Estopim- [Isa]

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-Alô?

-Oi gatinha.

-Que foi, Isabella?- eu ri com a voz irritada da Candy do outro lado da linha. Era incrível como seu tom de voz mudava completamente dependendo de quem estivesse ligando.

-Ai, precisa ser grossa comigo? Se fosse o Caio ligando você não ia falar assim com ele.

-Deus me livre e guarde de todo o mal, amém.

-Ei, o que aconteceu hoje naquela hora que ele te chamou pra ajudar ele a estudar???

-N-nada! Só estudamos. Não tive muita escolha a não ser ajudar o pobre coitado né... fazer o que.

Pelo jeito com o qual ela me descreveu a situação, tudo correra provavelmente bem. E pelo que eu consegui bisbilhotar mais cedo, eles estavam na maior paz e harmonia, o que é totalmente incomum se tratando daqueles dois. Não demoraria muito até que um deles se cansasse de fingir e tomasse uma atitude.

-Perfeito...

-Não me diga que você ainda tem aquela ideia na cabeça. Isabella. Não.

-Não se pode julgar o sonho de um homem! Me deixe ter esperanças, ao menos. Eu adoraria ser madrinha dos filhos de vocês.

-Falou a tarada por professor.

-Q-que???- precisei me agarrar com toda a força aos cobertores da cama para não cair.

-Como andam as coisas com o teu ex vizinho barra professor barra objeto de interesse?

-Candy, eu não sei o q-que... eu não... olha você está entendendo tudo errado- tentei ao máximo estabilizar meu tom de voz. Candy é uma menina esperta, eu deveria ter tomado cuidado com ela por perto. Se ela não fosse minha amiga próxima, eu não poderia ter segurança nenhuma a essa altura. Se um rumor como esse se espalhasse, seria o fim da reputação do Jin na escola, e talvez o fim do emprego dele também. E a culpada por tudo isso, eu. Não era possível resumir em palavras o tamanho da preocupação que eu estava sentindo, ou o frio devastador percorrendo meu corpo, me fazendo tremer.

-Eu não sou cega, menina. Da pra ver que você gosta dele. Você presta atenção em cada passo que ele dá, e você nem gosta de química! Foi estranho ver você do nada começar a se interessar nas aulas, anotar as coisas, foi como se você estivesse... se esforçando!!! Que louco...

-Só por que eu estudo para uma matéria, significa que estou afim do professor. Que belíssima lógica você tem aí...

-Não estamos falando de qualquer professor. Ora, é o Jin! Ele é uma delicia, vai, vinte e tres aninhos, sotaque fofo, acho que até eu iria...

-IRIA??? Iria?! Cala a boca, você tem o principezinho da sala na sua cola e finge que não tá nem aí!!!- tentei mudar o foco da conversa, antes que o que ela viesse a dizer pudesse me deixar ainda mais desconfortável.

-Principezinho??? Quem???

-Caio. Sua otaria. Para de fingir que não tá entendendo.

-Espera, vocês acham o Caio bonito?! AS PESSOAS ACHAM O CAIO BONITO?!!!

-Todo mundo sabe que o Caio é lindo, MENOS VOCÊ! SUA ANTA!

-Eu não estou acreditando no que estou ouvindo. Isso com certeza é alguma tentativa de lavar meu cérebro. Vou desligar. Tchau.

Com o som da linha já interrompida, me senti aliviada. Soltei um longo suspiro, antes de me ajeitar em cima da cama novamente, e só então percebi o quão tensa estive durante toda a ligação, desde que Candy mencionara o Jin. Eu sabia que a situação estava fora do controle, mas ao mesmo tempo, já era tarde demais para simplesmente fingir que não tinha muita importância. No momento em que pensei que seria divertido interferir na vida amorosa da Sam, eu já suspeitava de que poderia me dar mal. Desde que éramos pequenos, Jin fez de tudo para chamar a atenção dela. E eu sempre fiz de tudo para chamar a dele. Chega a dar pena, uma "pirralha" apaixonada pelo futuro namorado da própria irmã. Conheço os dois, e sei que Sam também tem interesse nele, e é apenas uma questão de tempo até que eles consigam se "encontrar" nesse aspecto. E eu vou apenas ter que assistir tudo, sem me sentir feliz pela felicidade deles.

***

Ouvi o som da campainha, e a julgar pelo som usual e suave da mesma, soube que era o Jin. Quando Sam chega, ela normalmente aperta o botão o máximo de vezes possível, acompanhando o ato com alguns gritos e batidas fortes na porta. Destranquei a mesma, dando de cara com a figura esbelta do meu professor, que sorria animadamente. Meu coração apertou quando me dei conta de que essa talvez fosse uma das ultimas vezes em que teríamos esse tipo de encontro. As provas estavam se aproximando, e nas últimas semanas já havíamos revisado quase todos os assuntos nos quais eu supostamente sou fraca. Não é como se eu fosse boa neles, mas sou capaz de passar com notas acima da média.

-Oi!

-Oi nada, vamos entrando. Tem muito assunto pra ver hoje.

-É assim que eu gosto.

***

Após algumas horas de exercícios e revisões, terminamos tudo que estava programado para hoje. Graças a minha dedicação súbita, consegui agilizar bastante. Jin pareceu notar que eu estava mais concentrada, por que me elogiou incontáveis vezes durante o processo. Talvez fosse minha impressão, mas ele estava um pouco mais alegre que o de costume.

-Aconteceu algo bom hoje?

-Hã?

-Você tá mais pra cima, acho.

-Não, não teve nada- disse ele, parecendo realmente se esforçar em lembrar se algum evento recente havia mudado seu humor.

-Hmm... Ok, então terminamos por aqui. Você já vai agora, né?

-Ah, eu pensei que iríamos demorar mais hoje então estou livre.

-Está livre? Isso é ótimo. Sam vai chegar daqui a uns trinta minutos- chequei o relógio da parede, e estava no horário. Tinha terminado de estudar bem a tempo de tudo, como planejado.

-Legal! Então podíamos fazer algo juntos, o que acha?

-Acho perfeito. Bom, eu já tenho que sair, então você pode tomar conta da casa até ela chegar?

-Espera, você não vai ficar?

-Claro que não, é uma bela oportunidade pra vocês ficarem sozinhos. E eu tenho compromisso.

-Ah... com quem?

-Adam- eu sorri, olhando diretamente nos olhos dele.

-Hmm. Se divirta, então- disse ele, em tom baixo, parecendo desconfortável.

Respirei devagar tentando conter minha raiva. É extremamente frustrante ver como o Jin se importa com a minha vida, ainda mais quando todo o seu entusiasmo some em um piscar de olhos ao simplesmente mencionar o meu namorado. Essa é a hora em que ele deveria me encorajar, ou dar avisos sobre as intenções dos garotos de hoje em dia, talvez fazer uma piada ou duas. Agir como um pai, ou um tio. Mas ele simplesmente se comporta como se estivesse na posição de se sentir incomodado com isso, como se fosse um amigo, alguém da minha idade. E isso me estressa. Ele não deveria ser mais maduro? Essa atitude ingênua torna tudo ainda mais difícil pra mim, me fazendo criar expectativas.

-Te vejo na escola então. E não toque na Sam! Ainda.

-Não irei- ele riu, me acompanhando até a porta.

Ao pisar do lado de fora, inspirei fundo e reuni toda a minha coragem para o que iria fazer em seguida.

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