ao andar de cima e abriu a porta de seu quarto com força. Quase chorou de raiva quando viu o interior.

Os livros de sua estante, que ela demorara horas para organizar no dia anterior. Estavam todos espalhados de qualquer jeito no chão. Ela rezou para que ainda estivessem inteiros. Sua cama estava toda revirada, como se alguém tivesse pulado nela, algo que ela não duvidava que tivesse acontecido. Mas nada estava tão ruim quanto as paredes.

A garota nunca imaginaria que manchas de sapato pudessem ser tão horríveis. Todas as paredes estavam cheias delas, todas escuras demais para seu gosto.

E, no meio daquele caos, estava seu primo com um tênis na mão.

- O que você fez ?! - Marin gritou, soltando toda a sua raiva no garoto.

Antes que ele pudesse responder ela adentrou o quarto e arrancou com força o tênis da mão do garoto.

- Ai - ele falou manhoso - É que tinham formigas.

Marin sentiu vontade de bater naquela pequena carinha com o tênis que agora estava em sua mão.

Não tinha palavras para aquele momento, mas gritou mais uma vez de raiva e empurrou a criança para o lado.

- Mas você tá brava? - o garoto perguntou com sua voz fina e irritante.

Marin ignorou a criança, se ajoelhando para organizar os livros novamente. Ficou aliviada em saber que pelo menos seus livros estavam em perfeito estado, apenas espalhados no chão. Sem páginas faltando ou capas rasgadas.

Enquanto os organizava, o menino continuava gritando atrás, querendo chamar sua atenção. Marin fazia seu melhor para ignorar.

Quando estava quase na metade do trabalho o outro par de tênis passou voando por cima de sua cabeça e bateu ruidosamente na parede.

A garota olhou para trás com pura fúria nos olhos.

- Tinha uma formiga ali - a criança falou com voz fraca e, por um momento, Marin realmente cogitou a ideia de empurra-lo pela janela que estava logo atrás dele.

Antes que pudesse processar os próximos acontecimentos, um borrão tomou conta de sua visão. Quando tudo voltou ao normal tudo que pôde ver foram os pés da criança caindo para fora, junto com o cortante grito agudo da mesma.

Marin tentou ignorar o fato de que parecia muito mais próxima da janela naquele momento e desceu para buscar ajuda.

Quando chegou na sala percebeu que estava vazia. Provavelmente os dois adultos já estavam lá fora ajudando o garoto.

E estava certa. No lado de fora estavam os dois acalmando a criança que chorava no colo do pai.

Quando ela se aproximou conseguiu ouvir ele berrando:

- Foi a Marin! Foi ela! Ela me jogou da janela.

Sua mãe e seu tio lhe lançaram olhares severos. Tudo que ela pôde em dizer foi:

- Não fui eu, ele caiu!

Não era totalmente mentira, realmente não tinha sido ela. Não podia ter sido.

O olhar de seu tio se suavizou um pouco, mas, mesmo conhecendo suficiente seu filho para saber que era a explicação mais provável, ele não parecia estar acreditando. O olhar de sua mãe, ao contrário, ficou ainda mais cortante.

- Marin... - ela começou mas foi interrompida por choro de criança.

- Acho melhor levar ele para o hospital - disse seu pai com urgência e, sem mais nenhuma palavra, ele colocou o garoto no carro e dirigiu para longe.

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