Só quando estava dolorosamente próxima da poltrona de sua tia foi que percebeu o que estava errado.
Ela não estava respirando.
A garota deveria ter se afastado imediatamente e chamado a polícia, mas algo a chamava para mais perto. Algo naquilo lhe despertava curiosidade.
Quando chegou ainda mais perto, ela viu o sangue. Sangue vindo de um profundo corte na garganta da mulher mais velha. Marin sentiu um nó formando em sua garganta e teve que fazer um grande esforço para não vomitar vendo todo aquele sangue.
Desviou o olhar rapidamente, não queria aquela cena gravada em sua mente.
Seu coração batia muito rápido e sua respiração estava descontrolada. Se esforçava para pensar em tudo aquilo como um sonho ruim. Apenas um pesadelo que acabaria logo. Quase conseguiu se convencer de que acordaria em seu antigo apartamento com a luz do sol na sua cara e o cheiro de panquecas que sua mãe costumava fazer.
Mas então cometeu o erro de olhar para a imagem de sua tia morta novamente e toda essa ilusão que imaginou se dissolveu em sangue. Aquilo que era real, a dor, o desespero que ela estava sentindo naquele momento.
Começou a suar frio. Era óbvio que aquilo era obra da Presença, mas não fazia sentido. Será que isso tudo significava que poderia ser Marin no lugar de sua tia? Isso não parecia certo. Ela já havia passado tanto tempo sendo seguida por aquilo, mas nada nunca a encostara. O que a fez mudar de ideia? Por que ela cortaria o pescoço de sua tia?
Naquele momento a sentiu logo atrás de si e o medo de ser a próxima fez com que seu corpo tremesse. Quase conseguia sentir a cor deixando seu rosto enquanto se esforçava para fazer as pernas a obedecerem, mas elas haviam se tornado membros inúteis. Seus pés não saiam do chão.
Sem mais nada para fazer, fechou os olhos esperando o inevitável.
Muito tempo se passou com ela assim, mas, mesmo que quase desse para sentir a respiração fria em seu ombro, a sensação de perfuração que estava aguardando não veio. A Presença ainda se recusava a encostar um dedo na garota.
Aquilo a revoltou mais do que a aliviou. Por que? Por que ela mataria sua tia, mas deixaria a garota intacta.
A resposta veio como um sussurro em sua mente.
“Porque ela não matou sua tia. Você matou.”
Marin rapidamente dirigiu seu olhar para sua mão direita, que, por mais que tremesse descontroladamente, ainda segurava firmemente uma faca em sua mão.
A lâmina do objeto estava suja de um liquido escuro e grosso que a garota não precisava se esforçar muito para saber o que era.
“Você matou sua tia”
A menina deixou a arma cair no chão e soltou um grito. Não aguentava mais. Não aguentava mais nada daquilo.
Não podia ser isso. Por que ela mataria alguém? Por que? Por que?
Caiu no chão sobre seus joelhos e levou as mãos até o rosto para limpar as lágrimas que escorriam livremente. Mas seus dedos sujos de sangue apenas serviram para piorar a situação em que sua mente estava.
Logo atrás dela, ela sentia a Presença, ainda observando a cena. Marin já podia a imaginar rindo, como se tudo aquilo a entretivesse.
“Não olhe para trás” a voz em sua cabeça a alertou, mas ela não podia se importam menos.
Respirando fundo, ela se virou para o ser que a observara por todo esse tempo, se preparando para o que ela encontraria quando o visse.
Mas ao olhar para trás, tudo que pôde ver foi uma corda, que começava no teto e terminava acima da cabeça da menina. Do lado da corda, havia uma cadeira.
Encarou aquilo com confusão, até que tudo ficou claro novamente e sua mente se esvaziou pela primeira vez em meses.
“Isso tinha que acabar de algum jeito” foi tudo que pensou quando caminhou em direção à corda.
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Lar
HorrorMarin começava a pensar que havia algo de errado com ela. A casa era perfeita, não havia nada que fosse ruim. Nada que explicasse essa aversão que a garota cultivava desde o momento que entrou pela porta da frente...