Sua Voz- [Isa]

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Viver sozinha com a minha irmã nunca foi uma tarefa tão sufocante. Tinha que me policiar para não rir, ou gritar na frente dela, já que qualquer vestígio de felicidade fora do normal já deixava ela em estado de alerta. E esse tipo de euforia que eu estava sentindo não era algo simples de encobrir com qualquer motivo esfarrapado- ela sabe muito bem o que me deixa animada, e criar uma mentira elaborada demais só daria mais trabalho ainda depois. Obviamente, ela ficaria sabendo mais cedo ou mais tarde, isso é, caso isso dure, seja lá o que "isso" signifique. Também não posso me dar o luxo de criar expectativas, não tenho certeza de nada no momento.
Mesmo com todos os esforços para manter a compostura, percebia que estava sorrindo em momentos aleatórios, ou distraída relembrando o que acontecera.

Meu celular tocou, e era ele, de novo.

-...Oi

-Que foi?

-Como assim "que foi"?

Suspirei. Conseguia imaginar a cara que ele estava fazendo só pelo tom de voz.

-Você me ligou do nada...

-Mas não era nada mesmo, só queria ouvir sua voz...

-M-meu deus!

-Disse algo errado?- ele falou preocupado, e eu ri de nervoso. Incrível como essa honestidade e simplicidade sempre me pegavam de surpresa, mesmo que eu saiba exatamente como Jin é.

-Não se diz esse tipo de coisa assim... quero dizer, às v-vezes é bom dizer, mas... aaaah!

A risada dele do outro lado da linha me deixou ainda mais nervosa. Por acaso ele gosta de fazer esse tipo de coisa comigo? Estou começando a achar que ele não é tão inocente quanto parece.

Houve uma longa pausa na ligação, e por um momento achei que tivesse caído. Suspirei mais uma vez. Ultimamente parecia que nem toda a quantidade de oxigênio do mundo era capaz de me acalmar. Desde o que aconteceu ontem, tenho estado no limite, e não sei o que aconteceria se essa coisa dentro de mim transbordasse. Estava tão feliz que queria gritar isso para o mundo inteiro, mas ninguém poderia saber ou tudo seria estragado.

-...eu te amo.

Nessa hora ouvi o barulho familiar dos passos de Sam vindo até o meu quarto, na iminência de abrir a porta e desliguei o telefone com força, e senti meu rosto queimar.

-Tudo bem aí? O jantar tá pronto.

-É mesmo? O que você pediu hoje? Pizza?

Sam fez um biquinho, mexendo no meu guarda roupa como se não procurasse nada em específico- ela apenas gostava de fazer isso.

-Pizza de brócolis. Mais saudável, acho. Pelo menos tem vegetais.

Sorri para ela, tentando não transparecer nenhuma das emoções gritantes dentro de mim.

-Está feliz? Você adora brócolis, né?

-Sim! Obrigada, Sam.

Ela saiu do quarto, radiante, sem desconfiar que o motivo da minha alegria não tinha nada a ver com a comida.

***

-Fala aí o que aconteceu.

-...desculpa, o que você disse?- Candy tirou meus fones e chegou bem perto, como se inspecionasse todos os meus pensamentos. O jeito que ela me olhava dava a entender que ela sabia de todos os meus mais obscuros segredos, que eu não tinha nada a esconder.

-Vem cá, você acha que eu sou otária? Você tá viajando aí desde cedo, sem prestar atenção em nada, e eu sei que é normal você não prestar atenção em nada, nas nesse caso você tava sorrindo que nem uma retardada, olhando pro ar! Acha que eu não percebi? Tem certeza que não tem nada para me contar?

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