Acordou ainda exausta. Se perguntou como havia conseguido dormir na noite anterior.
Levantou, sentindo os músculos do corpo doloridos e, mesmo que tivesse acabado de acordar, sentia seus olhos pesados, como se ela tivesse passado a noite em claro.
Demorou alguns minutos até que ela percebesse. Não sentia mais o frio em sua espinha que estava constantemente a seguindo nos dias anteriores. Ela se sentia sozinha no quarto. Sem presença nenhuma, sem ninguém. Finalmente sozinha.
Aquilo a alegrou, trazendo um novo ânimo a seu corpo cansado. Até dar o primeiro passo e sentir algo metálico cortando seu pé direito.
Sobressaltada, ela levantou o pé rapidamente, checando a sola para ver se o corte tinha sido muito profundo, mas, para sua surpresa, nada havia perfurado a pele.
Olhou para o chão, curiosa para saber no que tinha pisado. Lá, brilhando contra o piso amadeirado, havia uma chave de aparência antiga, que emitia um leve brilho bronzeado sob a luz da manhã.
Isso deveria tê-la alarmado, já que era uma prova concreta de que provavelmente suas paranóias estavam reais. Não era mais uma sensação ruim no peito, não era mais algo da sua cabeça.
Ela estava vendo, era real, estava logo em sua frente. A prova de que havia algo a perseguindo.
Mas mesmo com essa perspectiva em mente, ela se sentiu em paz vendo a ínfima chave descansando no chão de seu quarto. Em alguma parte de seu subconsciente, ela sentiu esperança, mas não entendia exatamente do que.
Pegou-a na mão, era mais leve do que Marin imaginava.
A garota aproximou o pequeno objeto dos olhos. Era cheio de detalhes desgastados e com aparência antiga. Algo naquela aparência lhe chamava a atenção, como se a própria chave fosse um esforço de seu cérebro para fazê-la lembrar de algo.
A olhou por mais alguns segundos, se perguntando o que aquela chave abriria. Alguma porta? Alçapão? Talvez aquela casa tivesse alguma sala secreta? Já não duvidaria de tal ideia naquele ponto.
Então, como uma sala se iluminando, ela se lembrou da caixa de fotos, mais especificamente, da caixa menor dentro dela. Trancada por anos, guardando seus segredos dentro de si. Trancada por anos por um velho cadeado bronzeado.
Aquilo, por algum motivo, parecia óbvio. Marin se envergonhou por não ter pensado na pequena caixa antes.
Sem se preocupar em tirar o pijama ou no café da manhã, ela saiu correndo de seu quarto, descendo os dois lances de escada até o porão.
Como da última vez, o primeiro passo em direção ao cômodo escuro foi um passo para longe da realidade. A garota engoliu em seco enquanto continuava a andar, se embrenhando cada vez mais nesse novo mundo.
Dessa vez estava sozinha e não havia nada que pudesse servir de iluminação. Nem um raio de sol adentrava aquele lugar, e ela achava que nunca nenhum já tinha adentrado. O ambiente estava mergulhado tão profundamente na escuridão que nem silhuetas eram visíveis.
Mas ela já previra isso, então, mesmo que a deixasse desnorteada, não era uma surpresa. Marin ligou a lanterna do celular que trouxera consigo e continuou andando.
Exatamente no centro da sala estava a caixa e fotos.
Se aproximou lentamente e sentou-se no chão ao lado da caixa. Algo naquele momento a fazia se arrepiar e seu coração martelava fortemente em seu peito. Cada batida dizia "É o fim". A garota não sabia se isso era bom ou ruim.
Suas mãos estavam tremendo quando finalmente decidiram procurar pelos pertences da caixa.
Cuidadosamente Marin tirou a caixa menor. Mesmo sob a fraca iluminação, ela continuava a mesma. Todos seus detalhes desbotados pareciam vivos para a garota e sua delicada beleza ainda a impactava.
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Lar
HorrorMarin começava a pensar que havia algo de errado com ela. A casa era perfeita, não havia nada que fosse ruim. Nada que explicasse essa aversão que a garota cultivava desde o momento que entrou pela porta da frente...