Eu foquei minha atenção nos feixes de luz espreitando entre as divisões da persiana, trazendo um pouco de sanidade para dentro do quarto. Minha cabeça doía, zonza com tantos cálculos, papéis e nomes complicados.
-Acho que preciso de açúcar- disse Jin, se espreguiçando lentamente antes de se deitar em minha cama de um jeito dramático. Ele já estava bem à vontade, o que eu não esperava acontecer tão cedo, já que ele é o tipo de cara que fica um pouco consciente demais em qualquer situação envolvendo pessoas do sexo feminino.
-Você acha que tá cansado? Eu é que tô ficando louca aqui.
-Mas eu nem comecei direito! Ainda temos toda a nomenclatura de sais e óxidos, pra depois finalmente entrar em cálculo estequiom...
-Nem começa a me assustar, ou eu vou te tacar uma geladeira!
-Ai meu deus, tudo menos uma surra por eletrodomésticos!- ele riu, se encolhendo. Eu revirei os olhos e me levantei, catando os papéis do chão e organizando em um pequeno monte antes de colocar tudo na minha estante. Em alguns momentos, senti uma pontada de culpa por me aproveitar assim do Jin, indo mal de propósito em química para conseguir passar algum tempo com ele. Mas apesar de essa ser a solução mais egoísta que ja tomei, não consigo pensar em mais nenhuma. E no fim das contas, o que pode dar errado? Caso ele descubra, o máximo que o farei sentir é pena, já que ele provavelmente não espera muita maturidade vindo de uma guria de dezessete anos. Não tenho nada a perder, só a ganhar.
-Então... acho que já vou indo, certo?- ele disse, se levantando e pegando seus pertences.
-Claro que não, nós vamos comer! Sam está trabalhando desde cedo então não tem nada comestível por aqui... por que não vamos pra uma lanchonete?- tentei soar o mais animada e convincente possível ao fazer a proposta que acabara de inventar.
-Hã... é... ok, então.
-Yes! Vamos em um encontro!
-O quê???- Jin quase gritou, com os olhos arregalados.
-Calma, é que você já me ajudou a tarde inteira nos assuntos que eu estou atrasada, então tenho que fazer algo por você também, né? Eu quero dizer, tipo... uma simulação de encontro. Quando você for chamar a Sam pra sair, vai saber exatamente o que fazer!- blefei, tentando soar natural e inocente. Ah, como odeio essa mania que tenho de falar o que penso. Na maioria das vezes, acabo tendo que mentir para justificar a idiotice que dissera antes.
Ele ponderou por um instante, me encarando fixamente nos olhos, para então finalmente relaxar a postura e rir.
-Você é bem engraçada, Isa. E descuidada também. Por exemplo, você não pensa duas vezes em deixar um cara entrar na sua casa enquanto está sem mais ninguém, e agora há pouco disse algo que poderia facilmente ser mal interpretado. Às vezes eu me preocupo com esse lado ingênuo seu...
-Como assim? Mas eu estou falando com você, e você é só... o Jin! Não tem problema.
-Claro que não, mas só por que sou eu, ok? De jeito nenhum faça isso com outros caras, certo?
-Certo!- eu disse obedientemente, tentando não criar expectativas.
***
Entramos na minha lanchonete preferida, cansados após atravessar o estacionamento a pé e subir dois longos lances de escada. Para a minha surpresa, Jin tem medo de elevador, o que é algo extremamente engraçado e fofo ao mesmo tempo, na minha opinião.
-Mas eu pensei que você tinha, tipo, ficado preso em um por horas, ou alguém da sua família tinha caído ou sei lá!
-Eu sei, não faz o mínimo sentido, mas eu realmente me traumatizei com aquele filme. Eu era pequeno, vai, pega leve comigo!- disse ele, andando em direção à mesa mais afastada, que por coincidência, era a minha preferida. Ficava perto de uma máquina de pelúcias, além de estar distante da televisão e do barulho. Jin puxou uma cadeira para que eu me sentasse, me surpreendendo com tal atitude. Eu sorri para ele com ar de aprovação.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Please, Teach Me?
Fiksi PenggemarO complexo e instável mundo dos relacionamentos sempre confundiu a cabeça de Jin, um jovem de vinte e três anos muito satisfeito em sua vida perfeitamente orquestrada. Mesmo contente com sua independência ao finalmente tornar-se professor de química...